Que tal o seguinte cenário: Os dias passando, as contas chegando, a louça e a roupa acumulando, as lingeries envelhecendo, despertadores tocando diariamente… não parece muito animador para um relacionamento amoroso, não é mesmo?
Só que de fato isso tudo acontece. E em si esses acontecimentos não são um problema. Podem passar a sê-lo dependendo da forma como o casal reage a cada um deles, quais soluções desenvolveram e quais ações fazem para contrabalancear a rotina e a repetitividade própria do dia a dia. Afinal, “os hábitos para um casamento saudável e feliz não são, em sua essência, diferentes de outros tipos de hábito. Eles precisam ser aprendidos e praticados” (Bush & Bush, 2015).
Tal noção vai de encontro a descrição que a própria modalidade de terapia comportamental de casal vem mudando e entendendo que para uma relação saudável o casal não precisa estar imune a conflitos e sim entender que cada parceiro e a própria relação é composta por aspectos positivos e negativos, e o enfoque da intervenção se dará justamente neste processo de síntese entre aceitação e mudança (Vandenberghe, 2006).
Tomando por base a análise do comportamento, partimos do princípio que os comportamentos de todos os indivíduos são aprendidos e mantidos por eventos singulares da história de vida de cada um, e, por esse motivo, precisam ser estudados e analisados dentro de um contexto. Sendo assim, em um atendimento psicoterápico comportamental para casais, o clínico precisará entender as queixas apresentadas a partir de um histórico presente e antecedente das mesmas, bem como construir, com os cônjuges, a identificação da relação entre os eventos e seus comportamentos. Desta forma, o foco da atenção da queixa será deslocado da forma como ela acontece (topografia) para o sentido da sua ocorrência (funcionalidade) permitindo assim, melhores discriminações acerca da sua ocorrência e facilitando planos de ação para mudança (Gonçalves, 2006).
O maior desafio de todo esse processo está no fato que a nutrição da relação envolve hábitos diários. Se tratam daquelas sutis e pequenas ações que parecem não fazer muita diferença, mas que se não estão lá trazem uma fresta, um buraco e, posteriormente, um rombo para a relação. A ponta do iceberg do afastamento entre os parceiros quando aparece e se torna visível, em geral, tende a esconder um grande e enorme bloco de gelo que foi se construindo pelo não exercício cotidiano. Mas daí você pode se perguntar: Mas todo dia? É sério? Talvez chegue até a afirmar: Ninguém faz isso, não é possível. E aí eu te pergunto: Você se questiona se precisa beber água todo dia? E ir ao banheiro? Não, não é mesmo? Porque essas são necessidades básicas e fisiológicas de cada um de nós. Se pensarmos nos nossos relacionamentos, a necessidade básica deles é o afeto, o cuidado, o zelo e a lembrança que ele está ali, traduzida em ações (Bush & Bush, 2015).
Afinal, “a felicidade conjugal é a recompensa de um trabalho árduo em que ambos devem estar completamente engajados” (Autor desconhecido).
Referências Bibliográficas
- Bush, A.D. & Bush, D.A. (2015). 75 hábitos dos casais felizes. Rio de Janeiro: Sextante
- Gonçalves, M.M.O. (2006). Análise das contingências que atuam na manutenção dos vínculos conjugais contemporâneos. Monografia apresentada para conclusão do curso de Psicologia do UniCEUB. Brasília/DF
- Vandenberghe, L. (2006). Terapia comportamental de casal: uma retrospectiva da literatura internacional. Revista brasileira de terapias comportamentais e cognitivas, vol.8(2), pp.145-160