No meu último artigo, escrevi sobre Comportamento Alimentar Excessivo: controlando aquilo que te controla. No último parágrafo enfatizei “que um bom terapeuta não aplica técnicas isoladas. É preciso identificar as contingências das quais o comportamento de comer em excesso é função e a interação entre elas, analisando o “por que”, “para que” e “como” o paciente interage com a comida e o que faz manter este padrão alimentar excessivo”.
Os processos neurológicos, fisiológicos e mentais são entendidos pela sociedade como fatores causais sobre o que as pessoas sentem, pensam e agem sobre o mundo. Essa explicação não enfatiza a relação organismo-ambiente. Por sua vez, essa explicação traz a concepção de que as pessoas agem sobre o mundo independente do contexto que elas vivem. Suas escolhas e vontades, por exemplo, são controladas por agentes internos como “selfs” e mentes. Erramos em dar esse tipo de explicação, pois as causas já foram encontradas e não precisam mais ser investigadas. O autor ainda cita que essas explicações paralisam as pesquisas (Skinner, 1974/2006).
Farias, Fonseca e Nery (2018) ressaltam que os comportamentos são mantidos e fortalecidos dependendo das consequências geradas por eles. O comportamento, portanto, é função dos contextos. O indivíduo interage com o contexto, e por sua vez, seu comportamento é modificado por conta dessa interação.
Para entendermos os motivos pelos quais a pessoa se comporta, é preciso investigar as contingências atuais e as contingências históricas. Mas, hoje, quero enfatizar somente as contingências atuais (análise molares). Leonardi, Borges e Cassas (2012) enfatizam que o terapeuta deve buscar hipóteses sobre os comportamentos que estão envolvidos na queixa do cliente, e observar o que acompanha logo em seguida (condições consequentes).
O terapeuta não deve buscar explicações que não podem ser mensuradas e observadas. A avaliação funcional é o método fundamental na identificação das relações de dependência entre as respostas de um organismo, o contexto em que ocorrem (condições antecedentes), seus efeitos no mundo (eventos consequentes) (Skinner, 1953/2003).
Vejamos o exemplo de um caso:
Sandra (nome fictício) chegou ao consultório com o seguinte relato: “Como excessivamente e toda hora. Estou me consultando com nutricionista e fazendo atividade física regularmente, mas não consigo seguir a dieta e emagrecer. Isso acaba me deixando triste, culpada e fracassada. Meu namorado tem toda razão em dizer que vou engordar”.
- Identificação da resposta: Comer excessivamente.
- Identificação dos antecedentes: Através do automonitoramento ela identificou que o comer excessivamente não “acontece toda hora e do nada”, mas diante de situações estressoras, como: briga com namorado, dificuldade de entender algumas matérias da faculdade. Ela também relatou que apesar de se planejar conforme a nutricionista recomendou, sua família não colaborava porque sempre comprava alimentos hipercalóricos e de fácil preparo.
- Identificação das consequências: O namorado diz que desse jeito ela vai continuar engordando; pausa no estudo; engordar; não seguir dieta.
Então, a situação foi operacionalizada no quadro abaixo:
Antecedentes | Respostas | Consequências | Processos | Efeitos |
Briga com o namorado
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Comer excessivamente
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O namorado diz que desse jeito ela vai continuar engordando | Punição positiva
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Tristeza, raiva
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Dificuldade de entender matérias da faculdade
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Comer excessivamente
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Pausa no estudo
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Reforço negativo
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Alívio
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Geladeira com alimentos de fácil preparo e calóricos | Comer excessivamente
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Engordar
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Punição positiva | Frustração |
Referências
Farias, a. k. c. r.; Fonseca, f. n.; Nery, l. b. (2018).Teoria e formulação de casos em análise comportamental clínica . Porto Alegre: Artmed
Leonardi, Borges e Cassas (2012) em: Nicodemos Batista Borges…[et al.] (2012). Clínica Analítico-Aomportamental: aspectos teóricos e práticos /. Porto Alegre: Artmed
Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (J. C. Todorov e R. Azzi, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953)
Skinner, B. F (2006). Sobre o Behaviorismo (Maria da Penha Villalobos. Trad.) . São Paulo: Cultrix . (trabalho original publicado em 1974)