Se fizéssemos uma enquete com os pais sobre o que é dar limites aos filhos, certamente as respostas seriam as mais variadas. Uns diriam que dar limite é deixar de castigo, outros que é bater, outros ainda que é saber dizer não.
Os conhecimentos em Psicologia, de forma particular na Análise do Comportamento demonstram a importância da utilização de métodos educacionais que sejam coerentes, regulares e constantes, pautados pelo diálogo, estabelecimento de regras e consequenciação compatível com a idade. Muitas são as dúvidas dos pais de como exercer cada um desses elementos, afinal, a experiência da paternidade e da maternidade não vêm com um manual e “as pessoas tornam-se pais sem que ninguém as tenha ensinado como dar conta desta responsabilidade” (Sidman, 2001, p.250).
Em nenhum momento a violência física é vista como eficaz. Na verdade, o que ela pode trazer é ainda mais afastamento, desrespeito e perpetuação do comportamento violento. A utilização da violência seja de forma verbal, psicológica ou física, ensina a criança que essa seria a forma eficaz de se relacionar e resolver conflitos. Elas passam a entender que “no grito” tudo se resolve de forma rápida e o problema acaba. Mas, na realidade, o problema se extinguiu pautado pelo medo, e não por uma resolução efetiva. (Bortolini & Andretta, 2013)
Diante de comportamentos ditos como problemáticos, por muitas vezes a primeira ação da família acaba por ser a de achar um responsável por aquilo estar ocorrendo. Seja colocar a culpa na mãe, no pai, nos avós, na escola ou mesmo na própria criança. Mas a proposta levantada aqui é justamente a de se fazer o movimento contrário. Antes de achar um culpado externamente, que tal olhar para as próprias ações? Afinal, como as minhas ações podem contribuir direta ou indiretamente para a ocorrência desse comportamento? Essa mudança de perspectiva muda o foco de um caráter de peso, julgamento e culpa para uma análise mais ampla de todo o contexto existente. Tira o foco do problema para olhar o todo.
Esse olhar mais global também nos permite avaliar os possíveis danos e dificuldades causados pela falta de limites a médio e longo prazo. Quando os pais passam pela situação de terem o seu filho fazendo birra em um shopping por exemplo, a tendência de ceder é grande. Afinal, ao cederem serão reforçados negativamente por cessarem o escândalo, a vergonha e o desconforto. Mas, qual é o impacto desse ceder com o passar dos anos? De uma forma mais imediata em curto e médio prazo teremos uma criança aprendendo por reforço positivo a seguinte logica: basta eu fazer birra que meus pais mudarão de ideia. Mas e a longo prazo? E quando essa criança de hoje virar um adolescente e um adulto? Como será que ela vai reagir a outros contextos como uma negativa de uma namorada, de amigos ou mesmo uma pressão a mais do chefe? Portanto, o que vemos aqui é que a intervenção parental sadia ao estabelecer limites vai ensinando gradativamente o valor de saber esperar, de tolerar a frustração e de saber receber um não. Assim, a criação das crianças de hoje ecoará diretamente na vivência de toda uma sociedade daqui a 10,15 ou 20 anos.
Referências
Bortolini, M., Andretta, I. (2013). Práticas parentais coercitivas e as repercussões nos problemas de comportamento dos filhos. Psicologia Argumento, 31(73), 227-235.
Fantinato, A.C., Cia, F. (2015). Habilidades sociais educativas, relacionamento conjugal e comportamento infantil na visão paterna: Um estudo correlacional. Psico, 46(1), 120-128.
Sidman, M. (2001). Coerção e suas implicações. Campinas: Livro Pleno.