Dormir é essencial para o bom funcionamento do organismo e as alterações no sono podem provocar efeitos desagradáveis. O sono é definido como um conjunto de alterações comportamentais e fisiológicas que ocorrem de forma conjunta e em associação com atividades elétricas cerebrais características (Neves, et al. 2013, p. 58).
O tempo necessário de sono varia de acordo com a faixa etária, características individuais e rotina. Conforme o DSM V (2013), as queixas que comumente são feitas em relação ao sono referem-se a insatisfação com a qualidade, o tempo e a quantidade de sono. Na medida em que as queixas forem persistentes e concomitantes a um prejuízo significativo, pode-se diagnosticar um dos Transtornos do Sono-Vigília, através de uma análise multifatorial do caso.
O Transtorno de Insônia é o de maior prevalência entre todos os Transtornos do Sono e estima-se que cerca de um terço dos adultos relatem sintomas de insônia, 10 a 15% experimentam prejuízos diurnos associados e 6 a 10% apresentam sintomas que atendem aos critérios do Transtorno de Insônia (APA, 2013, p. 365).
O tratamento mais utilizado para a insônia é o medicamentoso, embora a utilização cause alguns prejuízos a longo prazo. Contudo, estudos têm sugerido a utilização de terapias não medicamentosas. O tratamento não farmacológico na prática clínica pode ser realizado por terapias individuais ou em grupo e para que sejam consideradas efetivas devem diminuir a latência do sono, aumentar o tempo total de sono e melhorar a funcionalidade diurna dos pacientes. (Passos, et al. 2007)
Ferreira, et al. (2010) ressaltam que a Terapia Comportamental possui uma efetividade considerável no tratamento da insônia, inclusive em casos que apresentam comorbidades. Segundo Lettner (1989) a Terapia Comportamental tem como objetivo resolver problemáticas psicológicas experimentadas por um indivíduo, logo, necessita de um entendimento geral e específico de seu funcionamento atual e história de vida.
A análise funcional é o método utilizado na Terapia Comportamental para uma ampla compreensão do modo de funcionamento de um indivíduo e a problemática que ele experimenta. No caso da insônia, uma das análises realizadas é referente ao comportamento de manter-se em estado de vigília durante o período esperado para o sono.
Conforme Costa e Marinho (2002) interpretar um comportamento significa compreender sua função, que pode variar de um indivíduo a outro, entre situações e no tempo.
De acordo com Ferreira, et al (2010) no tratamento não farmacológico, algumas técnicas comportamentais podem ser utilizadas. Em síntese, consistem em:
1. Restrição de Sono: Limitar o tempo que a pessoa fica na cama, sem estar dormindo. Orienta-se que o paciente vá para a cama apenas quando estiver com sono e que se levante caso fique mais de 15 minutos sem dormir. A técnica tem como objetivo aumentar o tempo de eficiência do sono.
2. Controle de Estímulos: Tem como objetivo restabelecer a relação entre o quarto e a cama com um rápido início do sono. A insônia é analisada a partir dos fatores ambientais e temporais que podem estar associados. Realiza-se um planejamento consistente do ciclo vigília-sono.
3. Higiene do Sono: Busca modificar comportamentos inapropriados que afetam negativamente o sono, auxiliando o paciente a manter hábitos adequados.
4. Técnicas de Relaxamento: visam a redução da estimulação fisiológica e/ou cognitiva que afetam o ato de dormir. É necessário avaliar o relaxamento mais adequado para cada caso.
5. Dessensibilização Sistemática: É realizada com o objetivo de diminuir respostas de ansiedade que possam estar associadas a insônia. Inclui o treino em relaxamento, a elaboração de uma hierarquia de itens geradores de respostas de ansiedade e a apresentação destes por meio da imaginação enquanto o relaxamento é utilizado.
É importante ressaltar que as técnicas devem ser utilizadas de forma contextualizada ao caso e com base na análise funcional realizada. Sampaio e Roncati (2012) ressaltam que as técnicas são ferramentas disponíveis para a intervenção visando de algum modo a modificação comportamental. Entretanto, o profissional deve ter clareza sobre a função de aplicação da técnica e suas implicações no processo terapêutico, para que não incorra em uma prática inconsistente e ineficiente.
Contudo, para o tratamento da insônia há possibilidades complementares ao tratamento medicamentoso. É necessário avaliar possíveis condições biológicas que podem afetar o sono, a história de vida e rotina atual do indivíduo, assim como as condições sociais que podem estar relacionadas. O tratamento e o diagnóstico partem de uma análise multifatorial.
Referências:
American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento, et al. (2015) Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais: DSM-5 [recurso eletrônico] 5. ed. Porto Alegre: Artmed.
Costa, Silvana Elisa Gonçalves de Campos, & Marinho, Maria Luiza. (2002). Um modelo de apresentação de análise funcionais do comportamento. Estudos de Psicologia (Campinas), 19(3), 43-54.
Ferreira, Renatha El Rafihi, et al. (2010). De volta ao sono: aspectos comportamentais e cognitivos da insônia. Sobre Comportamento e Cognição: Análise experimental do comportamento, cultura, questões conceituais e filosóficas. (Org.) Maria Martha Costa Hubner, Marcos Roberto Garcia, Paulo Abreu, Eduardo Pedrosa, Pedro Faleiros. Santo André: ESETec Editores Associados, vol. 26.
Lettner, Harald W.. (1989). Com o que, de fato, a terapia comportamental trabalha?: um depoimento pessoal de um terapeuta comportamental. Psicologia: Ciência e Profissão, 9(2), 35-36.
Neves, Gisele S. Moura L., et al. (2013). Transtornos do Sono: visão geral. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de Neurologia, vol. 49, n. 2.
Passos, Giselle Soares, Tufik, Sérgio, Santana, Marcos Gonçalves de, Poyares, Dalva, & Mello, Marco Túlio de. (2007). Tratamento não farmacológico para a insônia crônica. Revista Brasileira de Psiquiatria, 29(3), 279-282. Epub May 22, 2007.
Sampaio, T. P. de A.; Roncati, A.C.K.P. (2012) Algumas técnicas tradicionalmente utilizadas na clínica comportamental. In: Borges, N.B; Cassas, F.A. Clínica analítico-comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed.