Autores: Fábio Iannini de Castro/ Caroline Miranda Silva | 7 P. Psicol/ Centro Univ. Newton Paiva
Os comportamentos homossexuais datam de aproximadamente 1300 anos a.C. na Grécia antiga e tais práticas sexuais recebiam o nome de pederastia. Essas práticas eram vistas como normais e aceitas pelo contexto social da época, tanto que a pederastia estava inserida na educação dos jovens rapazes, que ao chegar à adolescência ficavam sob o cuidado de homens mais velhos e sábios, que lhes transmitiam os seus conhecimentos, visando o desenvolvimento de sua masculinidade (Dieter, 2012).
Em Esparta, o amor entre dois homens não era condenado, mas aceito e motivado pelas forças militares considerando que os soldados homossexuais, ao irem para a guerra, lutariam com mais força e bravura, porque não estariam defendendo somente o seu povo, mas também a pessoa amada. Os comportamentos homossexuais faziam-se presentes também no império Romano, não sendo vistos como anormais. Já em Roma, a homossexualidade estava muito atrelada à passividade, representava fraqueza e impotência política. Nesse ponto há uma diferenciação entre o tratamento dado a homossexualidade pela Grécia, em que os gregos podiam se envolver livremente com os jovens rapazes e por Roma, na qual a sexualidade estava atrelada a relações de poder e dominação, o relacionamento homossexual só era permitido com os escravos (Dieter, 2012)
No Brasil, as relações entre pessoas do mesmo sexo também eram permitidas e ocorriam nas tribos indígenas, mas com o advento das crenças Judaico-cristãs, essa concepção começou a mudar. Acresce que, na Idade Média, as religiões passaram a condenar a homossexualidade e qualquer prática sexual que não fosse para a reprodução passou a ser considerada antinatural e pecaminosa. Não bastasse, no século XIX tem-se a classificação da homossexualidade como doença mental pela medicina. Nesse contexto, alegava-se que os homossexuais teriam uma tendência à depressão, o que não justifica a classificação de um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo como patologia, pois qualquer pessoa independente de sua orientação sexual estaria sujeita a sofrer de depressão(DIETER, 2012). Em 1974, a homossexualidade deixa de ser considerada doença mental, mas somente em 1993 é retirada da CID, Classificação Internacional de Doenças.
Atualmente, essas posturas negativas estão sendo questionadas e apontadas como inadmissíveis pela comunidade e principalmente pelo público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), que vêm lutando por respeito, aceitação e visibilidade em seus movimentos.
Tal contextualização histórica se faz necessária, considerando que, com frequência, na sociedade contemporânea, infelizmente, ainda ocorre discriminação de pessoas homossexuais por aquelas que consideram a homossexualidade como prática pecaminosa ou doença. É importante ressaltar que essas crenças influenciam diretamente a construção dos indivíduos que se desenvolvem em sociedades como essas.
Homofobia é o termo utilizado para definir uma classe de respostas que tem diferentes formas, ações diversas que produzem uma mesma consequência na relação do indivíduo com o meio. Tendo uma mesma função de desumanizar, lutando contra os homossexuais, tratando-os de forma distinta, discriminando e não assegurando liberdade e uma série de direitos que independem de sua orientação sexual, como por exemplo, o reconhecimento de uniões entre pessoas do mesmo sexo como grupo familiar.
Para entender como se dá o aprendizado dos comportamentos homofóbicos e como eles se apresentam na sociedade é preciso entender o que está se chamando de homofobia.
“Dessa forma, uma possível definição de homofobia em termos comportamentais seria a de um conjunto de comportamentos complexos, envolvendo comportamentos operantes e respostas emocionais, relativos às várias modalidades de agressão (seja física, psicológica ou sexual) contra indivíduos homossexuais ou que se identifiquem com a cultura homossexual. ” (Fazzano e Gallo, 2015 p. 32).
Pode-se dizer que estamos inseridos em uma cultura homofóbica, que se utiliza de dois mecanismos de controle aversivo: 1) reforçamento negativo e 2) punição positiva e negativa. No primeiro, o indivíduo ao se deparar com contextos ambientais que lhe são aversivos (por conta de sua história tanto filogenética quanto ontogenética) se comporta (resposta) de forma a evitar consequências indesejáveis, fugindo ou se esquivando dessas, assim ele consegue retirar ou se livrar temporariamente daqueles estímulos aversivos do ambiente. E no segundo, à medida que uma ação do indivíduo (respostas) implica em receber consequências aversivas em função de ter se comportado de tal forma (punição positiva) ou a mesma ação pode implicar em consequências que retirem reforçadores em função de a pessoa ter se comportado de determinada forma.
