O tema de suicídio em nossa sociedade parece ser tabu e algo “feio” a ser levantado, questionado e debatido. Por muitas vezes a temática de morte em si já parece algo que ninguém quer falar a respeito ou lembrar de sua existência. Mas, os índices têm crescido de forma vertiginosa no Brasil, chegando a dados alarmantes da média de 1 caso a cada 46 minutos no ano de 2016, segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde em Setembro de 2018. E há ainda a chance desse número ser ainda maior, em função da possibilidade de casos que não sejam registrados segundo a diretora da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Entre os jovens de 15 a 29 anos essa é a 4ª maior causa de mortes (Moreira,2018). Dentre as muitas causas que podem estar relacionadas a tal comportamento, pesquisadores da Unifesp apontam que podem se destacar a popularização da internet, mudanças sociais no país e falta de políticas públicas de combate ao suicídio.
Sejam quais forem os gatilhos desencadeantes, torna-se essencial a efetivação de ações preventivas através de informação, acolhimento e suporte emocional. É preciso a desmistificação de ideias como “quem quer fazer faz logo” ou “isso é só para chamar a atenção”. O comportamento suicida é um processo que se desenrola desde a ideação, a tentativa e/ou possíveis ameaças, até o ato consumado em si, ou seja, a própria morte do indivíduo (Zana & Kovács, 2013). Quando há a percepção desse processo em curso, a ajuda multiprofissional torna-se essencial a fim de contribuir para o rastreamento, entendimento e descrição de fatores desencadeadores e mantenedores. Além disso, mais do que levantar dados é essencial a construção de uma aliança terapêutica firme e genuína, capaz de trazer principalmente acolhimento diante de tal sofrimento. A particularização caso a caso é essencial, pois não se trata de uma busca de causas específicas e pontuais e sim a percepção que se trata de um emaranhado de fatores. A participação e ajuda da família nesses casos é de fundamental importância, pois significa a ampliação da rede de apoio em mais de um contexto de vida deste paciente. Outro ponto de discussão se refere a possibilidade da quebra do sigilo ético por parte do profissional de psicologia, com o consentimento do paciente afim de informar a família acerca do risco iminente de suicídio (de Almeida, 2018; Fukumitsu, 2014; Zana & Kovács, 2013).
Uma premissa importante diante da ideação ou comportamento suicida é a de que possivelmente este indivíduo não deseje a morte em si, mas na verdade desejaria viver de outra maneira, mas não tendo o conhecimento e habilidades necessárias a tal realização acabe por se deparar com o suicídio como a sua “solução” (de Almeida, 2018). Por isso, especialmente com pacientes com tal demanda a construção de uma relação terapêutica genuína e empática seja o embasamento fundamental para o bom andamento do caso. “Clientes que apresentam queixas suicidas estão em constante contato com eventos aversivos e com histórico de punição, a audiência não punitiva está como fator principal para a construção da relação terapêutica e consequentemente à mudança de comportamentos” (de Almeida, 2018, p.8).
Referências
De Almeida, K.S. (2018). Relação terapêutica em clientes com demandas suicidas: intervenções e desafios. Monografia IBAC, Brasília
Fukumitsu, K.O. (2014). O psicoterapeuta diante do comportamento suicida (2014). Psicologia USP. Vol 25(3), pp. 270-275
Moreira,B. (2018). Suicídios aumentam 2,3% em 1 ano, e Brasil tem 1 caso a cada 46 minutos. G1, Brasília, 22/19/2018. Disponível em https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2018/09/20/suicidios-aumentam-23-em-1-ano-e-brasil-tem-1-caso-a-cada-46-minutos.ghtml
Sobrinho, W.P. (2019). Suicídio cai no mundo, mas cresce até 24% entre adolescentes no Brasil. UOL, São Paulo, 27/04/2019. Disponível em https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2019/04/27/suicidio-cai-no-mundo-mas-cresce-ate-24-entre-adolescentes-no-brasil.htm
Zana, A.R. de O. & Kovács, M.J. (2013). O Psicólogo e o atendimento a pacientes com ideação ou tentativa de suicídio. Estudos e pesquisas em Psicologia Vol. 13(3)