O escravo feliz

Considerado uma referência no estudo da Análise do Comportamento, o livro Compreender o Behaviorismo, de William M. Baum, apresenta no texto O Escravo Feliz uma reflexão sobre o que acontece quando nos comportamos sob controle exclusivo das consequências de curto prazo de nosso comportamento. O texto é reproduzido abaixo para leitura e discussão na monitoria.

… uma consequência de não se pensar a longo prazo…
 
A possibilidade de Coerção – e através dela a escravidão – pode representar uma ameaça menor para a democracia que a possibilidade do “escravo feliz”. A coerção é imediatamente reconhecida como tal pela pessoa coagida, enquanto o escravo feliz se sente contente a curto prazo, e pode vir a descobrir que está sendo explorado só muito tempo depois. Sentindo-se contentes, porque seu comportamento está sendo reforçado positivamente, os escravos felizes não tomam qualquer medida para corrigir a situação. Crianças que trabalhavam em fábricas, no século XIX, eram pagas com regularidade e frequentemente eram objetos de outros cuidados; e no geral estavam bastante satisfeitas. Só quando atingiam a meia idade se davam conta se é que o faziam, de que haviam sido enganadas. Qualquer medida que pudessem tomar a esta altura viria muito tarde para impedir os danos causados.
 
Escravos Felizes podem existir em muitos e nos mais diversos tipos de relação. Pais podem explorar seus filhos, recompensando-os com cuidados e afeto desde que trabalhem, peçam esmolas nas ruas ou participem de atos sexuais. O marido pode explorar sua esposa reforçando os serviços que ela presta a ele e a seus filhos, dando-lhe afetos e presentes; do mesmo modo a esposa pode explorar o seu marido reforçando longas horas de trabalho pesado. O patrão pode explorar seus empregados oferecendo-lhes pagamentos extras por trabalharem em condições perigosas ou insalubres. O governo pode explorar seus cidadãos reforçando apostar em jogos de loteria. Uma nação pode explorar outra nação importante importando dela matéria prima em troca de bens manufaturados com esse material. Em cada um desses exemplos, aquele que é explorado pode se sentir contente com a situação por um longo tempo, ou até mesmo indefinidamente.
 
Conseqüências a longo prazo:
 
Do ponto de vista da parte explorada, é que as conseqüências a longo prazo para ela implicam em punição. Se uma criança trabalha durante um verão, pode ocorrer apenas uma pequena perda, e a experiência pode até ser chamada benéfica. Mas se a criança trabalha durante toda a sua infância, os resultados são extremamente danosos. O fato de que a exploração tem efeitos, ao mesmo tempo postergados e gradualmente cumulativos torna essa relação particularmente difícil de ser identificada pela parte explorada.
 
A exploração constitui na verdade, uma armadilha de reforço. O comportamento alvo alvo CR corresponde a agir impulsivamente sob controle de reforço a curto prazo. O auto-controle, que age de acordo com a punição de longo prazo, significaria agir de modo a não entrar em uma relação de exploração ou mudar a relação de tal forma que ela não fosse mais exploradora.
 

A parte explorada pode se dar conta dos prejuízos, e os comportamentos resultantes se assemelham aos que ela emitiria diante de coerção. O ex-escravo feliz torna-se agora ressentido, cheio de raiva e revoltado. A criança explorada que perdeu em saúde, educação ou na capacidade de se desenvolver em relacionamentos normais, passa a rejeitar os pais. O conjugue explorado, que nunca buscou seus próprios interesses, pode agora abandonar o casamento. Empregados que foram explorados eventualmente castigam de alguma forma seus patrões. Cidadãos e colônias rebelam-se. Tal como a coerção, ao final das contas a exploração é um tiro que sai pela culatra.

 
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Escrito por Portal Comporte-se

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