Dia 27 de agosto é o dia em que se comemora o dia do Psicólogo, em função de ser a data em que a profissão foi regulamentada no Brasil, no ano de 1964. Neste ano de 2017, o Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo promoveu como tema para a discussão sobre a profissão “O psicólogo e seu protagonismo na transformação da realidade”1.
O papel do psicólogo nem sempre é conhecido e reconhecido, e estes têm sido desafios para que a classe profissional se estabeleça enquanto ciência e profissão. Neste cenário, acredito ser muito pertinente discutir o papel de cada psicólogo para consolidação da profissão e também a contribuição social produzida pelo exercício da profissão.
Como profissional atuante sob o enfoque da Análise do Comportamento, vou trazer o conceito dos três níveis de seleção do comportamento, apresentado por Skinner, para conduzir a reflexão de hoje.
Skinner (1999)2 defendeu que o comportamento dos organismos é produto de três tipos de variação e seleção: filogenética, ontogenética e cultural. A seleção filogenética compreende o efeito da seleção natural sobre os organismos, e trata do que é comum aos membros da espécie, a partir de sua dotação genética e biológica. A seleção ontogenética nos permite compreender os efeitos do condicionamento operante, ou seja, como o repertório comportamental de cada pessoa se molda a partir de suas experiências de aprendizagem ao longo da vida. A seleção cultural, por sua vez, alcança o estudo e compreensão de como o indivíduo é influenciado pelo ambiente social a que pertence: as influências culturais e ambientais sobre seu desenvolvimento pessoal3.
Partindo deste conceito para estudo do comportamento humano, trago a discussão de como o psicólogo pode direcionar sua formação profissional e também sua atuação para que compreenda os três níveis de seleção apresentados por Skinner.
O nível filogenético de desenvolvimento dos indivíduos compreende o que o nosso arcabouço genético e biológico nos habilita a aprender durante a vida. É por isso que os cursos de graduação contêm disciplinas para estudo do desenvolvimento e maturação cognitivos, processos fisiológicos relacionados ao funcionamento cognitivo e emocional. As neurociências se encarregam do estudo deste nível. Também cabe aqui o conhecimento a respeito do impacto de doenças sobre o repertório comportamental dos indivíduos, tais como deficiências físicas, dependência química, Doença de Alzheimer, desenvolvimento atípico, entre outros.
O nível de seleção ontogenética compreende o desenvolvimento comportamental do indivíduo a partir de suas condições biológicas e maturacionais. Neste caso, a formação do psicólogo engloba o estudo das diversas abordagens e teorias para compreensão dos processos psicológicos básicos, como aprendizagem, atenção, percepção. A Análise do Comportamento, especificamente, tem como objeto de estudo os princípios que regem o comportamento. A Análise Aplicada e a Análise Experimental do Comportamento são disciplinas indispensáveis para uma boa compreensão do nível ontogenético.
O terceiro nível de seleção inclui o estudo das variáveis ambientais mais abrangentes que exercem influência sobre os indivíduos: condições políticas, econômicas, culturais. Os fundamentos da filosofia e sociologia são os alicerces deste âmbito de estudo. O conhecimento geral que o profissional de psicologia precisa buscar – e constantemente atualizar – a respeito de políticas públicas, condições econômicas, hábitos culturais, é de extrema importância para um exercício profissional que se mostre, além de efetivo, apropriado ao contexto de vida de quem é usuário de um serviço de psicologia.
Skinner, em sua obra de 19744, defendeu:
“Os principais problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano.” (Skinner, 1974).
O compromisso social do psicólogo começa com o estudo dedicado a cada um dos três níveis de seleção do comportamento. A contribuição que se faz possível a partir disso pode ser vista na criação de oportunidades para um desenvolvimento pessoal mais promissor, bem como no manejo de contingências sociais mais favoráveis para o desenvolvimento de práticas que promovam saúde, educação e qualidade de vida em um contexto de grupo, não apenas de indivíduos isoladamente.
Referências
- http://crpsp.org.br/diadapsicologa/default.aspx
- Skinner, B. F. (1999). Can psychology be a science of mind? Cumulative Record – Definitive Edition. Acton, Mass.: Copley Publishing Group. Publicado originalmente em 1990, na American Psychologist, 45 (11): 1206-1210. Tradução disponível em http://www.itcrcampinas.com.br/pdf/skinner/A_Psicologia_pode_ser_uma_ciencia_da_mente.pdf
- Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Deisy das Graças de Souza. Porto Alegre: ArtMed.
- Skinner, B. F. Sobre o behaviorismo. Maria da Penha Villalobos. São Paulo: Ed. Cultrix.