A prática coercitiva está em todos contextos, isso é visto, por exemplo, nas instituições judiciárias ameaçando a população caso não cumpram tais leis; o Estado obriga os cidadãos a votarem nos políticos para que possam ter seus direitos preservados; o patrão ameaça seu funcionário em despedi-lo caso não cumpra com suas obrigações; enfim, esses exemplos mostram que em todo o tempo os indivíduos são ameaçados e coagidos caso não cumpram as regras programadas.
O termo punição na comunidade verbal (sociedade) tem diversas definições. “Uma ação sobre alguém”, “forma de castigo”, “determinação de um juiz”, “impor algo a alguém e que tenha que suportar”. Para Banaco (2004) punição, enquanto operação, seria o conjunto de métodos para se obter de um comportamento certos resultados. “Um Conjunto de processos com um objetivo específico” (p.62).
Famílias que moram em países desenvolvidos como os Estados Unidos; e subdesenvolvidos como o Kwait, usam métodos coercitivos para corrigir algum comportamento. Percebe-se que tal prática é ensinada de pais para filhos e, consequentemente, entendida como a melhor forma de educar. A coerção usada pelos educadores não é comum somente em nossos dias, é importante ressaltar que essa prática é realizada desde os tempos antigos. (CECCONELLO et. al.,2003)
Weber, Viezzer e Brandenburg (2004) expõem alguns ditados populares que mostram como o uso da punição é usado há milênios. “Ama as crianças com o coração, mas educa-as com mão” (provérbio russo); “quem não foi bem castigado com a vara, não foi bem educado” (provérbio grego). Estes modelos são seguidos pelos pais por gerações e, por vezes, como verdade absoluta na educação parental.
Conforme Carma e Cols. (2006), diversas culturas fazem uso do método coercitivo na educação dos filhos. Por exemplo, no Chile cerca de 80% dos pais de alunos de escolas estaduais e 57% dos pais de alunos de escolas particulares afirmam que usam a violência física na educação dos filhos. Na Índia, 91% dos homens e 86% das mulheres que estudam em universidade dizem ter recebido dos pais algum tipo de coerção quando crianças.
Já no Kwait, 86% dos pais relataram que a violência física é o método mais eficiente de educar. Já na Coréia o número é assustador, há um índice muito elevado em relação a essa violência, esse número chega a 97% das crianças violentadas pelos seus educadores. Os autores também apresentaram que em países desenvolvidos como a Inglaterra, chegou ao número de 75% dos pais que assumem bater nos filhos como forma de educá-los. Também há Países como o Egito, e Hong Kong que aderem esse tipo de prática educacional parental.
Sidmam (2009) defende que as “interações coercitivas ameaçam nosso bem estar e mesmo nossa sobrevivência como espécie” (p.44). Da mesma forma, Vasconcelos & Souza (2006) ratificam essa questão postulando que “o convívio num ambiente hostil acaba por dificultar o desenvolvimento saudável e adequado dessas crianças, prejudicando-as em nível individual, familiar e social” (p.1).
Tanto na punição positiva ou negativa têm como objetivo diminuir a probabilidade de um comportamento ocorrer. Vale ressaltar que a palavra positiva não é relacionada à conotação valorativa, mas com adição, termo matemático. (QUEIROZ, 2004)
Moreira e Medeiros (2007) afirmam que a punição positiva é uma contingência em que um comportamento produz a apresentação de um estímulo que reduz sua probabilidade de ocorrência futura. Se uma criança, por exemplo, desobedecer à mãe, levará umas “palmadas”.
Reforço positivo e negativo são conceitos da psicologia comportamental que foi apropriado pelo senso comum de uma forma equivocada. Esses conceitos tão importantes ganharam significados diferentes do que a ciência do comportamento propõe.
Na educação parental, geralmente o termo reforço é entendido como elogiar, parabenizar ou incentivar. Logo está associado a algo bom. Elogiar poderá fazer parte do evento que promove o reforço positivo, mas essa consequência (elogiar de forma isolada) não pode ser entendida desta maneira. O elogiar, dependendo do contexto, poderá se tornar até mesmo uma consequência punitiva. Isso vai depender do contexto em que é inserido e de quem o recebe.
Quando os pais produzem reforçadores positivos, quer sejam programados ou não, geram padrões comportamentais específicos nos seus filhos. Essa relação entre comportamento e ambiente pode ocorrer quando há interesse específico em aumentar a frequência de um comportamento que é desejado pelos cuidadores. Neste caso, os pais podem programar consequências para que o comportamento esperado seja fortalecido.
Quando uma criança está interagindo no ambiente de forma inadequada, os pais, para conter aquela situação, gritam, batem ou cedem às birras das crianças. Neste caso, o comportamento dos pais é reforçado negativamente, porque retirou do ambiente um estímulo aversivo, a birra. Então, a partir disso, os cuidadores são reforçados a agir da mesma maneira toda vez que os filhos desobedecerem.
A Análise do Comportamento tem contribuído para que cada vez mais a população se utilize de técnicas científicas a fim de proporcionar à sociedade uma vida mais saudável. Por essa razão, a Ciência do Comportamento tem realizado estudos do comportamento humano trazendo soluções para esse tipo de problema (violência física e verbal) demonstrando novas possibilidades na educação dos filhos e demais relações.
Referências:
BANACO, R.A. Terapia comportamental e cognitivo-comportamental: práticas clínicas. In: ABREU, Cristiano Nabuco; GUILHARDI, Hélio José. Punição positiva. 1ªed. São Paulo: Roca, 2004. Cap. 4.
CARMO, C.; HARADA, M. Violência física como prática educativa. Revista Latino-am Enfermagem 2006 novembro-dezembro.
CECCONELLO, A.; ANTONI, C.; KOLLER, S. Práticas Educativas Parentais e Abuso Físico no Contexto Familiar. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, num. esp., p. 45-54, 2003.
SANTINI, P.; WILLIAMS, L. Castigo corporal contra crianças: o que podemos fazer para mudar essa realidade? São Paulo: Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental. Comportamento em foco – ABPMC, 2011.
WEBER, L. N. D.; BRANDENBURG, O. J.; SALVADOR, A.P.V. O uso de palmadas e surras como prática educativa. Estudos de Psicologia 2004, 9(2), 227-237
VASCONCELOS, A. C.; SOUZA, M. B. As noções de educação e disciplina em pais que agridem seus filhos. PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 37, n. 1, pp. 15-22, jan./abr. 2006.