Parte 3 – Possíveis Modelos de Registro Comportamental na Terapia Analítico Comportamental Infantil

Na Parte 1 e na Parte 2, foram vistos os protocolos das Emoções, dos Objetivos Terapêuticos com a criança, da Interação Pais & Filhos e do Contrato Terapêutico. Nesta Parte 3, serão apresentados os protocolos dos Objetivos Terapêuticos com os pais, do Diário do Comportamento e das Refeições, para os pais e/ou outros responsáveis preencherem.

Abaixo, seguem os modelos.

– Protocolo dos Objetivos Terapêuticos

Figura 1. Folha do Protocolo dos Objetivos Terapêuticos

Este protocolo, denominado “Objetivos Psicoterapêuticos”, tem o propósito de delinear objetivos terapêuticos com os pais e/ou outros responsáveis da criança, permitindo uma definição clara sobre quais classes comportamentais poderão ser trabalhadas ao longo das sessões com a criança. Para mais informações sobre o diálogo da construção dos objetivos terapêuticos com a criança e com seus pais, conferir [1].

Assim como no delineamento dos objetivos terapêuticos com a criança (mencionado na primeira parte do artigo), é importante levar em consideração que essa construção precisa ter um maior enfoque na aquisição de novos repertórios e habilidades, dando preferência em abarcar classes comportamentais que não são restritas às circunstâncias específicas. Para maior compreensão acerca dessa construção no geral, confira [2].

A folha (Figura 1) é composta por uma tabela dividida em duas colunas, uma com o título “comportamentos a serem aumentados de frequência” e outra “comportamentos a diminuírem de frequência”. Por nossa cultura ser dualista e mentalista, foi proposto uma “observação” embaixo da tabela, sinalizando que comportamentos são sentimentos, pensamentos e ações.

Protocolo Diário do Comportamento

Figura 2. Primeira folha do Diário do Comportamento
Figura 3. Segunda folha do Diário do Comportamento

Este protocolo é composto por duas folhas e foi denominado como “Diário do Comportamento”. Ele possui o objetivo de coletar informações para a construção da análise funcional dos comportamentos da criança. Essa coleta pode se tornar mais fidedigna quando orientado aos pais e/ou outros responsáveis a preencherem, por um certo período estipulado, assim que a criança emite determinados comportamentos.

Torna-se importante este tipo registro, uma vez que, no momento da entrevista com os pais e/ou outros responsáveis, informações podem ser omitidas acidentalmente, esquecidas ou até mesmo variáveis de controle dos comportamentos da criança não terem ainda sido identificadas. Esse registro também pode estabelecer uma linha de base para ser comparado com o após a intervenção, a fim de avaliar os seus efeitos. Além disso, o protocolo pode proporcionar autoconhecimento aos pais e/ou outros responsáveis ao identificarem como reagem frente a determinados comportamentos da criança, podendo aumentar as chances de mudança de suas reações.

A primeira folha (Figura 2) é composta pelas colunas “data e horário”, “contexto”, “comportamento” e “consequência de curto prazo”. Na primeira linha, são dados exemplos, com linguagem acessível, acerca do significado de cada coluna, com a função de minimizar dúvidas no momento de registro. São esses exemplos: “data e horário” – dia e horas; “contexto” – o que aconteceu antes, presença de quem, demandas, ocasião; “comportamento” – o que é feito, pensado ou sentido; “consequência de curto prazo”: o que ocorre imediatamente ou pouco tempo depois, reação das pessoas, o que a criança ganha ou se livra. Na segunda linha, é descrito uma situação hipotética, preenchendo todas as colunas, que poderá funcionar como um modelo para os pais ou outros responsáveis em como realizar o registro.

A segunda folha (Figura 3) complementa a primeira, sendo adicionado mais duas colunas, “consequências de longo prazo” e “efeitos”. Ela pode ser utilizada dependendo dos objetivos do(a) psicólogo(a) para o caso em questão. Assim como na primeira folha, na primeira linha, foram dados exemplos do que significa os termos de cada coluna. São eles: “consequências de longo prazo” – o que ocorre depois de um certo tempo, reação das pessoas, o que a criança ganha ou se livra depois de um certo tempo; “efeitos” – frequência e emoção. Na segunda linha, prosseguiu-se a situação hipotética iniciada na primeira folha.

