Para a Análise do comportamento o contexto tem o papel importantíssimo para entendermos as variáveis que controlam o comportamento dos nossos clientes. Faz-se necessário o conhecimento sobre o contexto ou ambiente do cliente que está em atendimento terapêutico para identificarmos em quais condições os comportamentos ocorrem.
Quando falamos do contexto ou dos antecedentes do comportamento, estamos falando de controle de estímulos, que se refere à influência que os estímulos antecedentes exercem sobre os comportamentos. Nesse caso, podemos dizer que o ambiente exerce controle sobre o comportamento à medida que altera a probabilidade de o comportamento ocorrer.
Esses estímulos que alteram a probabilidade de certos comportamentos ocorrerem são definidos como estímulos discriminativos, pois sinalizam quando uma determinada resposta será reforçada, o que resulta no aumento da probabilidade da emissão daquela resposta (Moreira & Medeiros, 2007). De acordo com Catânia (1998/1999) estímulos que coloquialmente são definidos como sinais e pistas estabelecem a ocasião em que as respostas tem consequências, isto é, ocasionam as respostas.
Por exemplo, ao ligar a televisão a certa altura da noite e perceber que é o horário em que a novela de interesse está passando, a probabilidade desse comportamento ter sua frequência aumentada durante a semana é alta. Se repetir o mesmo comportamento aos domingos, dia em que geralmente não passa novelas, esse comportamento não será reforçado. No caso de ligar a televisão durante a semana no horário indicado para iniciar a novela, o horário passou a ser um sinal de que a resposta será reforçada.
De acordo com Baum (1999/2006) chamamos o contexto do comportamento operante de estímulo discriminativo para diferenciá-los dos estímulos que eliciam o comportamento. Ainda segundo o autor, comportamentos eliciados ou induzidos parecem depender apenas do contexto, enquanto que os comportamentos operantes dependem das consequências que ocorrem em determinado contexto. Os estímulos discriminativos podem ser compostos e na maioria das vezes é esta combinação que estabelecerá o contexto, o qual será definido na presença de qual estimulo discriminativo o comportamento operante será reforçado.
Para que seja possível saber identificar essas variáveis de controle todos nós passamos por um treino discriminativo ao longo da vida e ainda assim não é uma tarefa fácil reconhecer o que se tornou variável de controle. Ficar sensível ao horário da novela é mais simples do que identificarmos o que nos deixa triste ou o porquê nos comportamos em ambientes diferentes de formas distintas ou até de parecidas formas. Encontrar a variável controladora nesses casos é muito mais complexo do que imaginamos.
Como sabemos não nos comportamos por conta de apenas uma variável e sim por uma série de acontecimentos. O comportamento é multideterminado. Saber qual variável que, por alguma razão tem mais controle sobre determinado comportamento, é algo difícil e que demanda um processo minucioso de análise das contingências da vida de uma pessoa. Muitas vezes é necessário um processo em que seja possível contar com a ajuda de um profissional para chegar a resultados mais efetivos. Precisamos levar nossos clientes a identificarem essas variáveis para que consigam intervir de forma efetiva no controle do seu comportamento.
De acordo com Skinner (1972), “somos livres a partir do momento que controlamos as variáveis que nos controlam”, essa frase nos diz respeito ao conhecimento sobre as variáveis de controle do nosso próprio comportamento, ou seja, se as identificamos fica mais simples de atuar sobre delas. Assim, o processo terapêutico começa através do treino de observação e discriminação dessas variáveis. Devemos ensinar nossos clientes a tatearem seus próprios comportamentos, a olharem para o contexto que fazem parte e no qual o comportamento “problema” ocorre, e assim favorecer relatos mais próximos do que ocorre em suas vidas, fazendo com que eles próprios passem a realizar análises funcionais sobre seus comportamentos de modo a criar estratégias de lidarem com o próprio sofrimento.
O controle de estímulos nunca é perfeito, levando em consideração as diversas variáveis que podem alterar sua condição. A relação entre as variáveis de controle e a topografia das respostas verbais e não verbais podem ser afetadas. Portanto, o controle de estímulos pode ser afetado por condições especiais que podem o tornar distorcido, ou seja, não correspondente sob determinadas circunstâncias. Encontramos nesse caso uma dificuldade, o que torna difícil uma análise do comportamento verbal onde a análise seja apenas a topografia da resposta, faz se então necessária a investigação da variável controladora da qual o comportamento é função (Medeiros, 2013).
