Um ano novo, tudo novo. Será?

Diante de mais um início de ano se apresentam as mais variadas promessas de mudança. Sejam metas específicas como emagrecer, parar de beber ou de fumar, praticar atividade física, ou até mesmo aquelas mais amplas como reclamar menos, sair mais com os amigos e ser feliz. Tudo muito bonito na teoria, mas… como colocar em prática? Como sair do campo das ideias para a execução? E por que com o passar dos meses do novo ano essas promessas vão se esvaindo?

Uma primeira observação quando falamos de lista de tarefas se refere em quão objetiva e palpável está sua descrição. Afinal, quanto mais especificarmos, estaremos mais perto de traçar um plano de ação. Mas ainda não é o suficiente. A execução exigirá de nós autoconhecimento e autocontrole.

Autoconhecimento, pois teremos que estar cientes da origem e manutenção de nossas dificuldades e nossas habilidades. Essa meta é tão nova assim mesmo? Ou será que já vem sendo um objetivo há muito tempo, mas que não conseguimos colocar em ação? Se for uma meta nova, seria importante avaliar o que está nos levando a ela. Ou seja, quais são as variáveis envolvidas que me podem impulsionar ou dificultar a sua aplicação? Se já é uma meta antiga, a qual mais uma vez é recolocada entre os objetivos atuais, vale uma análise de contextos anteriores. O que me fez não seguir adiante da última vez que tentei implantá-la? Colocá-la na minha rotina significa perder quais recompensas? Que outros comportamentos podem dificultar sua execução?

Afinal, diante de uma meta nova, ainda não implementada em nossa rotina, teremos que rearranjar situações e haverá concorrência entre o hábito já previamente confortável e estabelecido em relação a nova meta, que exigirá mudanças. Diante de perguntas que o indivíduo se faz, ensinados por sua comunidade verbal, ele se torna cada vez mais capaz de se observar e discriminar seus comportamentos. E, consequentemente, passa a estar em melhores condições de alterá-los e gerar variabilidade comportamental. Ou seja, o indivíduo passa a estar cada vez mais apto para perceber que comportamentos não lhe são favoráveis, gerar alternativas e ir testando e refinando seus novos comportamentos.

Por isso o autocontrole também é essencial. Ele nos permite deliberar quanto ao adiamento de determinadas recompensas imediatas em nome de um objetivo maior. E quanto melhor me conheço, sei descrever meus comportamentos e os contextos em que estão inseridos e meus objetivos a curto, médio e longo prazo, estarei em melhores condições de me autocontrolar.

“Uma pessoa que se tornou consciente de si mesma por meio de perguntas que lhe foram feitas está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento” (Skinner, 1974)

Outro ponto importante em relação às “metas de ano novo” se refere a procrastinação que decorre em sequência a todo o entusiasmo “da virada”. Mas o que muda do dia 31 para o primeiro dia útil que se segue? Praticamente todas as variáveis. O último dia do ano vem permeado muitas vezes de todo um contexto social que nutre a aspiração e expectativa de uma mudança quase que radical em vários aspectos. A rotina e a realidade que se segue muitas vezes não acompanha tamanhas expectativas. Passa a ficar evidente que implantar mudanças exige muito além do que “vontade”. Exige observação e descrição de nossos comportamentos. Exige autoconhecimento e autocontrole.

Referências

Skinner, B. F. (1974). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.

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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

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