A prática do Analista do Comportamento é quase toda fundamentada em dados coletados sistematicamente desde seu primeiro contato com o cliente. Através destes dados, o profissional pode identificar e descrever aqueles comportamentos que serão trabalhados em terapia (comportamentos-alvo), suas possíveis causas, selecionar estratégias de tratamento adequadas e avaliar os resultados de suas intervenções.
A coleta de dados tem início na
Fase de Triagem ou
Entrevista Inicial, que é quando são coletados dados gerais como nome, idade, endereço, estado civil, religião, motivo pelo qual o cliente busca terapia (ajudar a identificar o comportamento alvo), entre outros.
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Pesquisador coletando dados na clínica de Psicologia. |
Na fase seguinte – a Linha de Base -, o Terapeuta avalia o comportamento alvo com relação a sua frequência, controle de estímulos, topografia e possíveis consequências reforçadoras antes que seja feita qualquer intervenção. Na fase de Tratamento, a coleta de dados continua, a fim de verificar se o programa adotado está ou não sendo eficiente e orientar possíveis mudanças ou tomadas de decisão. O mesmo se aplica à fase seguinte, chamada Fase de Acompanhamento e todo o andamento da terapia.
Em muitas situações o Analista do Comportamento não pode observar diretamente o comportamento de seu cliente. É o caso da Clínica, por exemplo, em que o Terapeuta passa apenas uma hora por semana junto a ele. Para os Comportamentos Privados (aqueles acessíveis apenas ao próprio organismo, como pensamentos e sentimentos), o acesso do terapeuta é ainda mais restrito. Além do limite de tempo da sessão, existe a possibilidade de os relatos trazidos pelo cliente não serem muito acurados.
Para estas e outras situações, o Analista do Comportamento tem disponíveis diversas estratégias de observação indireta que não exigem muito tempo e esforço para coletar dados e permitem avaliar também respostas encobertas. O livro Modificação do Comportamento: O que é e Como Fazer, de Garry Martin e Joseph Pear traz uma lista das principais estratégias adotadas, sobre as quais apresento um resumo.
MÉTODOS INDIRETOS DE COLETA DE DADOS
Entrevistas com o cliente e com pessoas significativas
Pessoas significativas são aquelas com quem o cliente passa maior parte de seu tempo, possui vínculo afetivo estável ou exercem maior influência sobre seus comportamentos.
É importante que o terapeuta seja um bom ouvinte, fazendo perguntas abertas e demonstrando interesse pelos sentimentos e problemas enfrentados pelo cliente. Sem fazer julgamentos pessoais sobre o que ouve, deve expressar empatia e enfatizar a o sigilo daquilo que for dito.
À medida que vai reunindo dados, o terapeuta pode tornar suas perguntas cada vez mais específicas, ajudando o cliente a identificar e delimitar o Comportamento Alvo, analisá-lo como um excesso ou déficit comportamental, estabelecer objetivos para a terapia e investigar variáveis que possam estar controlando este comportamento.
Questionário
Um questionário bem planejado pode oferecer informações importantes para o desenvolvimento de um programa comportamental que atenda às especificidades do cliente. O livro cita alguns modelos:
– Questionários de História de Vida: oferecem dados sociodemográficos, dados profissionais, de afiliação religiosa, história de tratamento, entre outros.
– Listas de Autorrelato de Problemas: solicitam que o cliente aponte, em uma lista detalhada de possíveis problemas, quais se aplicam a ele.
– Listas de Verificação: fornecem ao Analista do Comportamento informações úteis para utilizar determinada técnica, verificando se existem condições adequadas para sua aplicação, etc.
– Listas Comportamentais para Terceiros ou Escalas de Graduação: permitem que parentes, amigos, professores, colegas e outras pessoas envolvidas com o cliente, avaliem a frequência e qualidade da emissão de determinadas respostas;
Role Playing
Consiste em recriar (dramatizar) durante a sessão àquela situação problemática para o cliente, ou pelo menos, seus aspectos cruciais. O Terapeuta pede que o cliente descreva em detalhes a situação; monta o cenário, utilizando objetos inanimados para representar pessoas ou outras coisas; faz um pequeno ensaio, combinando os ajustes finais da cena; realiza a dramatização junto a seu cliente, abrindo possibilidade para discussão ou intervenções in loco.
Obtenção de informações com outros profissionais
Se outros profissionais já atenderam o cliente por qualquer motivo relacionado a seu problema, pode ser útil solicitar-lhes informações. O problema do cliente pode estar relacionado a fatores médicos, e uma conversa com o profissional que o atendeu, pode ser bastante útil no planejamento de um programa comportamental eficaz. É importante lembrar que isto só pode ser feito com autorização prévia do cliente, e de preferência, por escrito.
Automonitoramento do Cliente
O automonitoramento consiste em ensinar o próprio cliente a se observar e descrever seu comportamento e a realizar análises funcionais do mesmo. De acordo com os autores do livro, esta estratégia é uma das mais eficientes, perdendo apenas para a observação direta do terapeuta. Lembram também que a precisão dos dados colhidos é limitada, já que o cliente pode se esquecer de detalhes importantes ou ter vieses em sua fala.
Além destes, existem também os Métodos Diretos de coleta de dados, os quais tem como vantagem maior probabilidade de exatidão, já que as observações são feitas pelo próprio Analista do Comportamento. Por outro lado, eles costumam tomar mais tempo, exigem que os observadores sejam adequadamente treinados e não podem ser usados para monitorar respostas encobertas. O livro de Martin e Pear também traz uma breve descrição destas estratégias, as quais deverão ser abordadas em um próximo post.
Mesmo entre os métodos indiretos de coleta de dados, estes são apenas alguns exemplos citados pelos autores do livro em questão. Existem diversas outras maneiras e cada uma delas pode ser adaptada ao contexto no qual o Analista do Comportamento esteja trabalhando, desde que respeitada a ética.
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Referência
Martin, G. & Pear, J. (2009). Cap. 20: Avaliação comportamental: considerações iniciais. In: Modificação do comportamento: o que é e como fazer. Tradução de Noreen C. de Aguirre. 8ª ed. São Paulo, Editora Roca, pp. 291-308.
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