No contexto clínico é muito comum ouvirmos os clientes trazendo os sentimentos aversivos como queixa, dentre eles, podemos destacar a ansiedade e o medo. Muitas vezes esses relatos indicam que esses sentimentos são os ¨motivadores¨ das suas atitudes: ¨eu sou muito ansioso, então eu exijo que meu trabalho seja perfeito; parei de prestar esse concurso porque tenho muito medo de não passar; fico ansiosa quando meu namorado não me manda mensagem, então eu acabo mandando antes.¨ Estes, dentre outros exemplos que poderíamos citar, são relatos os quais não descrevem as contingências as quais os comportamentos são função, demonstrando, assim, a falta de autoconhecimento.
Ansiedade e medo são dois sentimentos que, muitas vezes, são confundidos. Pode ser pelo fato de que eles produzem sensações parecidas no organismo tais como, tremores, falta de ar, taquicardia, tonturas, sudoreses, etc. Portanto, a discriminação do que se sente pode ser mais complicada de relatar por se tratarem de eventos que acontecem dentro da pele. Quando Skinner discute o papel do sentimento na Análise do Comportamento, o autor conclui que é muito mais fácil ensinar uma criança a nomear objetos, por exemplo, do que ensinar palavras que designam sentimentos, uma vez que eventos públicos e privados raras vezes coincidem exatamente (Skinner, 1991).
Diante disso, como Skinner aborda a diferença entre a ansiedade e o medo? Para o autor um indivíduo experimenta a ansiedade em uma situação de perigo ou de desamparo. A situação de perigo é aquela semelhante a uma outra em que coisas ruins aconteceram. O desamparo significa que o indivíduo não conseguiria fazer nada para evitar que algo ruim acontecesse novamente. Um exemplo dado por Skinner é de uma pessoa que sofreu um acidente de carro e que viaja (no momento presente) com um motorista descuidado. Já o medo estaria relacionado a sensações corporais que qualquer indivíduo que viaje com um motorista descuidado venha sentir (pois sabe do risco de algo acontecer), não seria necessária uma história antecedente de acidentes, por exemplo (Skinner, 1991).
Podemos dizer, então, que o medo é um sentimento produzido com a percepção de um perigo presente ou iminente. Já a ansiedade é um sentimento produzido pela incerteza de que o perigo exista. Acontece que no decorrer da vida as os comportamentos de medo e ansiedade se tornam condicionados à inúmeras situações, ou seja, as pessoas generalizam esses sentimentos em muitas situações. Sentir medo e sentir ansiedade são reações necessárias à nossa sobrevivência, porém senti-los em excesso se torna um grande problema. As fobias e os transtornos de ansiedade prejudicam a vida dos indivíduos uma vez que se deixa de vivenciar inúmeras situações do cotidiano em razão dos efeitos corporais aversivos (excesso de comportamentos de evitação – fuga e esquiva).
O papel do terapeuta é auxiliar os clientes a identificarem, em primeiro lugar, o que eles sentem e com o uso de questionamentos, ensiná-los que os sentimentos de medo e ansiedade não surgiram ¨do nada¨, mas sim porque algo aconteceu. Dessa forma, tanto o terapeuta quanto o cliente irão identificar as contingências das quais esses comportamentos (sentir medo e/ou ansiedade) são função. Quando o cliente compreende o que ele sente e o por quê ele sente, consegue mudar seus comportamentos para que possa enfrentar as situações que seriam aversivas. Skinner (1974) ao falar sobre autoconhecimento afirma que uma pessoa que se tornou consciente de si mesma por meio de perguntas está mais preparada para prever e controlar seu próprio comportamento.
Referências:
Skinner, B. F. (1974) Sobre o Behavorismo. Sao Paulo: Cultrix
Skinner, B. F. (1991) Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas: Papirus