Percebo na minha prática profissional e estudos relacionados que emagrecer não é o principal problema, mas manter o peso desejado por toda a vida é o que a maioria das pessoas enfrenta.
A habilidade de autocontrole para quem deseja alcançar suas metas do emagrecimento e manter o peso desejado é fundamental, pois durante toda a vida irá se deparar com dois tipos de conflitos de consequências produzidas pelas suas escolhas: consequências imediatas versus consequências atrasadas (Nico, 2001).
Para Skinner (1979/2003), o autocontrole é quando o indivíduo emite uma resposta controladora para manipular as variáveis das quais o comportamento seu é função (resposta controlada). O autocontrole, segundo o autor, pode gerar conflitos de consequências que levam a reforçamento positivo e negativo. O autor enfatiza que o “controle do comportamento” tem como consequência manipular contingências que determinam a resposta controlada. Retirar alimentos calóricos da geladeira é um exemplo.
Diante de estímulos aversivos, a pessoa pode ficar sob o controle das sensações corporais, não observando os aspectos externos que produzem esses comportamentos privados. Dessa maneira, dores de cabeça e dores estomacais podem funcionar como estímulo discriminativo para verbalizações do tipo: “preciso comer para aliviar”.
Skinner (1979/2003) explica que o reforçamento negativo pode ter suas frequências aumentadas quando o seu comportamento de fuga retira um evento aversivo, enquanto que comportamentos de esquiva evitam que o evento ocorra. O comer excessivamente diante da estimulação aversiva é fortalecido por reforço negativo, o que irá aumentar a probabilidade deste comportamento se repetir futuramente. Outras consequências em longo prazo como culpa e vergonha (estímulos aversivos condicionados) poderão se apresentar em forma de punição.
Veja um relato de uma paciente que exemplifica essa questão: “Durante toda minha vida fiz tentativas de me controlar diante da comida. Às vezes, fico dando voltas pela casa. Mas isso me deixa ainda mais angustiada, por isso eu como”. Ao comer a paciente experimenta um alívio imediato pela remoção do estímulo aversivo, angustia.
O terapeuta, neste caso, deve desenvolver o autoconhecimento relacionando os estados corporais com contingências aversivas ensinando ao paciente/cliente que o comportamento de comer excessivamente tem função operante de fuga-esquiva para amenizar as reações fisiológicas aversivas.
O desenvolvimento do autocontrole deve ser realizado após uma análise das contingências dos hábitos alimentares excessivos, identificando as funções que o comer assume para a pessoa. Os estímulos antecedentes (bolos, privação alimentar, espaço maior de uma alimentação para outra) têm papel de “dicas” precedendo a resposta negativa controlada. O terapeuta deve manipular as variáveis independentes através de um planejamento coerente que obtenha a resposta desejada controlada fortalecida (não comer alimentos excessivamente). Os estímulos antecedentes são aquelas “tentações” que precedem o comportamento excessivo, neste caso, deixar o bolo a vista ou a geladeira cheia de comidas calóricas que não estão no planejamento alimentar.
Skinner (1979/2003) ressaltou algumas técnicas que podem facilitar no controle do comportamento: (a) removendo o estímulo eliciador que leva o comer excessivo e em seguida consequências aversivas. Neste caso, podemos diminuir a quantidade de comidas calóricas dentro da geladeira e armários. Preparar alimentos saudáveis para a semana de rápido preparo. (b) Restringindo fisicamente – Retirar-se da situação em que o comportamento a ser controlado pode ocorrer. Em uma festa a pessoa pode sair do ambiente onde a probabilidade de comer alimentos que não estão no planejamento alimentar é maior. (c) Privação e saciação – No caso de evitar o comer excessivo, o terapeuta pode planejar com o cliente comer antes de sair de casa para que esteja saciado (diminuir o valor da comida na festa). Neste caso, irá tornar a probabilidade do seu comportamento alimentar excessivo menor. Quando o cliente come antes de sair de casa usa saciedade como método de autocontrole, diminuindo o valor da comida na festa.
Cavalcante (2009) ressalta outras habilidades a serem ensinadas aos pacientes para o desenvolvimento do autocontrole: ensinar a pessoa a automonitorar seu comportamento, por meio da auto-observação e do autorreforçamento; enfatizar que o comportamento de comer excessivamente foi aprendido e pode ser modificado e, portanto, pode ser autocontrolado através da manipulação das variáveis; definir as metas de perda de peso; colocar o comportamento de alimentar-se sob o controle de novos estímulos, dispensando especial atenção à emissão deste comportamento em situações sociais; estruturar um programa que permita a consequenciação para os comportamentos do cliente, ensinando o mesmo a discriminar mudanças e maneiras de iniciar e reiniciar comportamentos, preparando o mesmo para lidar com insucessos, analisá-los e planejar novos comportamentos quando situações semelhantes ocorrem novamente; introduzir um programa de atividades físicas para aumentar a quantidade de energia gasta pelo organismo; ampliar o repertório comportamental, desvinculando-o da alimentação.
Concluo enfatizando que um bom terapeuta não aplica técnicas isoladas. É preciso identificar as contingências das quais o comportamento de comer em excesso é função e a interação entre elas, analisando o “por que”, “para que” e “como” o paciente come e lida com a comida nas interações sociais e o que faz manter todo este padrão alimentar excessivo.
Referencias:
Cavalcante, L. C. (2009). Obesidade e análise do comportamento . Belém: Unama.
Nico, Y. C. (2001). A contribuição de B. F. Skinner para o ensino do autocontrole como objetivo da educação. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo
Silva, V. L. M. Sobre Comportamento e Cognição: Psicologia Comportamental e Cognitiva: Obesidade: o que nós, psicólogos, podemos fazer? Cap.33 (Org. Regina Christina Wielenska). 1 ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2001. v.6
Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (J. C. Todorov e R. Azzi, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953)