Pensando a corrupção como prática cultural

Olá leitores do comporte-se! O post de hoje é sobre um tema que muito me interessa, ainda mais se for para relacioná-lo à Análise do Comportamento: a corrupção! Cito, de início, meus alunos que fizeram um ótimo seminário acerca do tema, Costa e cols. (em citação oral, 17 de dezembro de 2011), e me deram inspiração para escrevê-lo para vocês hoje.


Primeiramente, é preciso definir o que é exatamente essa palavra tão debatida no Brasil e infelizmente tão presente quando o assunto é política.

De acordo com o site mundoeducação.com, corrupção vem do latim corruptus, que significaria quebrar em pedaços. O verbo corromper significaria tornar pútrido. Assim, ser corrupto pode significar “quebrar” o poder pra obter vantagens de forma ilícita, ou seja, agir contra a lei para benefício próprio. Ao analisar a origem da palavra, é possível observar que a corrupção poderia estar presente em atos corriqueiros dos brasileiros, como imprimir textos pessoais nos locais que trabalhamos sem o conhecimento da chefia ou mesmo ao passar à frente em uma fila. Essas práticas de se beneficiar ilicitamente por meio de favores encontram respaldo na denominada cordialidade, conceito definido por Buarque de Holanda (1936) como sendo parte da personalidade do brasileiro, que em linhas gerais, pode ser entendida como o tratamento privilegiado aos amigos e conhecidos. A cordialidade está vinculada ao conceito de patrimonialismo, existente desde os primórdios da história do Brasil, em que predomina a ideia de que as relações estabelecidas em âmbito privado se estendem ao domínio público.

Geralmente, entretanto, essa palavra é muito mais usada para designar ações de políticos que cometem crimes de desvios de dinheiro público ou outras formas de ganho de dinheiro ilícito. Talvez porque assumir que nossos atos corriqueiros sejam comportamentos de corrupção seja aversivo demais, o que ocasionaria o comportamento de fuga, que seria o de só denominar corrupção quando o ato está relacionado a atos políticos. Ou talvez porque o controle exercido pela corrupção política é muito grande. Vejamos por que:
Skinner fala em prática cultural em 1953, definindo-a como uma prática de grupo que produz um efeito sobre ele modificando o comportamento individual dos seus membros. Assim, a configuração de uma prática cultural está na repetição dos comportamentos por um determinado grupo e no efeito em comum que mantém esses comportamentos. A corrupção, a partir do apresentado no parágrafo acima, pode ser definida como uma prática cultural.
Essa prática vem ganhando bastante atenção dos brasileiros. Nos feriados nacionais de Independência e Proclamação da República de 2011, houve marchas contra a corrupção política em várias capitais do Brasil. Recentemente, começou uma minissérie global que apresenta a história de um presidente que luta contra as irregularidades na vida política do país. A nossa presidente atual vem ganhando popularidade pela forma como vem lidando com as denúncias de corrupção em seus ministérios. Há algum tempo que já não se aceitam práticas ilícitas de conseguir um “emprego” nas repartições públicas sem que isso seja motivo para repercussões populares de insatisfação.
Contracontrole, de acordo com Skinner (1953) é o ato de um indivíduo ou um grupo controlado se opor ao controle e escapar dele, seja por meio de comportamentos de fuga ou por comportamentos punitivos, como forma de diminuir o controle. Assim, contracontrole seria qualquer comportamento por parte do controlado que venha a reduzir o controle aversivo. Quando há estimulação aversiva, quaisquer desses comportamento são reforçados. Nesse sentido, as tentativas dos brasileiros de conhecer o que é corrupção, ser contra essas práticas e pedir uma maior fiscalização, podem ser compreendidas a partir da noção de contracontrole.
Skinner (1953) afirma ainda que o controle é mais poderoso quando realizado por duas ou mais pessoas que manipulam variáveis que produzem um efeito em comum sobre o comportamento. Ao dissertar acerca da agência controladora do governo, esse autor deixa claro que esse seria um controle poderoso, por ser realizado por um grupo de pessoas que estão no governo. Poder-se-ia falar ainda de contingências comportamentais entrelaçadas em alguns casos divulgados pela mídia em que há um grupo agindo conjuntamente para desvios de dinheiro. Ou seja, o comportamento de um poderia servir de ambiente pro comportamento do outro produzindo o ganho do grupo com o dinheiro ilícito.

Ora, se o controle aversivo das práticas de corrupção de um governo é mais forte porque é realizado a partir de um entrelaçamento de comportamentos, a população brasileira unindo-se como vem fazendo já há algum tempo, é capaz de produzir um contracontrole eficaz e diminuir a prática cultural da corrupção. Assim foi a lei da ficha limpa, lei que impediria a candidatura de políticos condenados por um tribunal. E assim estão sendo as marchas contra a corrupção. Fica aqui o ensejo de que nossas práticas de contracontrole à corrupção se desenvolvam ainda mais.
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Escrito por Elayne Nogueira

Psicóloga clínica e professora de Análise do Comportamento. Ministra as disciplinas da área na FATECI - Faculdade de Tecnologia Intensiva - Fortaleza - CE. Atende aos públicos adulto, infantil e grupo, atuando também com Orientação de Pais. Mestre em Ciências do Comportamento pela Universidade de Brasília - UnB - e graduada em psicologia pela Universidade Federal do Ceará. Foi fundadora da Liga do Comportamento - UFC. Escreve e pesquisa na área de práticas culturais, metacontingências, relações sociais e análise do comportamento, política e análise do comportamento e condução da clínica infantil.

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