O Impacto do uso Excessivo das Redes Sociais nas Habilidades Sociais

Temos observado ao longo dos anos o avanço da tecnologia, e o quanto isso tem impactado em muitas áreas da nossa vida, principalmente nas nossas relações interpessoais.  As cartas, os telefonemas e as visitas muitas vezes são substituídas pelas tecnologias como os aplicativos de mensagens. Mas até que ponto tal avanço tecnológico pode prejudicar nosso repertório de Habilidades Sociais.

A dependência tecnológica é caracterizada pela falta de controle de um indivíduo sobre seu uso de internet, jogos e smartphone. Existem algumas características que demonstram que alguém está sofrendo com a dependência tecnológica:

1) preocupação demasiada com a internet;

2) necessidade de maior tempo conectado para obter a mesma satisfação;

3) grande esforço para diminuir o tempo na internet, sem sucesso;

4) presença de depressão e/ou irritabilidade com suspensão do uso;

5) internet se apresenta como forma de regulação emocional, onde a restrição do seu uso gera labilidade emocional;

6) permanecer mais tempo conectado do que o programado;

7) prejuízo no trabalho e relações sociais;

8) mentiras associadas a quantidade de horas na internet (Young et al, 2011).

Ainda segundo Young et al (2011), o uso excessivo da internet pode ser uma distração e uma resposta-problema do indivíduo como tentativa de manejar déficits em Habilidades Sociais, que são definidas como a habilidade do indivíduo de se comportar de maneira adequada em diferentes ambientes (Del Prette & Del Prette, 2009), no entanto, quando há déficits em Habilidades Sociais é possível desenvolvê-las. Segundo Bueno et al.  (2001), o Treinamento de Habilidades Sociais (THS) se constitui numa abordagem mais ampla, por aplicar-se a qualquer dificuldade de natureza interpessoal, como habilidades de comunicação, resolução de problemas, de cooperação.

As redes sociais podem ser, a princípio, consideradas ambientes convenientes e posteriormente fonte de reforços e prazer, porém não resolve as questões que levaram ao comportamento compulsivo, nas quais as inabilidades permanecem e o ciclo de dependência é continuado.

 Deixamos de estar em contato com contingências reais, ou seja, através das redes sociais não temos acesso as reações expressas por quem estamos interagindo, perdendo assim uma habilidade importante, a de identificar as emoções no outro.

Assim, o THS serve como intervenção auxiliar de tratamento, na prevenção dos comportamentos dependentes e de recaída, uma vez que novas habilidades são aprendidas para lidar com as potenciais situações de recidiva. Neste sentido, o envolvimento com pessoas significantes na recuperação auxilia o dependente a manter a abstinência e serve como estratégia de prevenção, já sendo utilizado para este fim em dependências de substâncias (Del Prette & Del Prette 1999).

Neste contexto, o desenvolvimento de Habilidades Sociais pode ser um importante fator de proteção e resiliência, pois aumenta a capacidade para lidar de forma adaptativa a situações de estresse. Assim, o THS propõe tratar estes déficits sociais, tais como: Dificuldade em iniciar e manter conversação, abordar desconhecidos, dificuldade em fazer amizades Inassertividade entre outros, e consequentemente, beneficiar o tratamento do indivíduo (Del Prette & Del Prette, 2004).

Inicialmente, é realizado uma avaliação para orientar o planejamento e objetivos, a partir de entrevistas observação, inventários, medidas sociométricas e autorregistro, a fim de identificar déficits, seus antecedentes e consequentes. Só então são selecionadas as técnicas adequadas (Murta, 2005).

Segundo Del Prette e Del Prette (1999), o THS pode ser realizado em forma individual e em grupo. O modelo grupal tem sido o mais utilizado, possuindo algumas vantagens, como a discussão de maiores sugestões de respostas de comportamento sugeridas pelo grupo; pelo estabelecimento de uma situação social já posta, havendo oportunidades para praticar variações de contato social semelhantes as situações do cotidiano; possibilidade de prática e apoio entre os membros do grupo; reforçamento e feedback pelos membros; maior envolvimento por integrar situações vividas no grupo e fora das sessões; bem como a motivação que pode ser gerada pelo membro recém-chegado quando se depara com os bons resultados de membros mais antigos, dentre outros.

Sendo assim o THS se constitui ferramenta de tratamento e prevenção à dependência em tecnologia, cada vez mais recorrente em nossa sociedade.

REFERENCIAS

Bueno, J. M. H. OLIVEIRA, Sales, S. M. S. Oliveira, J. C. S. (2001). Um estudo correlacional entre habilidades sociais e traços de personalidade. PsicoUSF, Itatiba,  v. 6, n. 1, p. 31-38, jun.  2001.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712001000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 01  out.  2019.

Del Prette, Z. A. P. (1999). Psicologia das habilidades sociais: terapia e educação. Pretrópolis, RJ: Vozes.

Del Prette, A.; Del Prette, Z. A. P. (2004). Treinamento de habilidades sociais com crianças: Como utilizar o método vivencial. In: Costa, C. E.; Luzia, J. C.; Sant’anna, H. H. N. (Orgs.) Primeiros passos em Análise do Comportamento e Cognição (pp. 111-119). Santo André: ESETec.  

Murta, S. G. (2005). Aplicações do Treinamento em Habilidades Sociais: Análise da Produção Nacional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18,283-291. Recuperado em 15 novembro, 2017, de http://www.scielo.br/pdf/prc/v18n2/27480.pdf.   

Young, K. S.; Yue, S. D.; Liying, L. (2011). Estimativas de prevalência e modelos etiológicos da dependência de internet.In: Young, K. S.; Abreu, C. N de. (Orgs.), Dependência de Internet: manual e guia de avaliação e tratamento (pp. 19-35). Porto Alegre: Artmed.

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Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especializada em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

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