A não muito tempo atrás, a pedidos do Esequias, topei juntar algumas pessoas para escrever uma coluna regular no Comporte-se sobre temas relacionados a cultura e sociedade. Topei com a condição de que teríamos liberdade total para escrever, o que está se concretizando, e também porque achei que era uma oportunidade de juntar pessoas competentes e com interesses diversos para produzir novos hábitos e costumes dentro da crescente e de certa forma efervescente comunidade brasileira de analistas do comportamento.
O primeiro texto saiu semana passada e foi escrito pela Taísa. Com uma formação sólida em Maringá, para minha alegria é minha colega de grupo de estudos, orientador e programa de pós graduação na Unesp de Bauru. Sua pesquisa atual lida com um assunto altamente relevante, que são as práticas científicas da comunidade nacional de pesquisadoras e pesquisadores, organizadas pelas agências de controle educacionais. Mas a Taísa tem muito mais a oferecer e seu primeiro texto já mostrou a que veio, com uma discussão interessante sobre valores e ciência em uma linguagem acessível ao público da graduação e eventuais leigos interessados.
A Gabriela é uma graduanda em Psicologia pela Federal de São Carlos, o que a permitiu um background sólido em análise do comportamento, já que estamos falando de uma das melhores universidades do país. Não bastasse a formação consistente, Gabriela também tem interesse e envolvimento em assuntos de cunho político, tais como questões de lutas feministas e lutas pela emancipação das pessoas negras, o que a coloca em um patamar ainda mais importante diante do resto da comunidade de analistas. É notória a ausência em nossas análises funcionais e mesas redondas de variáveis relacionadas a raça e classe, além de declarações aqui e acolá de autoridades da área de que a “ciência não tem sexo”. A potencial contribuição da Gabi para a nossa formação nesse cenário fica evidente.
Poderia falar algo semelhante sobre a Emanuelle. Também com formação sólida em sua graduação em andamento na Universidade Estadual de Maringá, seu trabalho já apareceu em congressos da área e seu texto sobre aproximações entre Simone de Beauvoir e B. F. Skinner já nasceu clássico. As mulheres estão se organizando institucionalmente em nossa comunidade e as produções acadêmicas a esse respeito já estão começando a despontar, com o texto da Manu dando o tom pra essa conversa.
Falando sobre a ausência de alguns temas socialmente relevantes em nossas análises funcionais, o Felipe é outro que aparece para sanar algumas dessas nossas deficiências. Também colega meu de orientador e de programa de pós graduação, sua pesquisa e praticamente toda sua vida acadêmica estão voltadas para o campo da Antropologia e questões indígenas. Se é pra falar de cultura, vamos sair do laboratório e ir para os lugares em que elas acontecem!, diria o Felipe, e foi isso mesmo que ele fez com suas estadias em aldeias do interior paulista e com sua produção crescente sobre questões de política indígena e de análise comportamental de culturas.
Já eu, o último membro restante da equipe, darei continuidade à minha coluna periódica no site, escrevendo dentro de um mesmo fio condutor que envolve questões sociais, políticas e culturais.
Esperamos que essa coluna sirva como uma forma de suprir uma óbvia lacuna na formação do analista do comportamento brasileiro, que é ausência de uma discussão qualificada sobre a vida fora do laboratório, apesar de esforços do próprio Skinner para interpretar fatos cotidianos e se posicionar ética e politicamente. Gostaríamos que nossos esforços nessa coluna periódica dessem frutos, sendo um modelo de engajamento em discussões que aconteçam fora da caixa de Skinner e que tragam os problemas políticos, econômicos, raciais e de gênero para o repertório verbal básico da comunidade analítico comportamental.
Em última análise, estamos tentando construir caminhos alternativos para a introdução de temas poucos discutidos na análise do comportamento, além de dar voz e espaço a nossas inquietações e ideias, fruto de nossas próprias histórias e culturas. Se os textos aqui publicados servirem para ajudar a colocar questões politicamente importantes no mapa das análises funcionais das gerações vindouras de analistas do comportamento – e porque não das gerações atuais e das anteriores, tendo em vista a boa repercussão do texto inicial da Taisa? –, teremos cumprido nossa missão.