Quando um casal apresenta como queixa um desencontro de cunho sexual, torna-se imprescindível o entendimento que sua base vem muito antes da ocorrência da relação sexual em si. É preciso considerar a estrutura biológica da sexualidade, bem como seu papel psicológico para aqueles sujeitos de forma individual e enquanto casal, e experiências e interpretações históricas prévias (referentes a essa relação ou mesmo de relacionamentos anteriores).
A investigação de possíveis causas orgânicas se mostra como um primeiro passo importante, para se descartar anomalias genéticas, hormonais, doenças do aparelho genital ou do sistema nervoso, ou mesmo de influências medicamentosas. Após esse rastreio e dada a exclusão de tais componentes biológicos, passamos à análise mais restrita das influências da história de vida individual e/ou daquele casal.
É preciso considerar que tanto a história pregressa de cada indivíduo quanto a história deste relacionamento atual estão sujeitas a condicionamentos relacionados a eventos vivenciados. Ou seja, os comportamentos tendem a aumentar ou diminuir a sua frequência de acordo com as consequências vivenciadas e tais ocorrências influenciam ocorrências futuras. A temática sexual obedece às mesmas leis e, por isso, precisaremos considerar a avaliação de como se encontra o ajustamento sexual conjugal, ou seja, quanto esse casal concorda e compartilha preferências e crenças sexuais.
Assim como o ajustamento em todas as demais temáticas que envolvem a conjugalidade, o campo sexual não se mostra como algo pré estabelecido e eternamente estático, e sim como algo dinâmico, que vai se recriando ao longo das mudanças individuais e conjugais que cada casal vai passando. Como dito por Esther Perel, “Atualmente, no ocidente, a maioria de nós terá dois ou três relacionamentos ou casamentos, e alguns serão com a mesma pessoa”, ratificando a importância de uma recriação e investimento contínuo na escolha do casal de estar e permanecer junto. Além disso, a comunicação entre o casal e a expressão de cada qual quanto aos seus desejos, anseios, preferências ou mesmo incômodos se mostra como pilar de uma clara assertividade, permitindo eventuais ajustes, mudanças ou renegociações.
Outro ponto importante a se considerar quanto a temática sexual diz respeito à influência de fatores sociais sob a educação, hábitos e mitos sexuais. Isso porque o contato com a cultura do ambiente onde cresceram, se desenvolveram e interagiram ao longo da vida (seja através do contato com pais, professores, amigos, mídias e demais instituições públicas e privadas) vão construindo valores, princípios e parâmetros.
Portanto, diante de desajustes sexuais torna-se essencial uma análise multifatorial e individualizada, que leve em consideração parâmetros para além de algo numérico como por exemplo: “quantas vezes e com que frequência temos relação sexual?” ou “quantas vezes chegamos ao orgasmo?” para algo mais singular de como aquele casal vive a sua sexualidade (usando seus próprios parâmetros de satisfação), como e quanto a expressa mutuamente e principalmente, quão engajados estão em mesclar a necessidade de mudança de alguns comportamentos que se padronizaram, com a necessidade de aceitação que seus comportamentos sexuais podem e tendem a efetivamente mudar com o passar do tempo e da construção da relação.
Referências Bibliográficas
- Carvalho, A.C. & Sardinha, A. Terapia Cognitiva sexual: Uma proposta integrativa na psicoterapia da sexualidade. Rio de Janeiro: Editora Cognitiva, 2017
- Machado, T. A. B. N. Análise do Comportamento Aplicada em um Caso de Disfunção Sexual Feminina. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2015
- Perel, E. Palestra “Rethinking infidelity… a talk for anyone who has ever loved”, formato de conferência do TED (março 2015).