Quando um casal começa a relatar suas queixas a respeito do relacionamento, em muitos casos fica perceptível uma maior tendência a apontamentos de “erros” do parceiro do que descrição das dificuldades individuais e da interação. Até por isso torna-se frequente a divergência das respostas de cada um diante da descrição de eventos cotidianos.
Em busca da melhora desse relacionamento, um primeiro ponto a se destacar se refere ao entendimento das análises funcionais dos eventos, nais quais as situações seriam analisadas baseadas em seus antecedentes, respostas e consequências, e, portanto, ambos os indivíduos que compõe o casal se tornariam parte integrante do processo de mudança. Afinal, “alterar o próprio comportamento aumenta a probabilidade de modificação das contingências ambientais, o que por sua vez, gera resultados no comportamento alterado, ou seja, estabelece-se um processo de retroalimentação” (Elias & Britto, 2007, pp.25).
Com esse entendimento estabelecido, passamos a necessidade de uma análise mais específica de eventos em que o reforçamento apropriado aumente de frequência, bem como, haja a diminuição de comportamentos aversivos (que trazem afastamento) entre o casal. Para isso, é importante a identificação de comportamentos individuais de ambas a categorias, afim de se trazer benefícios a relação. Diante de eventuais desencontros e dificuldades, nos deparamos com a necessidade de um diálogo claro, aberto e ajustado entre o casal, ou seja, estamos falando da necessidade de habilidades sociais, dentre as quais a de conversação, de cada um dos cônjuges.
No que se refere a comunicação, o que é dito por cada cônjuge, como isso é expresso e em que momento, são componentes essenciais e estruturais, que precisam ser dosados e ajustados de acordo com cada um dos envolvidos. Isto é, mais do que uma fórmula única e pré-estabelecida de sucesso conjugal, torna-se essencial uma construção que respeite a ambos e que seja singular daquele casal (Del Prette & Del Prette, 2001).
Saber se comunicar assertivamente, expressando habilidosamente os próprios desejos e sentimentos, tem uma especificidade no que se refere aos casais, uma vez que tal interação envolve uma convivência contínua e intensa, trazendo uma atmosfera de intimidade e permissividade que pode ajudar ou atrapalhar a comunicação assertiva, que leva em consideração não somente a mim mesmo como ao outro (Conte & Brandão, 2007).
Além disso, quando se trata de relacionamentos amorosos precisamos lembrar que estamos falando de duas pessoas advindas de histórias de vida diferentes e, portanto, com aprendizados e repertórios comportamentais também diferentes que passarão a entrelaçar suas vidas com a finalidade de um projeto de vida a dois. Para que tal encontro seja mais harmonioso será fundamental que os parceiros possuam autoconhecimento e desenvolvam novas aprendizagens não somente a respeito da comunicação assertiva como também de habilidades sociais mais amplas. Conforme Caballo (1999), algumas classes de respostas consideradas eficazes são: “iniciar e manter conversas; capacidade de expressar amor, agrado e afeto; saber dos próprios direitos e deveres; pedir favores; recusar pedidos; aceitar elogios; capacidade de expressar opiniões pessoais, inclusive discordantes; capacidade de aceitar opiniões discordantes; capacidade de expressar incômodo, desagrado ou enfado; desculpar-se ou admitir ignorância; solicitar mudança no comportamento do outro; enfrentar críticas; entre outros” (Elias & Britto, 2007, pp.27).
Exercitar na prática do dia a dia tais habilidades é um desafio e envolve aprendizagem, treinamento e exercício contínuo. Porém, será exatamente tal investimento que pode proporcionar uma comunicação clara, empática, que enfatiza a validação mútua e que constrói um elo de proximidade e união entre os cônjuges de forma consistente e robusta, significando um investimento nessa relação de forma cotidiana e contínua.
Referências Bibliográficas
Caballo, V. E. (1999). Manual de Técnicas de Terapia e Modificação do Comportamento. São Paulo: Santos.
Conte, F. C. de S. & Brandão, M. Z. da S. (2007). Falo? ou não falo? Expressando sentimentos e comunicando idéias. 2.ed. rev. ampl. – Londrina: Mecenas.
Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2001). Psicologia das relações interpessoais : vivencias para o trabalho em grupo. Petropolis, RJ : Vozes.
Elias, P. V. O. & Britto, I. A. G. S. (2007). A função da assertividade no relacionamento afetivo. Em R. R. Starling (Org.). Sobre Comportamento e Cognição: temas aplicados. Vol. 19, (pp. 23-36). Santo André: ESETec.
Palestra “Create Extraordinary Interactions”, formato de conferência do TED – 2017 – https://www.youtube.com/watch?v=B9kg1UdzDvw