A Formação da Personalidade para a Análise do Comportamento

A personalidade não é considerada uma tendência interna do indivíduo que o faça se comportar de determinada maneira ou que condições internas produzam seus comportamentos, como ao dizer que alguém fez algo porque estava nervoso (condições internas) ou que fez algo por ter “personalidade forte”. Quando nos referimos a personalidade para a Análise do Comportamento, dizemos de um padrão comportamental que segundo Catania (1999) consiste em um repertório de respostas, cada uma com uma probabilidade diferente, selecionadas por contingências ambientais na interação entre o indivíduo e o ambiente.

Os processos de aprendizagem são compreendidos a partir do modelo de seleção por consequências, com base nas probabilidades de emissão dos comportamentos, assim, de acordo com Skinner (1953) lidamos com as diversas variáveis que podem tornar mais provável a ocorrência do comportamento e o efeito combinado das mesmas.

No que se refere a aprendizagem, Goulart, et al. (2012) exemplifica que se uma mãe relata que seu filho aprendeu a andar de bicicleta sem rodinhas, podemos supor que há pouco tempo aquela criança não era capaz de se equilibrar por conta própria e pedalar ao mesmo tempo. Com isso, “reconhecer ou não algo como aprendizagem depende de se considerar o estado presente de algum aspecto do comportamento de uma pessoa em comparação com seu estado anterior.” (p.20).

Se a personalidade refere-se ao padrão de comportamentos de um indivíduo e a aprendizagem ao processo de adquirir e/ou modificar comportamentos a esse repertório, a formação da personalidade irá consistir nos processos de aprendizagem aos quais o indivíduo foi submetido em sua interação com o meio para a seleção comportamental.

Qualquer resposta que permita ao organismo obter os eventos reforçadores ou evitar os eventos aversivos será fortalecida no seu repertório comportamental. Por outro lado, respostas que produzam eventos aversivos ou eliminem reforçadores serão enfraquecidos. Tanto o fortalecimento como o enfraquecimento de uma classe de respostas em uma dada situação são casos de aprendizagem: a relação do organismo com parcelas do ambiente se modifica de alguma forma duradoura. (Goulart, et al., 2012, p.27)

A probabilidade de um comportamento ser fortalecido ou enfraquecido ao repertório comportamental irá depender do modo como os comportamentos foram selecionados com base na função dos mesmos e de suas consequências. Para entender essa seleção é necessário “identificar relações funcionais entre os comportamentos dos indivíduos e sua consequência.” (Moreira & Medeiros, 2007, p.144).

A partir do modelo de seleção por consequências proposto por Skinner, o comportamento será selecionado ao repertório de um indivíduo a partir de três níveis: filogenético que corresponde a herança evolutiva da espécie; ontogenético que consiste na história de vida individual, a modelagem do comportamento e suas consequência; e cultural sobre os padrões de comportamento passados de um indivíduo para outros (Catania, 1999, p. 57)

Retomando o exemplo inicial sobre a “personalidade forte”, sob a ótica analítico-comportamental não consideramos que “a personalidade” causa os comportamentos de uma pessoa, pois se referem apenas a topografia do comportamento, a forma com que o indivíduo se comporta, como alguém muito convicto, pouco flexível etc. Estas respostas não são produto de uma personalidade, e sim, comportamentos que ao longo da história de vida do indivíduo foram selecionados ao seu repertório comportamental por meio dos processos de aprendizagem. Por serem emitidos com certa regularidade, compõe um padrão de comportamentos que culturalmente é nomeado como personalidade.

Com base nessa perspectiva de análise, a formação da personalidade constitui-se em um processo multideterminado pelas variáveis filogenéticas, ontogenéticas e culturais. Logo, o conceito de personalidade “diz respeito a padrões de comportamento, explicáveis por contingências a que os indivíduos foram submetidos em suas vidas. Assim, os padrões de comportamento são frutos tanto dessas contingências quanto de um substrato físico, resultante de seleção natural e da variabilidade da espécie.” (Banaco, et al. 2012, p. 152).

Referências:

Banaco, Roberto Alves, et al. (2012) Personalidade. In: Hubner, Maria Marta Costa & Moreira, Márcio Borges (Org.). Fundamentos de Psicologia: temas clássicos da psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, cap.10, p.144-153.

Goulart, Paulo Roney Kilpp, et al. Aprendizagem. (2012) In: Hubner, Maria Marta Costa & Moreira, Márcio Borges (Org.). Fundamentos de Psicologia: temas clássicos da psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, cap. 2, p. 20-40.

Catania, A. Charles. (1999) Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 467 p.

Skinner, Buhrrus Frederic. (1953) Ciência e Comportamento Humano. Tradução de João Carlos Todorov & Rodolfo Azzi. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, 489 p. (Publicado originalmente em 1953.)

Moreira, Márcio Borges & Medeiros, Carlos Augusto de. (2007) Princípios básicos da análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 224 p.

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Escrito por Débora Louyse

Psicóloga com experiência em acompanhamento terapêutico de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo em ambiente escolar e domiciliar, atendimentos psicológicos direcionados a dificuldades de aprendizagem de crianças e adolescentes com desenvolvimento típico; Experiência em aplicação do método ABA (Análise do Comportamento Aplicada) para intervenções multidisciplinares em crianças e adolescentes e realiza atendimentos psicológicos clínicos de adultos e idosos a partir da abordagem Analítico-Comportamental.
E-mail: deboralouyse@hotmail.com

Curso “Terapia Comportamental Integrativa de casais IBCT – da teoria a prática clínica”

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