Em exemplos cotidianos, do item 1) do reforçamento negativo, um homofóbico ao se deparar com um casal homossexual (contexto ambiental aversivo de acordo com a história dele) tem uma maior probabilidade de se comportar agressivamente (resposta), com a função de reduzir essa estimulação aversiva (consequência). Pense na seguinte situação para o item 2)-punições: duas pessoas do mesmo sexo se beijando em local público (resposta), posteriormente esse casal é agredido (estimulação aversiva) e como consequência a essa estimulação, o comportamento de se beijar em locais públicos tem sua probabilidade de ocorrência reduzida, o que caracteriza uma punição positiva. No caso da Punição negativa, pode-se dar um exemplo em que o mesmo casal se beijando (resposta), ao ser visto por uns amigos de infância dos quais eles gostavam bastante, a partir deste momento são ignorados por este grupo, que os exclui de sua rede social, na qual trocavam ideias, riam de piadas, etc. Deste modo, foi retirada a atenção, a amizade, e outras questões que eram prazerosas para este casal, em consequência ao seu comportamento homossexual, que tenderá a diminuir de frequência nessa ocasião publica, o que talvez explique em parte o porquê do receio de homossexuais em se beijarem ou se tocarem publicamente, o que caracteriza uma história punitiva, tanto por via da adição de estímulos aversivos como a agressão, como por via da punição negativa, como no caso do desprezo por parte dos queridos. Todavia, vale ressaltar que esses comportamentos agressivos podem ter sido selecionados também a nível filogenético, isso quer dizer que, a agressividade pode ter sido selecionada geneticamente ao longo da história evolutiva da nossa espécie. A agressividade foi um mecanismo de defesa e ataque, já que os seres humanos não possuem mecanismos de defesa muito sofisticados como camuflagem, garras afiadas, liberação de toxinas, dentre outros. Sendo assim, a agressividade filogeneticamente selecionada contribuiu para a sobrevivência e reprodução da nossa espécie.
Nada obstante, destaca-se que com a ontogênese (história individual do organismo com o meio) e as práticas culturais esses comportamentos selecionados filogeneticamente, podem assumir outras funções. Desse modo, conforme (Fazzano e Gallo, 2015 p. 36). “Torna-se, então, questionável o motivo de se considerar a presença de homossexuais como sendo estímulo aversivo. Deveras, não há, nesse caso, algo em si, no próprio estímulo, que seja aversivo e este parece ser um caso de aprendizagem. ”
Analogamente, esses comportamentos preconceituosos foram adquiridos através de três processos diferentes: 1) aprendizagem por regras, 2) por modelação e 3) direta por contingências; como exemplificado a seguir:
1) Aprendizagem por regras – É quando o indivíduo segue ou repete uma regra passada a ele, por exemplo:
2) Aprendizagem por modelação – Diz respeito a imitação de um comportamento que pode ter a sua ocorrência aumentada ou diminuída dependendo de suas consequências, por exemplo:
3) Aprendizagem por contingências – É quando dado comportamento ocorre em vários contextos da vida da pessoa e é seguido por reforçadores ou punidores, por exemplo:
Em síntese, pode-se dizer que os comportamentos homofóbicos são aprendidos ao longo da vida dos indivíduos, dentro de uma cultura na qual a heterossexualidade é naturalizada, pois essa está de acordo com as normas culturais vigentes na sociedade. Contudo, vale ressaltar que a definição do que é natural ou normal está relacionado com a cultura na qual se está inserido, e pode variar em diferentes contextos. Em resumo, os comportamentos são selecionados pela comunidade/contexto no qual o indivíduo está inserido, seja através de punições como agressões, desaprovação ou reforçamento como aceitação, atenção, dentre outros.
Diante disso, mesmo considerando que a homofobia possa ter bases filo e ontogenéticas, considera-se que em termos cotidianos, refere-se a comportamentos que tem sido reproduzidos socialmente. Por isso é necessária uma ampliação da discussão acerca da homofobia e elaboração de intervenções que possam agir diretamente no contexto social e cultural, visando questionar e modificar uma série de contingências e práticas que dão manutenção a esta forma de discriminação, e que tem implicado em uma questão de negação de direitos humanos, inclusive, quando a discussão se torna ainda mais profunda.
Referências
BARRETO, Wanderson; RIBEIRO, Michela Rodrigues. Homossexualidade, coerção e homofobia em “Orações para Bobby”. Skinner vai ao cinema, Brasília, v.2, p. 90-110. 2014.
DIETER, Cristina Ternes. As raízes históricas da homossexualidade, os avanços no campo jurídico e o prisma constitucional.Instituto Brasileiro de Direito da Família. Belo Horizonte. 2012. Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/_img/artigos/Critsina%2023_03_2012.pdf.Acesso em: 13/04/16.
FAZZANO, Leandro Herket; GALLO, Alex Eduardo. Uma Análise da Homofobia Sob a Perspectiva da Análise do Comportamento. In: FAZZANO, Leandro Herkert. Análise do fenômeno da homofobia: identificando contingências envolvidas. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2014. P. 26-46.
HENNING, Francieli. Da Psicologia Evolucionista à Abordagem Comportamental: Um novo modo de entender o desenvolvimento infantil. Revista de extensão e iniciação científica UNISOCIESC – REIS. V.1, n. 1, p. 54 – 65, 2015.
ZORTEIA, Tiago. Agressividade humana: contingências, filogênese e evolução. Comporte – se: Psicologia e Análise do Comportamento. Abril. 2013. Disponível em: https://comportese.com/2013/04/agressividade-humana-contingencias-filogenese-e-evolucao/. Acesso em: 13/04/16