O processo terapêutico tem por objetivo a mudança comportamental do cliente. Essa mudança é fundamental para que o cliente modifique padrões comportamentais que lhe trazem sofrimento. Os resultados desse processo dependem de muitas variáveis que estão relacionadas ao comportamento do cliente e ao próprio terapeuta. Levantar questões e variáveis que possam estar relacionadas a esse processo terapêutico é ao meu ver uma reflexão importantíssima para o desenvolvimento de um profissional da área de psicologia. Segundo Marmo (2012), para se tornar um profissional dessa área é necessário desenvolver um repertorio especial e específico. Discutiremos nesse texto sobre algumas variáveis que contribuem para a adesão ao processo terapêutico pelo cliente, a relação terapêutica em si, sua importância, sua efetividade e também variáveis relacionadas ao comportamento do terapeuta.
O primeiro contato com o terapeuta é primordial para a adesão ao tratamento psicoterápico e a assiduidade das sessões. A forma como o terapeuta recebe o cliente, como se comporta diante do relato da queixa, como se veste, o tom que fala, o quanto acolhe o cliente e sua demanda, provavelmente são características observadas pelo cliente ao chegar ao consultório para uma sessão psicoterápica e que muitas vezes irão determinar a continuidade do processo e a relação terapêutica. A cautela do terapeuta quanto a sua apresentação e a forma como interage com o cliente devem expressar segurança, atenção, disponibilidade, acolhimento, cordialidade e competência (Otero, 2012). A partir desses cuidados o estabelecimento do vínculo é formado e passa a ser o ponta pé inicial para uma relação terapêutica que favoreça uma adesão ao tratamento e sua continuidade.
Skinner afirma que a primeira tarefa do terapeuta é fazer com que o cliente se sinta confortável, não punido ou criticado, ou seja, que estabeleça vínculo suficiente nos primeiros encontros para criar meios da relação terapêutica favorecer a continuidade e de ser reforçadora para que tenha resultados efetivos no processo. Ainda segundo Skinner (1953), a psicoterapia é uma agência de controle especial, onde o terapeuta desde o início está em uma posição diferente dos outros membros da sociedade, estabelecendo uma relação diferente de todas as outras que o cliente já tenha experimentado. A relação terapêutica não é uma relação comum, como a que acontece entre amigos e familiares, essa relação pressupõe sim uma relação de intimidade, mas onde é utilizada para favorecer que o cliente se sinta confortável para relatar sobre suas queixas de forma genuína (Marmo, 2012).
Podemos dizer que a relação terapêutica com o cliente tem início já no primeiro contato e muitas vezes este acontece ainda pelo telefone, então a partir desse momento uma série de comportamentos do terapeuta passa a ser analisados pelo cliente para que ocorra seu engajamento na terapia. Segundo Skinner (1953) existe um impacto no cliente quando o clínico consegue se constituir em uma fonte de reforçamento social para ele e isso aumenta à medida que ele observa no terapeuta grande chance dele realmente poder ajudá-lo e essa observação ainda tenderia a aumentar no cliente a aceitação frente as interpretações e intervenções sugeridas pelo terapeuta.
A interação entre terapeuta e cliente exerce muitas funções para ambos. Os comportamentos dos dois funcionam como reforçadores para o outro. À medida que é estabelecida uma relação com o nosso cliente vamos nos tornando fonte de reforçamento para os comportamentos de voltar as sessões e fazer relatos sem a emissão de intraverbais, tendo em vista isso, é difícil não influenciar e muitas vezes não ser modelo possível de ser seguido. Então, a primeira sessão é determinante. Nessa sessão precisamos fazer com que o cliente tenha “vontade” de voltar as sessões seguintes. Alguns estudos sugerem que o modo como o cliente percebe o profissional é preditor de sua adesão ao tratamento o que significa que algo no terapeuta se torna reforçador aumentando a probabilidade do cliente querer retornar na sessão seguinte. E esse “algo” pode ser o tom da voz, a segurança nos conhecimentos, a forma como se veste, se se parecesse com alguém por quem sente carinho etc. Não sabemos quais critérios cada cliente utiliza, mas sabemos que é algum estímulo discriminativo presente no terapeuta e no ambiente clínico (Lima, 2016).
Portanto, a relação terapêutica é construída levando em consideração muitas variáveis. Podemos dizer que uma das primeiras a ser considerada após a formação do vínculo é a escuta por parte do terapeuta e esta é de grande importância principalmente quando não é apresentada de maneira punitiva, ou seja, quando permite que o cliente expresse de maneira livre e genuína relatos importantes e relevantes para uma análise adequada do seu processo (Skinner, 1953). O processo terapêutico deve ficar distante de comportamentos direcionados por controle aversivo para que essa escuta ou audiência não seja punitiva. Os terapeutas clínicos devem evitar fazer julgamento, juízos de valor e críticas sob seu próprio ponto de vista para favorecer que o cliente se sinta acolhido e não julgado.
