Olhe ao seu redor. Você já reparou que estamos em um momento de conviver mais com vovôs do que com netinhos? O que quero dizer é que temos, cada vez mais, pessoas mais velhas ao nosso redor.
No mês em que comemoramos o Dia dos Avós (26 de julho), proponho que fiquemos sob controle de um importante antecedente: pela primeira vez na história a população de idosos acima de 65 anos superou a população de crianças e jovens. Com o aumento da expectativa de vida e a redução da taxa de natalidade, tem ocorrido uma inversão demográfica na população.
Na “Como você encara o envelhecimento?” (https://comportese.com/2019/06/como-voce-encara-o-envelhecimento), nossa colunista Marília Zampieri, propôs que refletíssemos sobre quais são as nossas regras em relação a pessoa idosa. A maioria das pessoas têm estereótipos negativos com relação ao velho e ao envelhecimento. O principal deles se refere a dependência e fragilidade do idoso. Quando se pensa no velho, em geral, são evocados comportamentos operantes e respondentes aversivos.
Diferententemente do que se pensa, dados indicam que a grande maioria dos adultos mais velhos apresentam a cognição intacta, apresentam variabilidade comportamental para adaptações às transições de vida (mesmo que precisem do auxílio da psicoterapia para tal) além de apresentar boa saúde e relações interpessoais significativas.
Os estereótipos negativos estão relacionados às práticas culturais em relação à pessoa idosa. Segundo Andery (2011), práticas culturais se referem a padrões comportamentais que se reproduzem entre indivíduos e gerações de indivíduo. A visão negativa e enviesada do envelhecimento é uma prática cultural decorrente do pareamento do velho com estimulação aversiva e pouco acesso a reforçamento positivo.
Como desmistificar os estereótipos que recaem sobre a velhice? A aproximação entre diferentes gerações é uma saída. O manejo de Contingências de Reforçamento que permitam interações comportamentais entre crianças, adolescentes e idosos pode permitir que todas as gerações envolvidas tenham acesso a reforçadores naturais de natureza social.
As memórias dos idosos e seus relatos verbais sobre sua geração podem ser fontes de conhecimento para as gerações mais novas. Da mesma forma que, por exemplo, os conhecimentos dos mais jovens sobre tecnologia e seus usos podem ser fonte de aprendizados para os idosos. Além dos aprendizados, o contato entre gerações pode produzir, nos idosos, comportamentos e sentimentos de autoestima e autoconfiança, diminuição dos sentimentos de solidão e isolamento e um senso de utilidade ao repassar aquilo que sabem.
Enquanto analistas do comportamento, é nossa tarefa manejar Contingências de Reforçamento de modo que o ambiente no qual as pessoas mais velhas estão inseridas seja mais ameno e reforçador. Uma forma de começar, seria nos aproximando daquelas pessoas mais velhas próximas a cada um de nós.
Comece desejando um Feliz Dia dos Avós no próximo dia 26/07, caso você ainda tenha o privilégio de conviver com os seus avós.
“Uma boa época para se pensar sobre a velhice é a juventude, porque então é possível melhorar as chances de vivê-la bem quando chegar.” (Skinner & Vaughan, 1985, p. 18).
Pensando nisso, nós, psicoterapeutas, também precisamos desenvolver habilidades e competências para atender pessoas idosas. Convido vocês para o curso que “ENnvelheSer” onde discutiremos estratégias para compreender e intervir no processo de envelhecimento sob a ótica da Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR). Mais informações em www.itcrcampinas.com/ferias
Referências
Andery, M.A.P.A. (2011). Comportamento e Cultura na perspectiva da Análise do Comportamento. Revistas Perspectivas em Análise do Comportamento, 2 (2), 203-217.
Skinner, B.F., & Vaughan, M. E. (1985). Viva bem a velhice. Trad. Anita L. Neri. São Paulo: Summus Editorial.