“É Deus mamãe!”: o cérebro, apofenias e o sobrenatural religioso

Nossos cérebros são máquinas muito interessantes e bem elaboradas. Uma das coisas que máquinas cerebrais mais adoram fazer, invocando seu potencial cognitivo, é dar sentido às coisas. Cérebros são inquietos, e costumam não se contentar com coisas aparentemente sem sentido, ou que possam soar como “desconhecidas”.

Neste sentido, nossa cognição “força” a máquina do cérebro todas as vezes em que se depara com experiências que não se encaixam facilmente em categorias prévias de conhecimento. As chamadas “apofenias” são um bom exemplo disso. Veja a imagem abaixo. São gavetas, correto? Mas pode ser que você tenha percebido a forma de um rosto sorridente também (dois olhos, nariz e boca sorrindo). Por que? Por conta de um tipo de apofenia chamada Pareidolia. O seu cérebro, essa máquina fantástica de captar sentido no mundo, fez isso com sua perceção.

As pareidolias são uma capacidade robusta considerada o resultado de eras de seleção natural favorecendo as pessoas mais capazes de identificar rapidamente o estado mental, por exemplo, de pessoas ameaçadoras, proporcionando assim ao indivíduo uma oportunidade de fugir ou atacar preventivamente. Esta habilidade, embora altamente especializada para o processamento e reconhecimento de emoções humanas, também funciona para determinar o comportamento da vida selvagem.

Gavetas ou Rosto sorridente?

De um modo geral as Apofenias são uma propensão humana a buscar padrões em informações aleatórias. Parece haver uma vantagem evolutiva em mapear, o mais rápido possível, informações sobre o ambiente que possam garantir condições ótimas de sobrevivência e reprodução. Identificar padrões pode ser útil tanto para aumentar chance de acasalamento quanto de vida/morte. Porém, essa “mágica” de nosso cérebro pode gerar coisas engraçadas, perigosas, ou as duas coisas juntas. E o sobrenatural, junto com a religião, tem um papel curioso nisso tudo. Na década de 90, no Brasil, uma mancha em uma janela se tornou um local de peregrinação religiosa. As pessoas acreditaram se tratar de uma imagem de uma santa.

Mesmo após a Igreja Católica ter analisado o caso e REJEITADO PUBLICAMENTE o mesmo enquanto um milagre ou coisa similar, o lugar se tornou espaço de peregrinação.

O Fenômeno de ver Santas e Santos é incansável. Recentemente, a santa resolveu sair da janela para aparecer em uma churrasqueira, em Pernambuco.

Porém, o melhor exemplo desta incansável busca em encaixar fatos aleatórios em padrões previamente conhecidos de cunho religioso, disponível na internet, é o famoso vídeo do “redimunho sagrado” (redemoinho). Perceba, ao assistir o vídeo, como fatos aleatórios vão se conectando com símbolos, narrativas e emoções religiosas.

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Escrito por Tiago Tatton

piadista inveterado, torcedor do Flamengo e pai da Clara Luz. Nas horas vagas é psicólogo, especialista e mestre em Ciência da Religião (UFJF/MG), doutor em Psicologia (UFRGS/RS e King´s College Londres), pós-doutor em Psiquiatria e Ciências do Comportamento (UFRGS/RS). Diretor Geral da Iniciativa Mindfulness. Em 2016 completou o Mindfulness Advanced Teacher Intensive pela Universidade da California em San Diego (USA).

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