Nossa percepção do mundo é construída a partir dos dados captados pelos nossos cinco sentidos, que são limitados. Ouvimos, por exemplo, apenas os sons que estão dentro de determinada faixa de frequência, nem podemos ver luz ultravioleta ou infravermelha. Mas e se fosse possível ampliar nossos limites sensoriais além de nossos limites anatômicos? Em um estudo publicado na Nature Communications, neurocientistas usaram implantes cerebrais para ensinar ratos a “ver” a luz infravermelha.
O brasileiro Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, e seus colegas treinaram seis ratos para colocar o nariz dentro de uma porta quando um diodo emissor de luz (LED) se acendesse. Depois que os animais aprenderam, os pesquisadores implantaram cirurgicamente detectores de luz infravermelha na cabeça dos ratos e os ligaram a eletrodos no córtex somatossensorial primário, região responsável pelo processamento de estímulos táteis. O sensor captou a presença e intensidade de luz infravermelha no ambiente e a traduziu em sinais elétricos, enviados ao córtex somatossensorial. O cérebro, de maneira ainda não esclarecida pelos neurocientistas, fez com que o animal começasse a identificar, encontrar e buscar essa fonte de luz como se pudesse “tocá-la”. O processo de aprendizado demorou mais de 20 dias. Essa abordagem pode, futuramente, ajudar os cientistas a criar “canais sensoriais” para usuários de próteses, facilitando o controle de membros artificiais. Os resultados também sugerem que o cérebro humano é capaz de lidar com uma expansão do repertório sensorial: é possível que um dia sejamos capazes de ver, ouvir, tocar e cheirar o que hoje não podemos.
Fonte: Mente Cérebro