Podemos dizer que o comportamento de prestar atenção na fala do cliente, ser audiência não punitiva e ser criativo são características imprescindíveis para se tornar um psicólogo clínico. Quando o cliente chega à clínica seu comportamento está sob controle aversivo, o que lhe traz grande sofrimento, e neste momento espera ser acolhido e recebido com empatia em relação ao seu problema. A empatia é outro fator que pode ser considerado determinante e que exerce resultado sobre o comportamento do cliente dentro e fora da sessão. Ser empático é também uma característica que aproxima cliente e terapeuta. Analisar a relação terapeuta-cliente funcionalmente é uma tarefa de grande importância a ser realizada pelo terapeuta clínico, diante do fato de ser uma ferramenta poderosa para mudança e também trazer um entendimento dos mecanismos que torna o clínico influência direta ou indireta sobre os comportamentos do cliente (Wilenska, 2012).
Atualmente temos algumas terapias que são definidas como de terceira onda ou geração e dentro dessas temos a FAP – Terapia Analítico Funcional que foi desenvolvida por Kohlenberg e Tsai (1997) que tem grande contribuição acerca da relação terapeuta- cliente como instrumento de mudança de CRBs que são os comportamentos clinicamente relevantes. Esse direcionamento diz respeito ao lidar diretamente aos comportamentos problema do cliente que ocorrem na sessão ou nos que podem ser evocados pelo terapeuta durante a sessão terapêutica.
Chamamos de CRB1, as ocorrências que acontecem durante a sessão que estão ligadas aos problemas de relacionamentos no geral. A mudança desses comportamentos que ocorrem como CRB 1 durante o processo terão sua frequência diminuída enquanto são observado pelo terapeuta os CRBs 2 que é chamado por essa terapêutica de respostas do cliente que sinalizam mudança na direção desejada pelo cliente e terapeuta. Nesse momento é possível que novas respostas ocorram durante a sessão e que serão reforçadas diferencialmente pelo clínico de maneira natural. Os CRBs 3 são as explicações funcionalmente mais precisas que cliente faz do seu próprio comportamento. Além desses comportamentos, são analisados outros comportamentos que são chamados de Os que são divididos por Oi (comportamentos que poderão ser alvos de intervenção) e O2 (quando constituem ponto favorável).
Terapeutas que atuam dentro dessa proposta atuam direcionados por 5 diretrizes, que são: atentar para ocorrências de comportamentos clinicamente relevantes (CRBs); evocar comportamentos clinicamente relevantes em sessão (CRBs); o que exige um maior repertório dos terapeutas; habilidade e muitas vezes coragem; reforçar naturalmente e de um modo empático e compassivo os (CRBs 2); e observar os efeitos potencialmente reforçadores do comportamento do terapeuta sobre o cliente.
Para a FAP quando alguns comportamentos ocorrem durante a sessão, podem ser modificados no ambiente clínico e generalizados para situações semelhantes na vida do cliente (Borges, Cassas & Cols). Portanto o terapeuta evoca, “influencia” as respostas do cliente. Mas é claro que toda intervenção do terapeuta, mesmo sendo para evocar algum CRB, tenha uma função terapêutica e específica durante o processo clínico.
Portanto, temos que nos valer de poder utilizar uma ferramenta valiosa que é a relação terapêutica para adesão por parte dos clientes, principalmente quando se trata de casos onde a terapia seja imprescindível (não desconsiderando qualquer queixa e qualquer motivo para se inserir num processo terapêutico), mas devemos olhar de forma cuidadosa para o nosso comportamento enquanto clínico, identificando que a forma como conduzimos o processo possa determinar o engajamento de nossos clientes, resultados positivos e ganhos comportamentais para a alta. Essas são apenas algumas das variáveis que fazem parte desse processo. A relação terapêutica foi citada no texto apenas sobre a adesão, o início do processo, mas ela é tão igualmente importante em todo o processo.
Referências bibliográficas
Borges, Cassas &Cols. (2012). Avaliação funcional como ferramenta norteadora da pratica clínica analítico comportamental. Em: Borges, N. B. & Cassas, F. A. (2012). Clinica analítico comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed
Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (2001). Psicoterapia analítica funcional: Criando relações terapêuticas intensas e curativas. Sant André: ESETec
Marmo, A. (2012). A que eventos o clinico analítico-comportamental deve estar atento nos encontros iniciais? Em: Borges, N. B. & Cassas, F. A. (2012). Clinica analítico comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed
Otero, V. R. L. (2012). Considerações sobre valores pessoais e a pratica do psicólogo clinico. Em: Borges, N. B. & Cassas, F. A. (2012). Clinica analítico comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed
Skinner, B. F. (1953/1981). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes
Wielenska, R. C. (2012). O Papel da relação terapeuta cliente para a adesão ao tratamento e a mudança comportamental. Em: Borges, N. B. & Cassas, F. A. (2012). Clinica analítico comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed