Quando um paciente chega à psicoterapia, na maior parte dos casos está buscando ajuda para algo que não vai bem em sua vida. Seja à sua maneira de lidar com um problema, com suas emoções, com seus relacionamentos, dentre outros. O início do processo é marcado pela escuta e pela busca de informações da história de vida do sujeito, com a finalidade que junto com o terapeuta comece a refinar as relações e construções históricas de suas percepções, sua maneira de pensar, lidar com as emoções e suas relações. Essas explicações das contingências refinam o que chamamos de autoconhecimento.
A medida que o paciente vai revisitando a sua história de vida, tem a possibilidade de entrar em contato com dados que se referem não somente a si mesmo, como também às pessoas que foram significativas em sua história e os papéis que tiveram. Esse quebra-cabeça do passado ajuda na construção de um melhor entendimento do seu hoje e na elaboração de seus projetos do amanhã. Essa tríade passado/presente/futuro possibilita que se harmonize aquilo que o paciente já tem como habilidades adquiridas (por intermédio da sua história), aquilo que tem hoje como realidade e o ponto que anseia melhorar e aperfeiçoar. Essas metas elaboradas terapeuticamente são individualizadas e tem relação com aquilo que o sujeito vê como valor e importante para si. O valor aqui mencionado não se refere a conceitos de cunho moral e sim àquilo que é significativo e realmente importa a este indivíduo. “Os valores são direções que organizam os objetivos de forma coerente”. (Saban, 2015, pp. 85)
Em paralelo a essa construção mais sólida acerca de si, o indivíduo passa a ter a possibilidade de aperfeiçoar as mais variadas habilidades pessoais e sociais, uma vez que passa a descrever melhor seus comportamentos, seja aquilo que já está realizando, seja aquilo que anseia alcançar. Neste sentido, o autoconhecimento é a grande base do processo terapêutico, de onde derivarão os mais variados ganhos em qualidade de vida e bem-estar.
Como exemplo concreto de um
refinamento de autoconhecimento, podemos citar uma maior possibilidade de
trabalho efetivo na regulação emocional. Isso porque a capacidade de o
indivíduo lidar com a intensidade inicial e residual de suas emoções, bem como,
seus estilos de enfrentamento, tem relação ao quanto ele conhece e compreende
tais mecanismos e suas dificuldades particulares. Obviamente, só o conhecimento
não trará espontaneamente a resolução e desaparecimento de suas inabilidades,
mas abre portas mais concretas para mudança. Até porque quando nos referimos à
regulação emocional não estamos lidando com uma “receita de bolo” em que temos
ingredientes milimetricamente desejados e sim com uma análise contextual. “Ela
não é problemática ou adaptativa independentemente da pessoa e da situação
presente” (Leahy, Tirch & Napolitano, 2013, pp.21).
O caminho terapêutico seguirá sendo trilhado em prol de que o paciente se reconheça como alguém mais consciente, coerente e consistente com suas escolhas, de maneira que as mesmas estejam embasadas em um caminho que se lhe seja significativo a curto, médio e longo prazo. Isso não representará uma vida isenta de desconforto, e sim uma vida mais clarificada em favor daquilo que realmente importa e faz sentido para si.
Referências Bibliográficas
*Leahy, R. L. , Tirch, D., Napolitano, L.A. (2013). Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed
* Saban, M.T. (2015). Introdução à terapia de aceitação e compromisso. Belo Horizonte: Editora Artesã