Assertividade e práticas culturais: um diálogo possível

INTRODUÇÃO

É um fato que os estudos em Habilidades Sociais (HS) vêm se tornando cada vez mais frequentes e relevantes para o entendimento e manejo do comportamento humano. Várias abordagens da psicologia têm focado cada vez mais em desenvolver estudos sobre tal tema e estão possuindo ótimos resultados, como a abordagem Cognitiva, a Sociocognitiva e, a utilizada nesse artigo, a Análise do Comportamento [1].

Para além de uma aplicação em uma área do conhecimento específica, os estudos decorrentes da temática de HS colaboram para um melhor entendimento sobre o comportamento humano como um todo, no qual diversos grupos sociais e, atravessando diversas áreas, podem se beneficiar de tais conhecimentos. Isso porque, é impossível falar de Habilidades Sociais sem nos remetermos a relações interpessoais, e todos nós possuímos tais relações, tornando clara a relevância de tal tema, devido a promoção de saúde mental e qualidade de vida tanto individual quanto coletiva [1].

HABILIDADES SOCIAIS E ASSERTIVIDADE

Antes de começar a falar sobre conceitos e classes, é importante lembrar que a definição de Habilidades Sociais não é consensual. Por isso, friso a importância de estudar e conhecer sobre para poder escolher a definição que achar mais coerente. A que vou utilizar aqui foi desenvolvida pelo casal Almir e Zilda Del Prette, que são referências para o estudo na área e utilizam a abordagem analítico comportamental.

A expressão Habilidades Sociais, pode ser entendida e utilizada a partir de dois significados, um mais amplo, conhecido como o campo teórico-prático, e outro, mais restrito, reconhecido como campo conceitual [1]. Dentro do campo conceitual, uma classe de HS muito importante é conhecida por assertividade, que, em teoria, são os comportamentos socialmente desejáveis, ou seja, guiados por valores e ideais pertencentes a uma cultura vigente.

A assertividade é uma classe ampla, que engloba comportamentos como: defender direitos próprios e coletivos, questionar ou discordar de certos comportamentos, fazer ou recusar pedidos, pedir desculpas e admitir falhas, além do manejo de críticas – aceitar, fazer ou rejeitá-las – entre outros [1]. Com essa definição, um questionamento marca presença: “mas, como emitir e manter comportamentos assertivos se o meio cultural onde estou inserido não os valorizam?”. Trazer essa dúvida é algo delicado, pois, de fato, estamos inseridos em uma sociedade que valoriza mais comportamentos passivos e agressivos do que comportamentos assertivos, que valoriza mais extremos do que o equilíbrio, e agora?

CULTURA E SOCIEDADE 

É importante que, para tomar uma posição crítica e reflexiva sobre situações, processos e ensinamentos que foram naturalizados ao longo do tempo, tenhamos conhecimento sobre questões históricas, culturais e sociais do grupo em que estamos inseridos. Para Skinner [2], uma série de comportamentos se transforma em padrões de um certo grupo quando respostas específicas são reforçadas em detrimento de outras, que sofrem ou extinção, ou punição.

A partir disso, é possível identificar que os comportamentos que, hoje, podemos interpretar como indesejáveis, passaram por um processo de aprendizagem, por processos de reforçamento para se instalarem e, além disso, foram praticados por várias pessoas, por vários grupos sociais. Consequentemente, é perceptível nos dias de hoje um nível de sofrimento emocional considerável, que indivíduos sentem por não saberem se comportar de outra forma, já que não foram ensinados e não possuem repertório para isso.

TREINO DE HABILIDADES SOCIAIS

O treino de HS ocorre em processo psicoterápico, o que deixa nítida a importância de todos fazerem terapia. Esse treino, de forma basilar, nada mais é do que reformular processos de aprendizagem para determinado comportamento em condições mais oportunas do que quando estruturados anteriormente [1].

Para isso, é imprescindível que seja citada aqui a importância do autoconhecimento que, de acordo com Skinner [3] “pode ser concebido como a capacidade de observar/descrever os próprios comportamentos e de explicá-los em termos de possíveis variáveis associadas”. Além de ser proporcionado pelo processo terapêutico, é através desse autoconhecimento que haverá a possibilidade de o próprio sujeito identificar comportamentos indesejáveis presentes em seu repertório e pensar em alternativas que instalem comportamentos mais assertivos, onde o psicólogo vai guiá-lo nesse processo.

Com isso, o ponto chave aqui é propor uma transformação de perspectiva, para possibilitar uma melhora no repertório comportamental dos sujeitos, substituindo o que antes era um comportamento naturalizado, onde o indivíduo não tinha consciência das variáveis que o controlavam, por um comportamento assertivo consciente, que seja instalado intencionalmente, à medida que o indivíduo avalie ser algo saudável para si.

Portanto, é importante que as produções acerca das HS sejam estudadas a fundo, e, além disso, acreditar que a instalação e manutenção das Habilidades Sociais  e, especificamente, dos comportamentos assertivos nos indivíduos pode proporcionar uma melhor qualidade de vida para ele e para o grupo em que está inserido, possibilitando, assim, transformar concepções, já que “um dado ambiente social pode mudar extensivamente no período de vida de um indivíduo” [2].

REFERÊNCIAS

¹ Del Prette, A; Del Prette, Z. A. P. Competência Social e Habilidades Sociais; manual teórico-prático – Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2017.

² Skinner, B. F. Ciência e comportamento / B. F. Skinner; tradução João Carlos Todorov, Rodolfo Azzi – 11° ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2003.

³ Skinner, B. F. Sobre o behaviorismo / B. F. Skinner; tradução de Maria da Penha Villalobos – 10° ed. – São Paulo: Cultrix, 2006.

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Escrito por Vinicius Cutrim

Graduando em Psicologia pela Universidade CEUMA (2018). Presidente Fundador da Liga Acadêmica de Terapias Analitico-Comportamentais Contextuais (CEUMA). Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Sexualidade Humana. Pesquisador no Grupo de pesquisa "Psicologia Escolar, Educação e Educação Especial: Processos de Desenvolvimento e Intervenção" da mesma universidade. Atuo como assistente terapêutico com pessoas neurodiversas e como estagiário na Contextual - Instituto de Terapias Comportamentais. Possuo interesse de estudo nos temas de Psicologia Clínica e Escolar, terapias contextuais, educação e sexualidade humana.

Curso: “Interface entre Psicoterapia e Medicina para o tratamento de Transtornos Mentais – Resultados promissores de uso de psicodélicos”

Curso: Maratona da Psicoterapia Infantil e Orientação de Pais