Autores:
Débora Louyse Almeida Lapa &
Fábio Iannini de Castro – Contato: fabioiannini@live.com
O conceito de comportamento adjuntivo foi exposto por John L. Falk em 1961, a partir de estudos experimentais realizados com ratos privados de alimento. Durante as sessões, os animais foram capazes de ingerir grandes quantidades de água que ficara permanentemente disponível ao longo do experimento. Falk observou que o beber em excesso (polidipsia) não era produto de uma condição fisiológica, uma vez que os ratos não estavam privados de água, e sim, comportamental. Os sujeitos aumentaram 3,43 vezes o consumo de água em relação ao nível pré-experimental de 24 horas medido nas gaiolas viveiros sob condição de alimentação livre. (Santarém, et al. 1999).
Segundo Gimenes, et al. (2007) diz-se que o comportamento diretamente controlado é governado pela contingência, enquanto o comportamento adjuntivo é induzido pela contingência. Essa distinção é importante pelo fato de aquele ser programado por meio das relações contingenciais, enquanto este ocorre como um correlato dessas relações. Podemos entender que o comportamento adjuntivo não é produzido pela contingência direta, ou seja, é induzido pela contingência e não controlado por ela.
Gimenes, et al. (2007) descrevem algumas características principais do comportamento adjuntivo, baseados nos trabalhos de Falk (1971) sobre polidipsia:
1. Há maior taxa de emissão de respostas (comportamento) após a apresentação do reforço/estímulo.
2. O comportamento adjuntivo depende da duração dos intervalos entre as apresentações do reforço/estímulo.
3. Varia de acordo com o nível de privação dos sujeitos.
4. Ocorre em excesso se comparado a outras condições de controle.
5. Pode ser induzido.
6. O comportamento pode ser usado como reforço para outros comportamentos.
7. O comportamento depende dos estímulos ambientais disponíveis.
Falk se aprofundou no estudo da polidipsia, já a hiperfagia (comer em excesso) não foi demonstrada tão claramente. Entretanto, uma análise do comportamento de comer em excesso pode ser realizada a partir do conceito de comportamento adjuntivo. Embora não sejam encontrados na literatura trabalhos específicos que demonstrem a hiperfagia
induzida por contingências em humanos, casos clínicos podem ilustrar a possibilidade de análise desse comportamento a partir do modelo de comportamento adjuntivo. (Gimenes, et al. 2007).
Algumas condições para a manifestação dos comportamentos adjuntivos são os intervalos entre a resposta e a liberação do reforço, assim como o nível de privação dos sujeitos. Ao analisar o conceito a partir do comportamento de comer compulsivamente, indivíduos que se encontram altamente privados de reforçadores, apresentam comportamentos adjuntos cuja consequência é um reforçador disponível no ambiente, sendo assim, um intervalo elevado até a liberação do reforçador em privação, leva a um aumento na probabilidade da ocorrência de comportamentos adjuntivos. Assim, o comer pode ser uma resposta adjunta a privação, devido a disponibilidade de alimento. (Lima, 2008).
Logo, o comer compulsivo, pode apresentar relação com a duração do intervalo até o acesso aos reforçadores, do qual o indivíduo está privado. Pesquisas realizadas sobre os comportamentos adjuntivos indicam que uma alta taxa de resposta (compulsão) estaria relacionada a um intervalo muito grande. Já taxas reduzidas (não compulsão), a intervalos pequenos. (Lima, 2008).
Há uma relação entre arranjos de contingências diárias, esquemas de reforçamentos, nível de privação e comportamentos excessivos. Como ilustrado por Gimenes, et al. (2007) em um experimento com ratos submetidos a dietas de baixa caloria e previamente privados de água, quando liberada a água intermitentemente esses ratos apresentaram maior consumo de alimento do que os ratos submetidos a dietas de médio e alto valor calórico. Considerando os dados deste experimento em relação ao comportamento alimentar em humanos, pode-se sugerir que dietas muitos restritivas são favoráveis a compulsão alimentar e dietas em que o indivíduo possui pouca restrição podem ser mais efetivas, para a redução do peso, sob certas contingências diárias e considerando a individualidade de cada caso.
Contudo, a compulsão alimentar pode ser interpretada como um efeito de certas propriedades de contingências (esquemas de reforço, privação e arranjo ambiental), não apresentando relação funcional com as contingências em vigor na vida do indivíduo. Entretanto, alterações nessas contingências podem produzir mudanças no comportamento adjuntivo.
Referências:
Falk, J. L. (1961). Production of polydipsia in normal rats by an intermittent food schedule. Science, 133, 195-196.
Falk, J. L. (1961). The behavioral regulation of waterelectrolyte balance. Em M. R. Jones (Ed.), Nebraska symposium on motivation (p. 1-33). Lincoln, NE: University of Nebraska Press.
Gimenes, Lincoln da Silva; Brandão, Alessandra de Moura; Benvenuti, Marcelo Frota. (2007). Comportamento adjuntivo: da pesquisa à aplicação. In J. Rodrigues & M. Ribeiro (Ed), Analise do comportamento pesquisa, teoria e aplicação (pp. 99 – 112). doi: 978-85-363-1102-9
Santarém, Erica Maria Machado, & Silva, Maria Teresa Araújo. (1999). Comportamento adjunto: controvérsias e contribuições teóricas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 15(3), 199-207
Lima, C. (2008). Indução de comportamentos em humanos: um estudo dos efeitos de esquemas de intervalo com diferentes requisitos para liberação de reforços. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.