Com isso, foi estabelecida uma colaboração entre os animais. “Essa foi a grande surpresa. Não sabíamos o que ia acontecer, já que isso nunca foi feito antes”, afirmou Nicolelis à Folha, por telefone.
Uma segunda etapa do estudo usou informações táteis, transmitidas pelo codificador ao receber estímulos em seus bigodes. Com o treinamento do uso da interface cérebro-cérebro, afirmou Nicolelis, o decodificador conseguiu criar uma representação dos bigodes do primeiro animal.
“Estamos começando a realizar esse trabalho em macacos, e os resultados se amplificam, dada a maior complexidade.” O trabalho com primatas deve ser apresentado neste ano em um congresso científico, segundo ele.
REDE ORGÂNICA
Uma terceira parte do estudo com roedores demonstrou que é possível enviar essa informação a uma grande distância: um animal no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, no Rio Grande do Norte, foi conectado a outro, nos EUA, pela internet.
Para o neurocientista, o trabalho –que não tem ligação direta com seu mais famoso projeto, o “Andar de Novo”, cujo objetivo é a construção de um exoesqueleto controlado pelo cérebro para dar movimentos a pessoas com paraplegia– é uma demonstração de que é possível criar um novo tipo de computação, no qual cérebros de diferentes animais podem colaborar em um só pensamento para resolver uma tarefa.
“Queremos estudar a possibilidade de um sistema de computação orgânico, usando as características únicas dos cérebros de mamíferos que não podem ser reproduzidas por um computador.”
Outros pesquisadores, no entanto, são céticos quanto à possibilidade de um processador orgânico.
Em entrevista ao “New York Times”, o neurocientista Andrew Schwartz, da Universidade de Pittsburgh, destacou que a taxa de sucesso do rato ao realizar as tarefas “teleguiado”, de 70%, não é muito maior do que a de uma escolha aleatória, de 50%