Em um mundo permeado de impessoalidade e distanciamento, a conexão tem se mostrado cobiçada, pode aparecer no desejo por likes, seguidores, comentários. Ela está ali, mesmo quando disfarçada.
Não é novidade que os seres humanos são sensíveis a interação social e que a validação social, a atenção, tem seu potencial de reforçamento. Continuamos a postar, a curtir, a publicar, e continuamos na vigilância de likes e de números de seguidores.
É comum encontrar a descrição do comportamento de coragem ligado a situações de alto risco – como por exemplo, falar em frente a um grande público, posicionar-se politicamente, saltar de paraquedas. Considerando o risco, o potencial de punição social ou até mesmo o risco de acidentes ligados a prática de um esporte radical, podemos considerar que nestes contextos a uma grande probabilidade de que a pessoa que está se expondo (se arriscando) provavelmente estaria em contato com sensações de medo, pensamentos relacionados a desistir daquela tarefa, sudorese, taquicardia, dores de barriga, tremor.
Apesar de a coragem ser um sentimento considerado socialmente como desejável, positivo. O medo é considerado como indesejado, fraqueza, vulnerabilidade. Considera-se ainda que “vulnerabilidade é incerteza, risco e exposição emocional (Brown, 2013 p.28)”. Como construir uma vida permeada por coragem sem aproximar-se do medo?
No livro, Brown (2013) cita uma lista de respostas que descrevem comportamentos considerados como de vulnerabilidade, sendo algumas destas:
– expressar uma opinião impopular;
– dizer “não”;
– ajudar minha esposa de 37 anos com câncer de mama em estágio avançado a tomar decisões sobre seu testamento;
-mostrar alguma coisa que eu escrevi ou alguma obra artística que eu tenha criado;
-se apaixonar;
Considerando o desejo de grande parte das pessoas (se não todas) de amarem e serem amadas, há maior risco que esta exposição? Não haveria medo ligado a isso? O ou a parceira/o poderia decidir ir embora, podemos ser traídos durante um relacionamento, podemos nos frustrar com a pessoa que conheceremos, podemos perder essa pessoa antes do que sonhávamos (Brown, 2013).
Amar é um grande risco, por ser tão arriscado é considerado um ato corajoso. Consideramos como coragem, comportamentos que teriam probabilidade de punição, e que apesar desta consciência, decidimos por fazê-lo. E por que alguém conscientemente decidiria por realizar um comportamento com grandes chances de ser punido?
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) responderia que, uma pessoa consciente do que é valioso em sua vida, poderia decidir por agir com base em seus pensamentos (e.g., de medo) ou na direção, no sentido, da vida que almeja construir. Sendo assim, uma pessoa consciente das consequências sociais e consciente sobre seus próprios valores, estaria apta a seguir na direção do medo com a segurança de que está realizando o que considera realmente importante, apesar da incontrolabilidade do resultado desta escolha. Não se controla as consequências deste comportamento relacionado aos valores, assim como não se pode escolher entre o medo ou a coragem. Neste contexto é importante aprender a escolher pelos caminhos da vida que valorizamos, seguindo em direção a eles.
“Evitar e escapar de emoções são as principais formas de controle dos eventos encobertos, e que a saída é aceitar estes mesmos eventos dos quais tendemos a fugir, pois quanto mais exercemos controle sobre os eventos encobertos, menos temos sobre nossas vidas (Saban, 2015, p.44)”
Referências:
BROWN, B. A coragem de ser imperfeito. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.
SABAN, M. T. Introdução à terapia de aceitação e compromisso. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2015.