A violência no namoro apresenta algumas características únicas em relação a outras formas de violência contra a mulher (Wekerle et al, 2009). Sua característica fundamental que a diferencia é o fato de que não há coabitação entre perpetrador e vítima das agressões (Centers for Disease Control and Prevention, 2007). Outro fator característico é um maior número de parceiros com que os adolescentes mantêm relacionamentos em diferentes momentos, bem como com o curto espaço de tempo que estes laços duram (Foshee et al, 2011). Dessa forma, relacionamentos com maior duração e em que os parceiros residem juntos tem maior chances de acionar as ferramentas de proteção (Foshee et al, 2011).
A maior porcentagem das pesquisas sobre prevenção da violência no namoro encontra-se focada na adolescência, isso se deve ao fato de que programas de prevenção nessa etapa do desenvolvimento têm um maior número de consequências positivas para a vida adulta dos participantes. Entre os resultados positivos estão a aquisição de comportamentos mais adequados para um relacionamento saudável e melhor repertório de resolução de problemas que se estende para outras áreas da vida além dos relacionamentos amorosos (Miller et al, 2012).
Tal como outras formas de violência, a violência no namoro pode ocorrer de três formas: física, psicológica e sexual. Uma modalidade de violência no namoro que tem tido maior destaque nas pesquisas com o advento das tecnologias é o stalking (Baum, Catalano & Rand, 2009) que envolve a perseguição e o assédio de outra pessoa causando medo ou dano físico, além de incluir a necessidade do controle sobre a vida social do parceiro em todos ambientes independentemente da presença física do perpetrador da violência. Além disso, ela pode incluir o uso das tecnologias, como celulares, internet e outros meios eletrônicos para controlar ações do parceiro, mesmo que a distância (Baum, Catalano & Rand, 2009). A consequência mais importante é o fato de que dificilmente a pessoa que é vítima de stalking conseguirá ajuda, pois todos os locais e formas de contato social que possui são monitoradas e controladas por seu parceiro. Essa impossibilidade torna o stalking um facilitador para outras formas de violência, pois dificilmente uma rede de proteção será acionada nesses casos.
Falar em violência no namoro significa também falar de uma forma de violência contra a mulher. Neste caso, jovens mulheres que estão iniciando suas vidas amorosas em situações de risco e sofrimento. Os diferentes programas de prevenção que possuem o foco na adolescência são os que possuem a maior atenção dos pesquisadores e dos programas de saúde, pois inibem comportamentos inadequados no início da vida amorosa e fornecem oportunidades para o surgimento de comportamentos alternativos à violência (Center for Disease Control and Prevention, 2007). Nos Estados Unidos, cerca de 5% das mortes violentas de mulheres entre 12-17 anos de idade são perpetradas pelo parceiro, sendo que essa taxa sobe para 24% quando se trata da faixa etária entre os 18 e 24 anos. Podemos inferir que a prevenção da violência no namoro pode, sem dúvidas, evitar violências mais graves futuramente.
Segundo Miller et al (2012), a prevenção deve ter como alvo crenças e comportamentos danosos, bem como o ambiente em que esses estão inseridos, buscando a modificação não somente das crenças em relação a violências, mas sim uma mudança comportamental, sendo essa, uma maneira reconhecida de se trabalhar em Saúde Pública e um dos alvos da Organização Mundial de Saúde.
Segundo Foshee et al (2011), não é possível prevenir somente uma das formas de violência no namoro, uma vez que todas compartilham fatores de risco e proteção. A situação ideal seria ensinar a lidar com todas as situações potencialmente agressivas, ou seja, um ensino de resolução de problemas sociais poderia resultar em uma forma mais efetiva com essa realidade. Dessa forma, a violência no namoro é uma área que necessita de maiores investigações sobre o fenômeno e formas de prevenção, em especial em nossa sociedade.
Para saber mais:
Baum, K., Catalano, S., & Rand, M. (2009). Stalking Victimization in the United States. Bureau of Justice Statistics – Special Report, 1-16.
Center for Disease Control and Prevention. (2007). Dating abuse fact sheet. National Center for Injury Prevention and Control: Washington, DC.
Davis, A. (2008). Interpersonal and Physical Dating Violence among Teens. Focus: Views from the National Council on Crime and Delinquency, September, 1-8.
Foshee, V. A., Reyes, H. L. M., Ennett, S. T., Suchindran, C., Mathias, J. P., Karriker-Jaffe, K. J., Bauman, K. E. & Benefield, T. S. (2011). Risk and protective factors distinguishing profiles of adolescent peer and dating violence perpetration. Journal of Adolescent Health, 48, 344-350.
Miller, E., Tancredi, D. J., McCauley, H. L., Decker, M. R., Virata, M.C.D., Anderson, H. A., Stetkevich, N., Brown, E. W., Moideen, F. & Silverman, J. G. (2012). “Coaching Boys into Men”: A cluster-randomized controlled trial of a dating violence prevention program. Journal of Adolescent Health, 51(5), 431-438.
Wekerle, C., Leung, E., Wall, A., MacMillan, H., Boyle, M., Trocme, N. & Waechter, R. (2009). The contribution of childhood emotional abuse to teen dating violence among child protective services-involved youth. Child Abuse & Neglect, 33, 45-58.