* Trabalho apresentado na disciplina de Estratégias de Intervenção em Terapia Comportamental da I Turma do Curso de Fundamentos em Terapia Comportamental promovido pelo InPA – Instituto de Psicologia Aplicada.
Autora: Juliana de Brito Lima
Ao tratar de aprendizagem, a Análise do Comportamento apresenta alguns procedimentos em que é possível se estabelecer um novo comportamento, seja a partir da modificação gradual da resposta ou do estímulo. É neste contexto em que vem à discussão técnicas comportamentais como o esvanecimento, que será apresentada neste trabalho.
Esvanecimento, ou Fading, trata-se de um procedimento em que um comportamento que ocorre em uma situação também passa a ser emitido em outra situação a partir da mudança gradual do estímulo, da primeira para a segunda ocasião (LUNDIN, 1977). Em outras palavras, é o nome dado à transferência gradativa do controle de um estímulo para outro, de modo que, ao longo de repetições sucessivas, possa se obter a mesma resposta a partir de um estímulo modificado parcialmente ou mesmo de um estímulo novo.
Conforme Whaley e Malott (1980), o esvanecimento pode ocorrer por dois meios: ao serem acentuadas as características de uma das situações-estímulo, introduzindo características do estímulo gradualmente (Fading in) e também ao se remover ou atenuar características de um estímulo ou situação (Fading out). Ambos os termos podem ser descritos, respectivamente, como “esvanecimento através da introdução gradual de estímulos” e “esvanecimento através da remoção gradual do estímulo”.
Martin e Pear (2009) defendem que o esvanecimento veio trazer uma nova concepção sobre a aprendizagem, que anteriormente preconizava que era necessário haver erros para que os sujeitos pudessem discriminar o que não deveriam fazer. Com o esvanecimento, foi possível demonstrar a transferência de uma discriminação, sem erros, fato que confere algumas vantagens, como a rapidez na aprendizagem (uma vez que erros consomem um tempo considerável no método “ensaio-e-erro”).
Para que o esvanecimento seja eficaz, alguns cuidados devem ser considerados. O estímulo final desejado (aquele estímulo que deverá evocar o comportamento no final do procedimento) deverá ser escolhido com cautela, certificando-se de que a ocorrência da resposta diante deste poderá ser mantida no ambiente natural do sujeito. Ou seja, é necessário que o profissional tenha a garantia de que, ao final do procedimento, o último estímulo apresentado evoque corretamente a resposta, além do fato de que esta resposta tenha probabilidade de ser mantida no contexto natural do sujeito, treinando o aprendiz até a etapa final, diante do estímulo final desejado.
Outros fatores que influenciam na eficácia do esvanecimento são: a necessidade de reforçar positivamente os acertos, a freqüência das repetições, a escolha das etapas e o uso de deixas (MARTIN e PEAR, 2009). O uso de reforço positivo é justificado pelo fato de que este é eficaz no que tange a aprendizagem de um comportamento novo, pois aumenta a probabilidade de ocorrência futura. Quanto às repetições e etapas, sabe-se que, tal qual na modelagem, é necessário repetições do procedimento, a fim de que o comportamento seja emitido com forte controle de estímulos, evitando-se o erro. O profissional deve estar atento ao ritmo da aprendizagem do sujeito envolvido, para que discrimine o momento e a velocidade de esvanecimento de estímulos. Caso o sujeito emita erros, deve-se voltar às etapas anteriores e treinar novamente a resposta.
Quanto às deixas, estímulos introduzidos para tornar mais provável a emissão do comportamento desejado, Martin e Pear (2009) classificam-nas e estabelecem regras para que as mesmas sejam eficazes. Alguns exemplos de deixas são as físicas, verbais, gestuais, de imitação e ambientais.
As deixas físicas incluem a ajuda física ao aprendiz (o exemplo da professora que esvanece a pressão sobre a mão de uma criança que aprende a escrever), já as gestuais dizem respeito a movimentos ou gestos que o instrutor faz para indicar a resposta, sem no entanto tocá-lo (quando, por exemplo, este ensina as partes do corpo). Por sua vez, as deixas de imitação incluem a demonstração do comportamento correto (um exemplo é quando o instrutor ensina a criança a limpar-se, demonstrando em seu próprio corpo); as verbais referem-se a dicas (quando, no exemplo anterior, se ensina uma criança a limpar-se a partir de verbalizações, como “agora passe o sabonete pelo corpo”). Já as deixas ambientais se referem a modificações no ambiente para que este seja mais propício à emissão do comportamento desejado, como quando o “concurseiro” organiza seu quarto de estudo deixando acessíveis apenas estímulos relacionados ao estudo das matérias, o que aumenta a probabilidade de um estudo coerente com o objetivo.
Qualquer que seja a deixa utilizada, deve-se ter o cuidado quanto às repetições e as suas apresentações, uma vez que isto pode causar dependência excessiva no aprendiz, de modo que este pode dar menos atenção à ela com o passar do tempo. Assim, para o sucesso do procedimento, à medida que o comportamento for sendo aprendido, as deixas devem ser esvanecidas, em velocidade tal que se evite a emissão de erros.
Caballo (1999), ao descrever o esvanecimento, emite comparações com a modelagem. Assim, verifica-se que o esvanecimento mantém semelhanças com a modelagem: quanto ao procedimento gradual (do estímulo, no esvanecimento; da resposta, na modelagem), uso de reforço a cada resposta (diante da modificação do estímulo) e também quanto ao pré-requisito de se haver um comportamento para o início do procedimento (no caso do esvanecimento, é necessário que haja um comportamento sob controle discriminativo para que seja mudado no controle de uma nova dimensão de estímulo; já na modelagem seria necessário haver um comportamento inicial para que este pudesse ser modelado).
Quanto à aplicabilidade da técnica, observa-se o seu uso desde o cotidiano até situações clínicas. Em muitas situações diárias em que há o ensino de um comportamento para outra pessoa observa-se o uso do esvanecimento, como quando o pai auxilia uma criança a andar de bicicleta (utilizando deixas físicas, por exemplo) ou quando a professora assessora o aluno a escrever letras e palavras, utilizando pontilhados mais próximos, aumentando aos poucos o espaçamento entre eles, após várias repetições e conseqüentes reforçamentos, a fim de que o aluno possa discriminar e aprender a escrever o objeto.
Ademais, Martin e Pear (2009) descrevem aplicabilidades clínicas deste procedimento, como situações de aprendizagem em programas com pessoas que apresentam déficits no desenvolvimento e autismo, além de crianças pequenas. Usa-se o esvanecimento na implementação do repertório da pessoa com autismo ou criança ao ensiná-la o seu nome, o nome dos objetos, e a execução de atividades de vida diária (AVD’s), entre outros.
Referências
CATANIA, A.C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.
MARTIN, G.; PEAR, J. Modificação de comportamento: o que é e como fazer. 8 ed. São Paulo: Roca, 2009.
LUNDIN, R. W. Personalidade: uma análise do comportamento. São Paulo: EPU, 1977.
WHALEY, D.; MALOTT, R.W. Princípios elementares do comportamento. Vol.1. São Paulo: EPU, 1980.