Um dos objetivos da psicoterapia é desenvolver a habilidade de autoconhecimento (link: https://comportese.com/2015/10/afinal-o-que-e-autoconhecimento-e-como-o-adquirimos). Isso porque tornar-se consciente sobre si mesmo abre a possibilidade de escolha sobre que ambientes e condições o sujeito quer se expor, de acordo com seus próprios valores e objetivos.
Skinner (1953) salienta que os comportamentos de autoconhecimento ocorrem quando há consciência do próprio comportamento: em que ocasião o comportamento ocorre (ambiente), o comportamento em si e seus sentimentos (comportamento) e porque o fez (consequências passadas – esperadas). Ou seja, para o desenvolvimento de autoconhecimento é necessário que o cliente aprenda a fazer análises funcionais do seu próprio comportamento. Considera-se aqui que, não há a necessidade de adoção de termos técnicos para essa interpretação do cliente, mas o desenvolvimento desta habilidade.
Este conhecimento sobre si mesmo deve estar em contato com o contexto, não se prendendo apenas as descrições de regras estabelecidas durante a vida. Então é essencial desenvolver a percepção e contato com as consequências naturais do comportamento. Um exemplo desta situação seria a descrição de que considera admirável o comportamento “A”, enquanto emite um comportamento “B” – ao qual descreve insatisfação. “A separação entre o comportamento e suas consequências naturais é, segundo Skinner, alienação.” (MICHELETTO & SÉRIO, 1993).
Pode-se observar a não correspondência entre a regra e o comportamento quando o cliente descreve, por exemplo, que um “bom pai” é presente na vida dos filhos, acompanha seu desenvolvimento escolar, conhece seus amigos – se considerando “bom pai”. Porém, não descreve ter um “bom” relacionamento com os filhos, os descrevendo como distantes, pouco afetuosos e desinteressados na relação pai-filhos – acrescenta que não compreende o porquê, afinal é um “bom pai”. Ao ser questionado sobre como é quando está na presença dos filhos e o que fazem juntos, o pai acrescenta que paga a escola, assina os boletins e permita que saiam com os amigos sempre que desejam. Neste caso, o cliente descreve uma regra, mas não está sob controle das consequências naturais do seu comportamento (GUILHARDI, 2001), o pagamento da mensalidade de cursos, por exemplo não tem como consequência natural o estabelecimento de vínculo ou a manutenção dos mesmos.
Nem sempre a tomada de consciência vem acompanhada de sentimentos agradáveis, como a alegria e a satisfação. No caso descrito anteriormente, por exemplo, o pai ao perceber que não está realmente se fazendo presente na vida dos filhos e que tem fugido deste contato mais íntimo pode se sentir frustrado. Então, não basta a tomada de consciência, mas saber o que fazer com ela. Uma das intervenções clínicas propostas é a aceitação.
A aceitação é descrita na Terapia de Aceitação e Compromisso (Steven Hayes e colaboradores em 1987) como uma ferramenta de resposta para eventos encobertos aversivos, história de vida e incertezas futuras, ou seja, a aceitação é considera uma ferramenta para lidar com tudo aquilo que não está sob controle na vida (Saban, 2015). Exemplos destes eventos seriam os sentimentos de tristeza, ansiedade, vergonha, entre outros.
Ao considerar um processo terapêutico já se pressupõe que o cliente terá que lidar, em algum momento, com sentimentos desagradáveis e possivelmente durante este processo tomará consciência de fatos difíceis de sua própria vida. Por isso, há que se pensar sobre qual a tolerância do cliente a esses sentimentos e fatos, tanto para o planejamento de intervenções que visem o desenvolvimento do autoconhecimento e aceitação, como para o psicólogo facilitar esta experiência ao cliente de maneira gradativa, respeitando seu ritmo, história e também mantendo o ambiente terapêutico como um espaço seguro para estas vivências.
Aceitar significaria considerar que não há possibilidade de controlar tudo. Neste cenário sobra apenas uma alternativa: não aceitar o que pode ser modificado. Quando o cliente consegue perceber o que é passível de controle, suas ações podem se concentrar no que pode gerar mudanças efetivas, como a tomada de atitudes, a escolha do que fazer por si mesmo e pela vida. Um exemplo da aceitação na vida diária poderia ser: aceitar que a vida nunca estará completamente perfeita – sempre haverá louça para lavar, mas é possível deixar um ou dois copos na pia ou até mesmo acumular louças porque houve uma grande festa em casa repleta das pessoas que mais ama e ao finalizar a limpeza (algo que pode ser modificado) poderá surgir uma satisfação por ter feito o que era necessário.
Então, não significa se sentar e ficar parado admirando a vida, mas trazer luz ao que pode ser modificado verdadeiramente. Assim haverá leveza nas dificuldades que não podem ser modificadas, pois não lutará mais contra ela e por outro lado, investirá no que lhe traz amor, felicidade, satisfação e admiração. Está tudo bem ter dificuldades na vida e se sentir inconformado sobre isso, só não está bem permanecer inconformado e com as mesmas dificuldades na vida sem tomar as decisões que possam mudar isso.
Referências:
GUILHARDI, H. J. (Org. Roberto Alves Banaco), Sobre Comportamento e Cognição – aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista. Vol. 1. Ed. ARBytes: São Paulo, 2001.
MICHELETTO, N. SÉRIO, T. M. A. Temas em Psicologia – Análises Da Análise Do Comportamento: Do Conceito à Aplicação. Sociedade Brasileira de Psicologia, 1993, nº 2.
SABAN, M. T. Introdução à terapia de aceitação e compromisso. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2015.
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes, 1953/2015.