Uma explicação comportamental sobre a mudança e a manutenção de padrões de comportamento
“Segunda-feira eu começo!” — disse a pessoa que adiou a mudança.
Quantas vezes você já ouviu (ou disse) frases como: “Segunda-feira eu começo a dieta” ou “Já que comi mal hoje, amanhã eu compenso”? Muitas dessas falas vêm cheias de intenção — e, às vezes, até são cumpridas. Mas raramente se sustentam por muito tempo.
Saber o que precisa ser modificado não é o suficiente. Se a simples identificação do problema bastasse para resolvê-lo, a psicoterapia talvez nem fosse tão necessária. É comum escutarmos pacientes dizendo: “Eu sei o que preciso fazer, mas não consigo. Não sei como!”
Muitas vezes, isso é interpretado como falta de força de vontade. Outras vezes, como um sinal de que a pessoa não se conhece o suficiente. Mas mesmo quando alguém compreende a função de seu comportamento, isso ainda pode não ser suficiente para mudá-lo.
Embora o autoconhecimento seja valorizado culturalmente, Skinner (2003) afirma que ele não garante mudanças comportamentais duradouras, pois “o comportamento não muda simplesmente porque uma pessoa descobre por que se comporta de determinada maneira” (p. 55). Entender o motivo de um comportamento pode gerar alívio, sim — e até reduzir sentimentos de culpa —, mas a mudança em si exige mais do que compreensão.
Sob a perspectiva da Análise do Comportamento, um hábito é um comportamento operante mantido por contingências repetidas ao longo do tempo. Segundo Catania (1999), quanto maior o histórico de reforçamento de um comportamento, mais difícil será sua eliminação quando as contingências forem alteradas.
Esse dado nos lembra de algo fundamental: emoções não são causas do comportamento (SKINNER, 2003). Mesmo que um hábito gere sofrimento a longo prazo, somos fortemente sensíveis a reforçadores imediatos. Como afirma Baum (2006), muitos comportamentos disfuncionais permanecem porque os reforços imediatos são mais potentes que os benefícios futuros.
Compreender que a mudança envolve variáveis como ambiente, resistência à mudança, reforço intermitente, extinção e operações motivadoras já revela a complexidade do processo para os profissionais da área. Mesmo quando se trata de um “pequeno hábito” aos olhos do público leigo, o desafio é significativo.
Para uma mudança bem-sucedida, é fundamental identificar os motivadores dessa mudança e conectá-los aos valores pessoais — como propõe a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Nesse processo, alguns elementos podem aumentar a probabilidade de sucesso:
- Aceitação de sentimentos desagradáveis que acompanham a mudança (por exemplo, frustração, desconforto, imperfeição);
- Desenvolvimento de estratégias comportamentais alternativas ao comportamento-problema;
- Alterações no ambiente que favoreçam o comportamento desejado e dificultem o comportamento a ser reduzido;
- Planejamento de consequências reforçadoras para o novo comportamento;
- Envolvimento de outras pessoas no processo, como fonte de apoio e reforço social.
A mudança pode começar pelo reconhecimento de dificuldades reais e potenciais disponíveis no momento. Ao entender que os comportamentos não ocorrem ao acaso, mas respondem a variáveis presentes no ambiente, ampliamos a possibilidade de agir sobre essas condições. Assim, podemos escolher a quais contingências queremos nos expor — favorecendo os comportamentos mais coerentes com o que valorizamos.
Mudar hábitos é desafiador, tanto para pacientes quanto para psicólogos. Mas reconhecer a complexidade desse processo pode ser, por si só, um importante passo rumo à aceitação, ao compromisso e à construção de uma vida com mais sentido.
Referências
BAUM, W. M. Compreendendo o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Tradução de Claudia Berliner. Barueri, SP: Manole, 2006.
CATANIA, A. C. Análise do comportamento: uma introdução. Tradução de Yara Aun Khoury. São Paulo: ABPMC, 1999.
SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. Tradução de Maria Ignez Duque Estrada. São Paulo: Cultrix, 2003.