[Entrevista Exclusiva: Maria Helena Leite Hunziker] – Diálogos da Análise do Comportamento com outras áreas

Entrevista concedida ao Comporte-se: Psicologia Científica pela Prof. Dra. Maria Helena Leite Hunziker, durante a XI JAC UFSCar. O evento foi promovido pela UFSCar- Universidade Federal de São Carlos, entre os dias 20 e 22 de abril de 2012.
A professora Maria Helena Leite Hunziker é licenciada, bacharel e psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1973 e 1974), mestre, doutora e livre-docente em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo (1978, 1982 e 2003, respectivamente). Pós-Doutorado no Reed College – USA (1993-1994) e na Universidad de Sevilla – Espanha (1999). Foi docente na Clínica do Comportamento (Campinas), na Faculdade de Psicologia da PUC – São Paulo e na Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP (Departamento de Farmacologia). Atualmente é Professora Associada na Universidade de São Paulo (Instituto de Psicologia – Departamento de Psicologia Experimental), onde exerceu cargo de coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia – área de concentração Psicologia Experimental (1994-1997) e de chefe do departamento (2004-2008). É orientadora nos Programas de Pós-Graduação em Psicologia Experimental (PSE) e em Neurociências e Comportamento (NeC), e Pesquisadora do CNPq (2A). Coordena o Laboratório de Análise Biocomportamental (www.usp.br/labc), onde desenvolve pesquisa básica utilizando prioritariamente animais como sujeitos. Suas linhas de investigação sobre o comportamento abrangem os temas desamparo aprendido e variabilidade operante, inserindo-se nas grandes áreas denominadas Controle Aversivo e Análise Biocomportamental. 
Nesta edição da JAC vem buscado dialogar com outras áreas, por exemplo, com a área de economia comportamental. Também noto isso com o trabalho desenvolvido pelo seu laboratório que analisa fenômenos observados nas neurociências sob o viés da análise do comportamento. Eu gostaria fazer uma colocação e saber em que pontos você concorda e discorda dela: está havendo um esforço de analistas do comportamento em se comunicar com outras áreas. O que você acha? 
Olha,eu vou dar uma opinião bem minha. A Análise do Comportamento passou por um período muito intenso, no qual precisou se firmar como uma ciência de características próprias, uma vez que seu objeto de estudo difere do objeto de estudo da Psicologia Tradicional. Nós não estudamos a Mente, mas sim, o Comportamento.

Eu acho que ela é uma das abordagens que estão relativamente fortes, apesar de ainda não ser “prioritária”, uma vez que é apoiada por uma pequena minoria. Então vejo que agora a Análise do Comportamento está se propondo a conversar com outras áreas, porque é praticamente impossível se propor a estudar o comportamento sem realizar este trabalho multidisciplinar com outras ciências que também se propõe a estudar o comportamento.

Há pouco tempo tivemos uma palestra na USP,  ministrada por um geógrafo e, queira ou não, a geografia é uma ciência que estuda o homem se comportamento em seu ambiente. Ela estuda o ambiente social se desenvolvendo de acordo com o ambiente físico e vice-versa, o que tem tudo a ver com a Psicologia; mas, em geral, não conversamos com esta ciência. Para quem tem interesse de trabalhar com práticas culturais, ciências como a geografia, a sociologia e a antropologia são muito importantes.

Atualmente tenho uma aluna de mestrado, graduada em Psicologia e Economia, que também estuda Economia Comportamental. O trabalho dela ressalta a importância da junção entre as duas ciências e as dificuldades encontradas, porque como cada área tem sua terminologia e forma de caminhar, no começo o diálogo não é fácil. Ninguém quer abrir mão de sua linguagem. Entretanto, acho que nós temos muito a contribuir com os economistas, e os economistas, por sua vez, tem muito a contribuir conosco.

Na parte mais  biocomportamental  (que é a há área que trabalho com neurofisiologia, farmacologia, entre outras, acho que a tentativa de junção já existe a mais tempo, mas ainda há uma resistência muito grande em função do modelo médico tradicional, o qual propõe que as causas de certos comportamentos são internas ao organismo, enquanto a Análise do Comportamento, tende a atribuir uma explicação diferente. Algumas pessoas (analistas do comportamento) tem medo de que possamos estar dando um passo atrás ao juntar os temas, correndo o risco de cair em explicações “internalistas”.

O que eu vou falar hoje a tarde envolve explicar porque isso não é verdade e como nós podemos contribuir com as neurociências, bem como elas podem contribuir conosco. Podemos muito bem continuar uma ciência autônoma, sem perdermos nossas características próprias, ganhando força e fornecendo dados. Acho que tem mais coisas com as quais a Análise do Comportamento dialoga, como a propaganda, o Marketing, entre outros. Mas eu acho que precisa ainda mais.


Os eventos regionais tem parte nesta aproximação entre áreas que está acontecendo? 
A primeira coisa que é significativa para mim é ver como a análise do comportamento está sendo partilhada em diferentes lugares. Então este contato com a audiência (alunos, profissionais…) está sinalizando que coisas estão interessando mais e que coisas estão motivando as pessoas a irem atrás de novas informações. E tem sido muito bem ver como há pessoas nos mais diferentes lugares que estão com o interesse de pesquisar e de conhecer dessa perspectiva de mundo. 
Os eventos também cumprem uma parte social muito importante por que em parte já conhecemos grande parte das pessoas que iremos encontrar. Uma conversa em um almoço ou em um cafezinho também são muito importantes neste sentido, por que você fica sabendo de pessoas interessadas em trabalhar em temas e de projetos que estão acontecendo. Mas, para mim, o que é mais crítico são os interesses que têm sido mostrados pelo pessoal que está organizando e participando. 

Você acha que nós, analistas do comportamento, somos acadêmicos demais? 
Eu acho que nós cometemos uma falha que eu até entendo o motivo, mas acho que precisa ser revista: nós vendemos nosso peixe muito mal. Na hora que nós não vamos falar para uma plateia que não é muito familiarizada com a área, acho que precisamos usar uma linguagem mais acessível, sem muito rigor de linguagem, por que senão fica uma coisa muito hermética. 
Talvez este nosso hermetismo atrapalhe na hora da troca com outras áreas, então eu acho que precisaríamos nos preocupar mais em se mostrar para os “não analistas do comportamento”. Eu participei de uma banca sobre marketing na ECA mostrando como as várias abordagens da psicologia contribuíram para o marketing e, na hora que ela falou do famoso behaviorismo, eram aquelas coisas horríveis que a gente está careca de ver: mecanicista, simplista. Eu passei a arguição inteira falando “não é muito bem por aí” e apresentando os motivos. Quando perguntei “de onde vem estas informações” eles disseram “olha, os livros de marketing apresentam desta forma”. 
O que a gente tem que fazer e que eu tenho conversado com o meu grupo é nós temos que publicar coisas mais acessíveis pra que as pessoas saibam o que estamos fazendo. Um aluno meu recentemente publicou um artigo em uma revista leiga que não é considerada uma publicação científica, mas este esforço é importante para mostrar nosso trabalho. É importante garantir que estas publicações com vocabulário simples estejam sendo feitas do jeito certo, baseadas em dados confiáveis.
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Escrito por Arthur Médici

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