Um retorno ao modelo de seleção por consequências e uma breve definição de operante

Alguns conceitos são de suma importantes para determinadas teorias, tal importância, só demonstra a necessidade de sempre voltarmos nossos olhares para eles, nesse texto, busco de forma rápida, apenas relembrar e relacionar dois dos principais conceitos que baseiam o behaviorismo radical, a seleção por consequências e o comportamento operante. A compreensão desses princípios é fundamental para o aprimoramento de técnicas e desenvolvimento novas abordagens que respondam a desafios da contemporaneidade, além disso, manter a clareza sobre esses conceitos é essencial para garantir uma aplicação precisa e efetiva das intervenções comportamentais e o entendimento de suas bases  epistemológicas.

Modelo de Seleção por Consequências

No artigo nomeado Selection by consequences, publicado na revista Science, em 1981 Skinner introduz uma nova forma para compreendermos o comportamento humano, observando a relação entre o mundo em que vivemos, a forma que agimos nele e a consequência gerada nessa relação, esse modelo ficou conhecido como Modelo de Seleção por Consequências, que inicialmente foi notado no processo de seleção natural, e  por meio de suas observações, Skinner (1981) foi capaz de aplicá-lo aos comportamentos dos indivíduos e a manutenção de práticas culturais.

O processo de seleção pode ser notado em três instâncias, a filogenética, em que temos os comportamentos selecionados por meio do processo de seleção natural, as consequências que afetam e moldam o ambiente são aquelas referentes à sobrevivência da espécie, como pensado por Lopes e Laurenti (2014). Para Skinner (1981) o comportamento evolui para que se desenvolvam as formas com que o organismo se relaciona com o ambiente em que está.

Em uma segunda instância de seleção, podemos localizar a ontogenética, e é nesse nível que ocorre a seleção do comportamento operante, porém, antes de aborda-lo, vamos entender o terceiro nível de seleção, esse é chamado de cultural, aqui a seleção ocorre por meio das interações dos indivíduos com o meio social, e o objetivo é manter as práticas vivenciadas por um determinado grupo[2]. Nesse sentido, Skinner (2006)  entende a cultura as várias características determinadas por um grupo, ou seja, é um conjunto de contingências de reforço de uma  população, normalmente, essas contingências se originam de regras e leis.

No segundo nível de seleção, o ontogenético, são selecionados os comportamentos operantes.  A definição do conceito de comportamento operante foi evoluindo durante as obras de Skinner. Todorov (2002) demonstra essa evolução, segundo ele, Skinner (1938) propôs que como todo comportamento que não apresentasse um estímulo eliciador, de forma direta,  todo comportamento que não é respondente.

 Algum tempo depois, Skinner (2003) leva a definição de operante a um novo nível, entendendo-o como uma classe de resposta, ou seja, transforma o termo em um unidade medida que pode ser utilizada por uma ciência que objetive prever os comportamentos de forma complementar, a definição para operante, pode ser notada também na ênfase dada a relação do organismo com o ambiente em que vive, ou “opera”  gerando consequências. Todorov (2002) relembra o pensamento de Skinner (1957) que relaciona essa definição à possibilidade de predição do comportamento, entendendo as instâncias em que aqueles comportamentos passam a existir, para que então possa ser possível buscar as leis em que operam.

Referência Bibliográfica:

Laurenti, C., & Lopes, C. E. (2014). Comportamentalismo. In Fundamentos Filosóficos da Psicologia Contemporânea. Editora UFRJ.

Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms: An experimental analysis. New York, Appleton-Century. 

Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New York, Appleton-Century-Crofts.

Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences. Science, 21. 501–504.

Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (J. C. Todorov & R. Azzi, Trans.). Martins Fontes. (publicado originalmente em 1953)

Skinner, B. F. (2006). Sobre o behaviorismo (M. da Penha Villalobos, Trans.; 10th ed.). São Paulo Cultrix. (publicado originalmente em 1974)

Todorov, J. C. (2002). A evolução do conceito de operante. Psicologia: Teoria E Pesquisa, 18(2), 123–127. https://doi.org/10.1590/s0102-37722002000200002

 

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Escrito por Gabriel Bassani

Psicólogo Clínico e Pós-graduando em Análise Comportamental Clínica (PUC-PR). Participante do 22º Seminário de Iniciação Científica, promovido pela Coordenadoria de Pesquisa da Universidade Tuiuti do Paraná, com o tema “Regulação Emocional e Comportamentos Antissociais”

E-mail de contato: grodriguesbgabriel@gmail.com

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