Entrevista concedida ao Comporte-se: Psicologia Científica pelo Prof. Dr. Alexandre Ditrich, durante a XI JAC UFSCar. O evento foi promovido pela UFSCar- Universidade Federal de São Carlos, entre os dias 20 e 22 de abril de 2012.
O professor Alexandre Diitrich possui graduação em Psicologia pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (1999) e doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (2004). Atualmente é professor efetivo da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em História da Psicologia e Teorias e Sistemas em Psicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: behaviorismo radical e análise do comportamento, epistemologia da psicologia, história da psicologia, ética, política e psicologia. Membro do Grupo de Trabalho “Investigações Conceituais e Aplicadas em Análise do Comportamento” da ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia).
Há diversos trabalhos sendo realizados pelo Brasil que visam mudança de práticas culturais, sejam eles sob o viés da análise do comportamento ou não. Quão capacitados nós, analistas do comportamento, estamos para atuar como planejadores de contingências para estas mudanças?
A palavra “capacitado” é muito ampla. Ela pode, em primeiro lugar, dizer respeito a uma competência técnica para auxiliar a modificação do comportamento das pessoas em um nível tecnológico amplo. Supostamente, nós temos as armas conceituais e técnicas para auxiliar e produzir mudanças em práticas culturais em ambitos sociais que são relevantes, então nós temos competência neste sentido. Tem uma coisa que o [Professor Silvio Paulo] Botomé sempre fala é o seguinte, nada nessa vida se mede 8 ou 80, sim ou não. Quer dizer, competência também se dá em torno de graus e eu acho que a gente tem um grau interessante de competência técnica e conceitual para fazer aquilo que a gente quer. Há uma ciência e uma teoria que apoiam isso com muita consistência.
Tem uma questão a parte desta que eu não consigo deixar de analisar também que é a questão ética. Isto é, quais são os objetivos que a gente quer produzir quando a gente aplica a análise do comportamento e em que medida as pessoas que estão envolvidas nesta transformação do comportamento estão também envolvidas no planejamento dos objetivos que a gente quer produzir ali.
Como avaliar se estes comportamentos que estamos querendo promover são proveitosos para uma cultura?
Se um comportamento é “proveitoso para uma cultura” depende muito da ótica de análise que a gente vai utilizar. Mesmo que a gente utilize parâmetros relativamente consensuais como “sobrevivência de uma cultura” ou mesmo “benefícios para uma cultura” a gente não tem como ter uma previsão absoluta de que aquilo vai colaborar de uma maneira relevante para isso.
No fim das contas, acho que a gente acaba selecionando objetivos de menor monta, de mais curto prazo que é, por exemplo, no caso de vocês [da economia solidária], fazer com que aqueles camaradas da economia solidária (que é considerado como um movimento econômico interessante logo de saída) consigam ser bem sucedidos naquilo ali para que aquela prática cultural específica se perpetue. A gente pode fazer isso partindo do pressuposto de que aquilo tem uma contribuição de longo prazo, até para espalhar aquele modelo econômico para a sobrevivência das culturas, mas não há como ter uma absoluta certeza em relação a isso.
Qual foi a sua motivação pra começar a trabalhar com cultura?
Na minha graduação, me identifiquei em um primeiro momento com fenomenologia. Em um segundo momento com psicologia sócio-histórica (Vygotsky, Marx) e isso foi importante por que, quando eu me identifiquei cientificamente com a análise do comportamento, eu vi uma solidez ali. Pensei “aqui tem ciência e tem gente fazendo ciência”. Mas eu não via, pelo menos aqui no Brasil e depois constatei que havia poucos fora daqui também, exatamente este tipo de reflexão ética e política que eu acho que lida com consequências de mais longo prazo e achava que era importante que os analistas do comportamento fizessem. De uma maneira extremamente pretensiosa, eu que nunca tive um bom treinamento como analista do comportamento fui me meter a falar sobre isso e fui bem recebido pela comunidade dos analistas do comportamento. As pessoas eventualmente comentam, gostam e dizem que pode ser uma contribuição legal. Assim o trabalho foi evoluindo e, como eu escolhi o tema ética e política, a ligação com a cultura foi quase que automática.