Quando o cliente não tem treino discriminativo pode ser que ocorra uma ausência de correspondência verbal que acontece por conta de vários fatores, por exemplo a falta do controle discriminativo entre estímulos e relatos é muito comum nas interações cotidianas e nas relações terapeuta cliente, o que pode dificultar a terapia (Medeiros & Medeiros, 2007). A correspondência verbal é definida como um operante complexo com elementos múltiplos que acontecem ao mesmo tempo para que uma resposta possa ser reforçada (Beckert, 2005).
Pesquisas sobre correspondência verbal são importantes para que ao compreender as variáveis que afetam o controle discriminativo possam ter uma maior medida sob o relato verbal dos indivíduos na clínica, por exemplo. Tendo essa relação de correspondência grande importância para a mudança dos clientes em terapia, é preciso que o terapeuta se atente que os relatos do cliente em terapia estão, na maioria das vezes, sob controle de variáveis externas, portanto reforçar essas verbalizações não aumenta a frequência do se comportar para a mudança ser efetiva (De rose, 1999).
Diante da falta de correspondência verbal, o cliente pode emitir relatos distorcidos, que podem ser considerados como respostas de fuga ou dificuldades de relatar e descrever seus comportamentos passando a emitir relatos que consideram ser o que o terapeuta gostaria de ouvir. A atenção aos comportamentos verbais do cliente e as suas possíveis distorções é fundamental para evitar a falta de correspondência, para isso o terapeuta, precisa criar contingências de reforçamento para estabelecer e manter uma correspondência mais próxima de tatos puros de descrições fidedignas, como ter uma audiência não punitiva (Beckert, 2001).
À medida que o cliente diz o que vai fazer e estabelece contingências que tornarão o fazer desejado mais provável de acontecer e assim faz o que disse que iria fazer, dizemos que apresenta autocontrole. Então o dizer que iria fazer algo anteriormente, exerce um maior controle discriminativo sobre o fazer, portanto facilita a ocorrência do que dizer que ia fazer.
Então, o olhar sobre as variáveis que controlam o comportamento é de grande importância no processo terapêutico. E para isso, ficar atento ao contexto do cliente, passa a ter um papel determinante para o entendimento da queixa trazida. Saber onde, como e na presença de quem o comportamento ocorre nos dá dados sobre qual variável faz com que o cliente se comporte de tal forma e o que pode manter seus comportamentos e seu sofrimento. Nosso comportamento pode ser alterado a depender do ambiente em que vivemos. Portanto, podemos tornar o ambiente terapêutico uma variável que controle relatos genuínos a fim de que a terapia possa produzir autoconhecimento e estratégias efetivas para que nossos clientes lidem com as demandas apresentadas continuamente na vida.
Referências
Baum, W. M. (1999/2006). Compreender o behaviorismo: Ciência, comportamento e cultura (M. T. A, Silva, M. A Matos, G. Y. Tomanari & E. Z. Tourinho, Trads.). 2º Ed. Porto Alegre: Artmed.
Beckert, M. E. (2001). A partir da queixa, o que fazer? Correspondência verbal e não verbal: um desafio para o terapeuta. Em Guilhardi, H. (Org.). Sobre o comportamento e cognição: expondo a variabilidade (pp. 217-226). Santo André: Esetec
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. (Traduzido por D. G. Souza). 4ª Edição. Porto Alegre: Artmed. (Trabalho original publicado em 1998).
de Rose (1999). O relato verbal segundo a perspectiva da análise o comportamento: contribuições conceituais e experimentais. Em R. A. Banaco (org.). Sobre o comportamento e cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista. vol. 01 (pp. 148- 163). Santo André: Esetec.
Medeiros, C. A. & Moreira, M. B. (2007). Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed
Medeiros, C. A. (2013). Mentiras, indiretas, desculpas e racionalizações: manipulações e imprecisões do comportamento verbal. Em C. V. B. B. Pessoa, C. E. Costa, & M. F. Benvenuti. Comportamento em Foco, v.02 (pp. 157-170). São Paulo: Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental – ABPMC
Skinner, B. F. (1957/1978) Comportamento verbal. Traduzido por M. P. Villalobos. São Paulo: Cultrix.