IRAP e Atitudes Implícitas
Em que você realmente acredita? Uma breve explicação sobre Atitudes Implícitas e IRAP
Não existe cura para o vício em cocaína, mas há uma série de intervenções terapêuticas que podem ser eficazes no tratamento da dependência.
Em muitos casos, são as informações coletadas pela equipe médica em relação aos dados clínicos do paciente que determinarão o formato da intervenção. Entretanto, por mais cuidadosa e experiente que seja a equipe avaliadora, não existem maneiras de prever o resultado da intervenção ou mesmo de prever a adesão do paciente ao tratamento.
Imagine então a importância de um teste que pudesse prever quais pacientes adictos teriam melhor resposta terapêutica dentro de um determinado protocolo de tratamento. Segundo um artigo da Revista Americana “ The Americam Journal of Drug and Alcohol Abuse”, isto é possível. O estudo, publicado no começo do ano, foi conduzido pelo professor Dermot Barnes-Holmes, considerado um dos pesquisadores de maior importância na área da Teoria dos Quadros Relacionais.
A pesquisa foi realizada no centro de pesquisas do Instituto de Psiquiatria da Universidade Estadual de Nova York e envolveu a participação de um grupo de 25 dependentes em cocaína que haviam sido inscritos em um programa de tratamento ambulatorial com duração de 6 meses.
Antes do início do tratamento, os participantes responderam a um questionário sobre seu grau de dependência por cocaína e as possíveis consequências do vício. Eles também foram solicitados a completar dois testes implícitos, o IRAP e o Drug Stroop Protocol, que medem o tempo de reação do participante a determinados estímulos.
O estudo pesquisou a relação entre o resultado do tratamento e os resultados das avaliações e questionários.A primeira conclusão foi que o resultado do questionário teve baixo valor preditivo em relação à adesão ao tratamento pelo participante e em relação aos resultados da intervenção.
Por outro lado, através dos resultados do IRAP, foi possível prever quais participantes do grupo seriam mais fiéis ao tratamento, com menos faltas e recaídas e, consequentemente, com maior possibilidade de sucesso terapêutico.
Os pesquisadores concluíram então que mesmo que os participantes estivessem completamente cientes dos danos causados pelo uso da cocaína, a força e a frequência das atitudes implícitas relacionando consequências positivas ao uso da cocaína antes do tratamento, foi diretamente relacionada com piores respostas terapêuticas, incluindo recaídas e abandono do tratamento. Por outro lado, quanto mais frequente foram as respostas implícitas relacionando o uso da cocaína com consequências negativas, mais bem sucedido foi o tratamento.
As Atitudes implícitas são definidas como atitudes (pensamentos, sentimentos e crenças) que não são prontamente capturadas pela introspecção ou que não estão sujeitas ao auto controle (Greenwald & Banaji, 1995). São construídas por meio da aquisição de funções avaliadoras positivas ou negativas através tanto de contingências diretas, como via transformação de função derivada (Hughes et al, 2010)
O procedimento aplicado nos participante se chama IRAP (Implicity Relational Assessment Procedure) e tem como objetivo identificar as atitudes implícitas por meio de um teste que exige que o participante responda de forma rápida e precisa de maneira consistente ou inconsistente em relação a sua história de aprendizagem.
Por exemplo, durante o teste, o participante é obrigado a responder “FALSO” à sentença “com cocaína – me sinto poderoso”; e, em outro momento, “VERDADEIRO” à sentença “sem cocaína – me sinto poderoso”.
Parte-se do pressuposto de que os participantes terão mais fluência – e maior velocidade de resposta – nas tentativas onde a sentença e a resposta exigida estiverem de acordo com sua história de aprendizagem. Assim como espera-se que as latências das respostas sejam maiores para os padrões de resposta inconsistentes com as relações verbais anteriormente estabelecidas.
Dessa forma, história de contingências e contexto determinarão os blocos onde o participante terá maior fluidez de resposta. E o efeito IRAP será calculado a partir da diferença entre o tempo das respostas emitidas nos blocos consistentes e inconsistentes.
