Manejando Contingências na Formação Educacional

Por Bruno Rodrigues e Fernanda Cerqueira

 

Algumas definições do verbo estudar de acordo com o Dicionário Aurélio (2018) referem-se a frequentar as aulas, fazer o possível para conhecer e compreender, ser estudante, ser estudioso.

Na Análise do Comportamento, (Hubner e Marinotti, 2000) afirmam que “estudar” resume a emissão de um conjunto de diversos comportamentos, como organizar material, sentar-se e folhear um material acadêmico, fazer lição, ler um texto, responder perguntas, entre outros.

Mas saber o que significa o comportamento de estudar não garante que a pessoa de fato, estude, ou seja: leia, escreva, fale, escute e pesquise sobre assuntos que determinada instituição de ensino propõe que o aluno estude. Embora estudar pareça simples, muitas pessoas têem dificuldades em criar o hábito de estudar. Mas afinal, porque isso é um empecilho para muitas pessoas?

Os conteúdos que aprendemos durante nossas vidas, são assimilados de muitas formas. Uma forma de explicar como adquirimos um comportamento pode ser através do conceito de modelagem. De acordo, com Moreira e Medeiros (2007) a modelagem envolve a aprendizagem de novos comportamentos que se encontram presente no atual repertório comportamental da pessoa, ou seja, não aprendemos do nada, os comportamentos atuais surgiram de comportamentos passados e treinos gradativos.  Assim pessoas com dificuldade de estudar, provavelmente não em uma história de aquisição desse tipo de comportamento. Porém é possível mudar este quadro, adquirindo o hábito de estudar.

Guilhardi (2007) Esquematizou passos que podem auxiliar na criação do hábito consistente de estudar. Alguns deles são:

  • Preparar um local e horário habitual de estudo;
  • Remover outros estímulos comportamentos incompatíveis com o estudar;
  • Começar os estudos das matérias que considera mais fácil até a mais difícil;

Esses passos facilitam a aquisição do hábito de estudar, mas cada estudante também deve verificar a forma como aprende de forma mais eficaz.

Daí a importância do arranjo de contingências que propiciem a aprendizagem. E quando falamos de contingências, também nos referimos à forma como as coisas são ensinadas, tornando o papel de quem ensina muito importante nesse processo. Então, como fazê-lo de forma eficiente?

As pessoas ensinam de formas diferentes, compreendem em níveis distintos e reproduzem com alterações nos conteúdos propostos. Dentro de uma sala de aula, a professora procura elogiar os alunos que participaram nos exercícios colocados no quadro, na resolução das questões passadas para a casa e que tiram dúvidas sobre os assuntos escolares. Em meio a esse contexto ocorrem diversos comportamentos que distanciam o comportamento de estudar, como conversar em sala de aula, não prestar atenção aos conteúdos, sair da sala entre outros. Mas a partir do momento que a professora busca consequenciar respostas dentro da classe de respostas identificadas como estudar, consiste em um treino gradativo de aquisição de comportamento dos estudantes.

É necessário que o estudante seja ativo no processo, se sinta importante no âmbito estudantil, cabendo ao profissional responsável manejar contingências para que o ambiente se torne propício para estudar. Alguns profissionais enfrentam escassez de recursos, e uma das formas para lidar com essas adversidades é a utilização de exemplos diversos para um treino de aproximação sucessiva do ambiente atual dos discentes. O reconhecimento a cada progresso do estudante ao solucionar um problema é fundamental. Carmo e Henklain (2013) aponta algo extremamente importante, o professor deve saber o que pretende ensinar, pois a partir disso é que será analisado se houve aprendizagem.

Pergher et.al (2012), afirmam que para haver maior eficácia na aprendizagem é necessário:

  • Parear o estudo com momentos agradáveis;
  • Prover sempre consequências reforçadoras positivas;
  • Evitar consequências aversivas;
  • Promover momento de lazer pós estudos.

A tarefa de ensinar não é algo simples, mas está longe de ser impossível. O primeiro passo é definir e explicitar com coerência o que será ensinado. Um conceito que pode ser utilizado é o de comportamento-objetivo. É necessário traçar um plano de estudos para atingir objetivos almejados. O comportamento objetivo busca identificar o que será ensinado e por que meios será realizado o ensino. A partir desses dados a construção desse planejamento se torna mais eficaz, pois envolve um conhecimento maior sobre as variáveis contidas no ambiente (KUBO; BOTOMÉ, 2001 apud CARMOS; HENKLAIN, 2013).

Outro passo importante no ato de ensinar é aproximar o assunto proposto de acontecimentos rotineiros. Para ilustrar, na resolução de um problema de matemática o professor usa um exemplo do cliente realizando compras no supermercado, os valores dos produtos e o dinheiro disponível do comprador. Quais são os valores dos produtos? Quanto possuo de dinheiro? E quanto utilizarei do valor disponibilizado? Todas essas perguntas farão com que o estudante entre em contato com a matéria exposta em sala de aula. A partir disso, o discente começa compreender que aquela matéria faz sentido nas suas atividades diárias e o aproxima na aquisição deste conteúdo, pois se sente parte do aprendizado. Assim, quando um professor utiliza recursos de filmes, séries e desenhos que são reforçadores para os alunos em sala e sinaliza que o conhecimento adquirido por meio daqueles recursos é importante para aos estudos.

Como vimos no decorrer do texto a ampliação do repertório de estudar é extremamente relevante. Os agentes envolvidos no processo, sejam professores, pais, irmãos, amigos e responsáveis devem estar cientes das preferências culturais e os assuntos valorosos no meio estudantil para realizar essa ponte de uma forma mais reforçadora na aquisição de aprendizagem dos estudantes.

 

 

Referências

Guilhardi H. (2007). Procedimentos para instalar comportamento de estudar. Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento campinas –sp.

 

HENKLAIN, Marcelo Henrique Oliveira; CARMO, João dos Santos. Contribuições da análise do comportamento à educação: um convite ao diálogo. Cad. Pesqui.  São Paulo ,  v. 43, n. 149, p. 704-723,  Aug.  2013 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742013000200016&lng=en&nrm=iso>.

 

Hubner, M.M.C. & Marinotti, M. (2000). Crianças com dificuldades escolares. In E.F.M. de Silvares (Orgs.), Estudos de Caso em Psicologia Clínica Comportamental Infantil (pp. 259–304). Campinas: Papirus.

 

Moreira, M. B., & Medeiros, C. A. (2007). Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed.

 

Pergher, N. K., Colombini, F., Chamati, A. B. D., Figueiredo, S. A., Camargo, M. I. P. C.(2012), Desenvolvimento de hábitos de estudo. In: Borges, N. B., Cassas, F. A. Clínica analítico- comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012.

 

 

 

 

 

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Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especialista em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Pós Graduanda em Psicologia Hospitalar pela Santa Casa BA. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

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