Relação mútua de reforço: modelagem de respostas inadequadas.

Para muitos é óbvio, mas para outros nem tanto. Todo tipo de relação envolve interação, e todo tipo de interação, envolve influência mútua. O mesmo vale dentro de um setting terapêutico, conversa entre amigos, laboratório de AEC, relação mãe-filho, professor-aluno, etc.

Para tornar mais clara a idéia, começo com dois exemplos simples. No primeiro exemplo, explico brevemente o que aconteceu em uma aula de AEC na faculdade onde sou monitor. No segundo, eu uso um exemplo muito citado nos livros de Análise do Comportamento.

O exemplo do laboratório narra algo que aconteceu no ano de 2008, durante o experimento de Modelagem da Resposta de Pressão a Barra.

No início do processo de modelagem, o rato é ensinado a se aproximar da barra, o que tem como consequência o fornecimento de água – reforço. Muitas vezes acontece de o rato ficar muito tempo longe da barra (já que ele ainda não aprendeu a se aproximar), e o aluno sem experiência dá água a ele com a justificativa de que aquilo o fará se aproximar. Realmente o faz, mas o aluno está consequenciando com reforço o comportamento “estar longe da barra”, não o “se aproximar da barra”.

O aluno, frustrado por não conseguir fazer o rato ficar próximo a barra, me chama para ver o que estava acontecendo. Eu o observo por alguns instantes, e vejo o processo explicado anteriormente acontecendo. Após resolvido o problema, o rato aprendeu normalmente a ficar perto da barra e depois a pressioná-la.

Este processo envolve reforço mútuo. Dois repertórios inadequados são reforçados sem que se tenha consciência disso. O comportamento do aluno “dar água com o rato longe da barra” é reforçado pela aproximação do rato, aumentando de frequência. E o comportamento “estar longe da barra” é reforçado quando o aluno dá a água para o rato que vai pra longe dela.

O segundo exemplo, muito batido – e até enjoativo – em sala de aula, é aquele em que uma mãe reforça sem perceber o comportamento de “chorar” da criança. Imagine uma criança que comece a chorar quando a mãe não faz o que ela está pedindo. Por exemplo, chora quando a mãe não deixa ela sair de casa sem fazer o dever.

Diante do incômodo pelo choro da criança, a mãe acaba cedendo ao que a criança quer e a deixa sair de casa sem fazer o dever. Quando a criança sai de casa, ela para de chorar e a mãe tem uma sensação de alívio, afinal o barulho e a conotação de sofrimento que o choro traz, pararam.

Quando a mãe deixa o filho sair de casa sem fazer o dever, porque ele chorou, ela reforça esse comportamento “chorar” da criança – fazendo-o aumentar de frequência -, além de ensiná-la também a deixar pra depois as obrigações, como fazer o dever de casa.

Ao cessar o incômodo – estimulação aversiva advinda do choro – , a mãe também aprende que ao ceder à criança, ela para de chorar. A criança parar de chorar reforça o comportamento “ceder ao choro”, aumentando a probabilidade da mãe voltar a ceder no futuro.

Como podem observar, em ambos os casos a relação de reforço é mútua. O comportamento de um, sempre altera o comportamento do outro em um processo contínuo. É como se dissessemos que é um processo onde “ambos se constroem e se distroem”.

Como eu disse no início, é algo muito óbvio para alguns, mas não para outros. Quando dissemos que o terapeuta é quem modela o comportamento do cliente, estamos fazendo uma separação didática apenas. O comportamento do cliente também exerce influência e altera o comportamento do terapeuta. A intervenção do terapeuta é programada, mas é alterada de acordo com as consequências dela sobre o comportamento do cliente.

Quando dizemos que o aluno é quem modela o comportamento do rato, também fazemos uma separação didática. O aluno também aprende o procedimento correto no decorrer de sua experiência. Ele vê o que surte mais ou menos efeito sobre a RPB, e os comportamentos do aluno que geram consequências mais “adequadas” (termo usado levando em conta o objetivo, que é modelar o comportamento do rato) aumentam de frequência, enquanto os outros inadequados diminuem.

Percebe que tanto o comportamento do aluno, quanto o comportamento do rato são modelados? Este e outros acidentes do tipo acontecem com frequência durante os processos de modelagem de comportamento. É bom ficarem atentos.

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Escrito por Portal Comporte-se

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