A teoria por trás do conceito de Atitudes Implícitas baseia-se na principal premissa da Teoria dos Quadros Relacionais: a linguagem e a cognição são de natureza relacional (Barnes-Holmes, Barnes -Holmes, Stewart, & Boles, 2010).
As respostas relacionais, como todo comportamento, se desdobram ao longo do tempo e o responder relacional pode ser dividido em respostas breves e imediatas ou estendidas e elaboradas. Assim, diante de um estímulo, uma resposta relacional pode ocorrer de forma breve e imediata e ser seguida por respostas relacionais adicionais (estendidas e elaboradas). Com tempo suficiente, essas respostas adicionais formam uma rede coerente relacional, cujo subproduto pode ser uma resposta aberta (explícita) totalmente diferente da atitude implícita.
De acordo com o modelo, o efeito comportamental capturado por auto avaliações e procedimentos indiretos supostamente refletem o funcionamento do mesmo processo comportamental (responder relacional) operando sob controle de duas condições totalmente distintas: como a presença ou a ausência da pressão temporal.
O objetivo do IRAP é justamente capturar as primeiras respostas relacionais emitidas pelo participante, mesmo que estas não sejam consistentes com as respostas explícitas e investigar de que forma essas respostas podem predizer o comportamento explícito.
Alguns dos estudos já realizados com o IRAP envolvem atitudes implícitas acerca da homossexualidade (Cullen, C., & Barnes-Holmes, D., 2008). e obesidade (Roddy, S., Stewart, I., & Barnes-Holmes, D. (2010). Outros abordaram a depressão, (Hussey, I., & Barnes-Holmes, D. ,in press) o transtorno obsessivo compulsivo, a fobia específica (Nicholson, E., & Barnes-Holmes, D., 2012), entre outros.
Mais estudos precisam ser realizados até que se possa concluir que o IRAP tem valor preditivo ou pode ser usado como uma ferramenta de avaliação. Ainda assim, o IRAP é fruto dos muitos avanços alavancados pela evolução da Teoria dos Quadros Relacionais. Teoria esta que inevitavelmente desafia o Analista do Comportamento a explorar novas possibilidades de análise e aprofundar-se no conhecimento da linguagem e cognição.
Referências Bibliográficas
Barnes-Holmes, D., Barnes-Holmes, Y., Stewart, I., & Boles, S. (2010). A sketch of the Implicit Relational Assessment Procedure (IRAP) and the Relational Elaboration and Coherence (REC) model.The Psychological Record, 60, 527-542
Roddy, S., Stewart, I., & Barnes-Holmes, D. (2010). Anti-fat, pro-slim, or both? Using two reaction time based measures to assess implicit attitudes to the slim and overweight. Journal of Health Psychology, 15, 416-425
Cullen, C., & Barnes-Holmes, D. (2008). Implicit pride and prejudice: A heterosexual phenomenon? In T. G. Morrison & M. A. Morrison (Eds.), Modern Prejudice (pp. 195-223). New York: Nova Science.Hussey, I., & Barnes-Holmes, D. (in press).
The IRAP as a measure of implicit depression and the role of psychological flexibility. Cognitive and Behavioral PracticeNicholson, E., & Barnes-Holmes, D. (2012). Developing an implicit measure of disgust propensity and disgust sensitivity: Examining the role of implicit disgust- propensity and -sensitivity in obsessive-compulsive tendencies. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry (available on-line 16 February, 2012)
Parling, T., Cernvall, M., Stewart, I., Barnes-Holmes, D., Ghaderi, A. (in press). Using the Implicit Relational Assessment Procedure to compare implicit pro-thin/anti-fat attitudes of patients with anorexia nervosa and non-clinical controls. Eating Disorders: The Journal of Treatment and Prevention
Nicholson, E., & Barnes-Holmes, D. (in press). The Implicit Relational Assessment Procedure (IRAP) as a measure of spider fear. The Psychological RecordRoddy, S., Stewart, I., & Barnes-Holmes, D. (2010). Anti-fat, pro-slim, or both? Using two reaction time based measures to assess implicit attitudes to the slim and overweight. Journal of Health Psychology, 15, 416-425