Autoras:
Débora Louyse Almeida Lapa &
Luiza Pinheiro Leão Vicari – Contato: luizavicari15@gmail.com
O número de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) vem crescendo nos últimos anos, de acordo o relatório norte-americano, de 2013, do Centers for Disease Control and Prevention/CDC (2013) estima-se que a prevalência do TEA é de 1 a cada 68 crianças. Nota-se que houve um aumento de quase 60% para 2006, que era de 1 para 110 crianças[1]. A organização não-governamental brasileira Autismo e Realidade estima uma população de 1,9 milhão de pessoas no Brasil, dentro do espectro.
O autismo é um transtorno descrito há mais de seis décadas que ainda hoje não foi completamente compreendido. Diversas teorias visam explicar as possíveis causas e os sintomas decorrentes do autismo (MATTOS, NUREMBERG, 2011). Os indivíduos com TEA podem apresentar grande variedade clínica, o que consequentemente, exige diferentes níveis de intervenções, tanto no âmbito escolar, quanto no âmbito clínico.
As crianças diagnosticadas com TEA requerem uma intervenção precoce, precisa e intensa. A literatura científica indica que as intervenções comportamentais são as que apresentam melhores resultados no tratamento do autismo (GOMES, SILVEIRA, 2016). A aplicação dos princípios desta ciência para resolução de problemas socialmente relevantes é chamada Análise do Comportamento Aplicada, ou ABA. De acordo com Gomes e Silveira (2016) a Análise do Comportamento pode ser aplicada no tratamento do autismo de três formas: aplicada a uma demanda específica, subsidiando uma intervenção padrão ou na intervenção comportamental intensa. Assim sua aplicação vai além da clínica psicológica, pois pode ser feita também no campo educacional.
“A Análise Aplicada do Comportamento tem como objetivo, na intervenção com pessoas diagnosticadas como autistas, desenvolver repertórios de habilidades sociais relevantes e reduzir repertórios inadequados, servindo-se, para isso, de métodos baseados em princípios comportamentais.” (GOULART & ASSIS, 2002, p. 155).
Independente do contexto ambiental no qual o individuo com TEA esteja inserido, a Análise do Comportamento Aplicada pode subsidiar intervenções direcionadas aos quadros de déficts e excessos no padrão comportamental. A intervenção pode ser focada na estimulação de habilidades e no processo de aprendizagem escolar (déficts), como também aos padrões repetitivos de comportamento (excessos). Por se tratar de um espectro, as intervenções são distintas a cada individuo com TEA, pois a variedade de características comportamentais é extensa. O termo espectro autístico foi introduzido por Lorna Wing (1988) e depois completado por Bishop (1989), que propõe a definição de uma entidade nosológica única para os quadros de autismo infantil – de baixo ou alto funcionamento, juntamente com a Síndrome de Asperger (CARDOSO, Fernandes, 2006).
A avaliação comportamental se faz necessária para analisar de modo funcional os comportamentos que serão alvo de intervenção. A partir desta, identifica-se as varíaveis mantenedoras de alguns comportamentos, ao considerar a relação organismo-ambiente e a seleção de respostas adaptativas e funcionais, por meio das consequências. No caso de individuos com autismo, diversos comportamentos são mantidos por reforçadores intrínsecos, ou seja, mantem e/ou aumentam sua frequência a estimulação sensorial que estes produzem. Outros comportamentos, mesmo que não produzam uma interação social adequada, podem ser mantidos por função social, mesmo que por reforço negativo, esquiva/fuga. Mesmo diante da análise desses comportamentos, vale ressaltar, que não podemos desconsiderar os aspectos filogenéticos (biológicos/neurológicos) que afetam o comportamento de individuos com TEA.
Toda essa compreensão minuciosa acerca do comportamento de um individuo com TEA são fatores importantes, pois além de proporcionar intervenções voltadas para a melhor qualidade de vida, podem contribuir para maior consciêntização sobre o tema e favorecer o processo de inclusão social do mesmo ao ambiente escolar.
As crianças que não possuem um desenvolvimento típico requerem do espaço escolar uma adaptação em sua estrutura e modelo educacional, afim de garantir a essas crianças o direito legal de usufruirem desse espaço de aprendizagem. Atualmente, o que observamos é o desafio de fazer cumprir a legislação em vigor, garantindo aos alunos com necessidades educacionais especiais, ingresso, permanência e aprendizagem nas escolas (GLAT, BLANCO, 2007).