– Protocolo das Refeições 

Este protocolo foi denominado como “Monitoramento Alimentar Parental Semanal”. Seu objetivo é proporcionar automonitoramento de pais e/ou outros responsáveis no seguimento das orientações passadas pelo(a) psicógolo(a), a fim de criar condições para que a criança se comporte adequadamente no contexto das refeições principais (café da manhã, almoço e janta). O registro também pode proporcionar ciência ao profissional quanto a esse cumprimento pelos pais e/ou outros responsáveis. Além disso, posteriormente, há oportunidade em explorar mais informações acerca dos comportamentos da criança e de suas variáveis de controle.

Figura 4. Folha do Protocolo das Refeições

Anteriormente à aplicação do registro, sugere-se que o(a) psicólogo(a) oriente os pais e/ou outros responsáveis sobre a construção de regras, da importância de serem um modelo adequado, de como poderiam tornar as refeições mais interessantes e como poderiam valorizar o empenho da criança, no contexto das refeições.

Na folha (Figura 4), há a seguinte instrução: “ao final de cada refeição, assinale com um “x” o item que procurou cumprir”. Assim, os pais e/ou outros responsáveis deverão dar um “check” se se comportou conforme as descrições, localizadas à esquerda da folha, ao longo da semana (exceto aos finais de semana). As frases são curtas, objetivas e foram escritas na afirmativa. São elas, de cima para baixo, na ordem: “Fui consistente nas regras”; “Fui modelo que gostaria que meu filho(a) seguisse”; “Tornei o momento mais interessante conforme as orientações”; “valorizei o empenho do meu filho(a)”.

– Protocolo das Refeições (2)

Figura 5. Folha do Protocolo da Rotina Alimentar

Este protocolo foi denominado “Minha Rotina Alimentar”, com o objetivo de realizar uma coleta mais fidedigna de informações sobre quais alimentos e a quantidade que a criança ingere ao longo da semana, para além do relato nas entrevistas com os pais e/ou outros responsáveis. Em complemento, a fim de construir análises funcionais mais completas, sugere-se indicar simultaneamente o registro da rotina do dia a dia da criança, podendo possibilitar possíveis relações do alimento e/ou sua quantidade com momentos ou tarefas específicas do seu dia. Por exemplo: no dia anterior destinado à criança passar o final de semana na casa de seu pai, ela pode ingerir altas quantidades de doce. Essa situação pode dar oportunidade para o(a) psicólogo(a) investigar melhor essa situação durante as sessões psicoterápicas. 

Na folha (Figura 5), há colunas com todos os dias da semana e o horário. Em cima dessas colunas, há a seguinte instrução: “sinalize o horário e descreva a refeição ou o petisco que a criança ingeriu, conforme os dias da semana”.

Confira a Parte 4 (última) deste trabalho para visualização dos demais protocolos.

Para ter acesso aos referidos protocolos, mande um email para a autora, amandapsico8@gmail.com, ou um direct no Instagram @guiapraticodospequenos, página que auxilia a prática de psicólogos infantis.

Referências

[1] Moura, C. B. D., & Venturelli, M. B. (2004). Direcionamentos para a condução do processo terapêutico comportamental com crianças. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva6(1), 17-30.

[2] Chaud, N. C. Q. (2018). Reflexões sobre o estabelecimento de objetivos terapêuticos na clínica analítico-comportamental. Em A. K. C. R. de- Farias, F. N. Fonseca, & L. B. Nery (Orgs.), Teoria e Formulação de Casos em Análise Comportamental Clínica. Porto Alegre: Artmed.

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Escrito por Amanda Viana dos Santos

Psicóloga infantojuvenil (CRP - 09/14306). Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com Prêmio Mérito Acadêmico Magna cum laude. Mestranda na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Coordenadora da Comissão de Estudantes da ABPMC (2021). Professora convidada do curso de Pós-Graduação em Terapia Analítico-Comportamental Infantil do IBAC. Pós-graduanda em Terapia Analítico-Comportamental Infantil pelo Instituto Skinner. Durante a graduação, foi membro do Laboratório de Análise Experimental do Comportamento/PUC GO, realizando iniciações científicas na área do comportamento de escolha, autocontrole e estilos parentais (bolsista CNPq). Criadora do projeto Guia Prático dos Pequenos, disponível no Instagram @guiapraticodospequenos. E-mail: amandapsico8@gmail.com

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