As escolas, ao receber alunos com necessidades educacionais especiais contam com um novo personagem, o mediador escolar. O mediador tem uma função essencial na escolarização destas crianças, pois é aquele que, no processo de aprendizagem, favorece a interpretação do estímulo ambiental, chamando atenção para o seus aspectos cruciais, atribuindo significado à informação recebida, possibilitando que a mesma aprendizagem de regras e princípios sejam aplicados às novas aprendizagens, tornando o estímulo ambiental relevante e significativo, favorecendo o desenvolvimento (MOUSINHO et al, 2010).
Desse modo, o mediador atua como um facilitador na interação organismo-ambiente, auxiliando a criança na leitura do ambiente, na discriminação de estímulos, inclusive verbais, para que o individuo com TEA possa interagir de forma mais adaptativa com o meio. Pois, como nos aponta Mattos e Nuremberg (2011), é evidente a importância da mediação pedagógica nas trocas sociais, de modo a garantir que as barreiras existentes não impeçam a plena participação do educando com TEA.
A inclusão escolar pode ser possível quando facilitamos ao educando com TEA a interação efetiva com o ambiente, considerando suas especificidades que não são limites e sim, respostas diferenciadas para a essa relação. Analisada as características únicas de cada individuo, é possível utilizar de recursos científicos, como a Análise de Comportamento para ampliar o repertório comportamental dessas crianças, proporcionar mais qualidade de vida para os mesmos e suas famílias, além de contribuir para a inclusão escolar, uma vez que um acompanhante especializado pode auxiliar a criança a lidar com as contingências as quais está exposta. A inclusão é possível quando há adaptação do ambiente, recursos alternativos e trabalho multidisciplinar e científico.
Referências Bibliográficas:
ARAÚJO, Álvaro Cabral, NETO, Francisco Lotufo. A nova classificação Americana para os Transtornos Mentais- o DSM- 5. Rev. bras. ter. comport. cogn., São Paulo, vol.16 n.1 abr. 2014
CARDOSO, Carla; FERNANDES, Fernanda Dreux Miranda. Relação entre os aspectos sócio cognitivos e perfil funcional da comunicação em um grupo de adolescentes do espectro autístico. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri, v. 18, n. 1, jan.-abr. 2006
CUNHA, Nathália Moreira, GLAT Rosana, SILVA, Suzanli Estef, SIQUEIRA, Carla Fernanda Oliveira. O perfil e a formação do estagiário mediador para suporte da educação inclusiva. VII Encontro Nacional de Pesquisadores da Educação Infantil. Rio de Janeiro, 2012.
GOMES, Camila Graciella Santos, MENDES, Enicéia Gonçavles. Escolarização inclusiva de alunos com autismo na rede municipal de ensino de Belo Horizonte. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v.16 n.3,p.375-396, 2010.
GOMES, Camila Graciella Santos, SILVEIRA, Analice Dutra. Ensino de Habilidades Básicas para pessoas com Autismo: Manual para intervenção comportamental intensiva. Curitiba: Appris Editora, 2016
GOULART, Paulo, & ASSIS, Grauben José Alves de. (2002). Estudos sobre autismo em análise do comportamento: aspectos metodológicos. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 4(2), 151-165.
LIMA, Stéfanie Melo, LAPLANE, Adriana Lia Friszman. Escolarização de Alunos com Autismo: Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v. 22, n. 2, p. 269-284, Abr.-Jun., 2016
MATTOS, Laura Kemp, NUREMBERG, Adriano Henrique. Reflexões sobre a inclusão escolar de uma criança com diagnóstico de autismo na educação infantil Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 24, n. 39, p. 129-142, jan./abr. 2011.
MOUSINHO, Renata, MESQUITA, Fernanda, SCHMID, Evelin, PEREIRA, Juliana, MENDES, Luciana, SHOLL, Renata, NÓBREGA, Vanessa. Mediação Escolar e Inclusão: Revisão, Dicas e Reflexões. Revista de Psicopedagogia. Rio de Janeiro, v.27, n.82 p.92-108, 2010.
[1] Disponível em: http://www.revistaautismo.com.br/noticias/casos-de-autismo-sobem-para-1-a-cada-68-criancas. Acesso em 04 de Agosto de 2016.