Habilidades Sociais na Clínica Comportamental

As Habilidades Sociais configuram-se em um tema constante entre psicólogos comportamentais. No entanto, não é raro que surjam dúvidas sobre sua aplicabilidade na prática clínica.
Como já dito em outros artigos, Habilidades Sociais referem-se à capacidade do indivíduo de se comportar de forma socialmente adequada, em diversos ambientes (Del Prette e Del Prette, 2009)
Para começar, é preciso identificar se existe ou não déficit em Habilidades Sociais. Esses déficits se dividem em dois tipos, déficits de aquisição e déficits de desempenho. Déficits de aquisição referem-se à falta de conhecimento em como praticar alguma habilidade social e os déficits de desempenho referem-se à falha na prática das habilidades já existentes (Gresham, 2009).
Como forma de identificar estes déficits na clínica Comportamental, podemos usar algumas técnicas. Uma ferramenta imprescindível nesse modelo de clínica é Análise Funcional, que consiste em identificar contingências envolvidas em um comportamento, dentre os elementos contingentes, busca-se analisar as situações antecedentes às ações, as próprias ações e as consequências derivadas delas, assim como esses elementos do ambiente e do organismo se relacionam de modo interdependente. Essa análise também inclui checar as contribuições dos aspectos genéticos, biológicos, bioquímicos, neurológicos, assim como os da história de vida e da cultura do indivíduo. Em síntese, a Análise Funcional identifica os tipos de relações causais do comportamento, alvos da ciência comportamental skinneriana (Neno, 2009).
Os comportamentos complexos envolvidos nas nossas relações sociais podem ser avaliados por meio dos déficits nos repertórios comportamentais. A depender de quais habilidades estejam ausentes nesses repertórios, a adaptação do indivíduo em seu ambiente social poderá ser prejudicada. Do mesmo modo, os comportamentos inadequados presentes de modo frequente prejudicam a adaptação (Brito e Elias, 2017).
Através desta análise, é possível pensar numa intervenção eficaz, que busque aquisição ou adequação do repertório de Habilidades Sociais. Uma Análise Funcional de comportamentos socialmente inábeis irá auxiliar o terapeuta a descobrir a função destes comportamentospara este indivíduo, e no planejamento de uma intervenção eficaz.
Temos também o IHS (Inventário de Habilidades Sociais), criado por Del Prette e Del Prette (2001). Hoje o IHS possui três versões: para adultos, para Adolescentes e para Cuidadores de Idosos. Trata-se de um Inventário com questões relacionadas às Habilidades Sociais, voltado para os públicos específicos.
A partir da análise dos dados recolhidos na avaliação das habilidades sociais, será possível planejar o THS (Treinamento de Habilidades Sociais) no contexto clínico e também fora dele, buscando sempre a generalização dos comportamentos adequados socialmente. Do ponto de vista técnico, o THS caracteriza-se em dois pontos: a avaliação e a intervenção. A avaliação visa observar excessos e déficits comportamentais, seus antecedentes, consequentes, reações emocionas e crenças distorcidas, que estejam contribuindo para comportamentos não habilidosos socialmente (Del Prette e Del Prette 1999; Falcone 2002).
Dentro do contexto Clínico, uma das técnicas utilizadas é o Ensaio Comportamental, também conhecido como Role Playing, que consiste em reproduzir durante a sessão, por meio de dramatização, situações análogas a dos contextos sociais em que o cliente tem déficit e treinar a forma socialmente relevante do comportamento. Isso também pode ser feito com o cliente imaginando determinadas situações de desconforto social e a melhor maneira de lidar com elas. Del Prette e Del Prette (1999/2001) afirmam que o role-playing se dá pela apresentação de uma situação-problema, breve discussão acerca da situação, arranjo de uma situação análoga, desempenho do cliente em situação estruturada e feedback do terapeuta. Aplicado à terapia analítico comportamental, o ensaio comportamental é constituído de: boa descrição da situação-problema, operacionalizar comportamentais um de cada vez, fornecer instruções e modelos de comportamento, apresentar o comportamento em uma cena, dar dicas sobre o desempenho do cliente, inversão de papéis, programar generalização e avaliar desempenho na situação real (Calais e Bolsoni-Silva, 2008).
As tarefas de casa também podem ser utilizadas com o objetivo de modelação de comportamentos com déficits sociais. Na modelação a uma decomposição do comportamento alvo, em pequenos comportamentos até a aprendizagem do novo comportamento.
Também são importantes sessões extra consultório (in loco) para que o terapeuta possa observar e intervir nas situações sociais onde e quando elas ocorrem.
Por fim, como o objetivo de toda intervenção em Terapia Comportamental, é que os comportamentos emitidos em sessão ocorram também nos diversos ambientes em que o cliente está inserido.

REFERÊNCIAS

Britto, I. A. G. A & Elias, P. V.O. (2009). Análise comportamental das emoções. Psicol. Am. Lat., México, n. 16, jun. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2009000100004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 07 dez. 2017.

Calais, S.L. & Bolsoni-Silva, A.T. (2008) Alcances e limites das técnicas comportamentais: algumas considera- ções. Em: Cavalcante, M.R. (Org.) Análise do Comportamento – avaliação e intervenção. São Paulo: Roca

Del Prette, Z. A. P. Del Prette, A. (2009). Base conceitual da área das habilidades sociais. In: Psicologia das Habilidades Sociais na Infância Teoria e Prática. Vozes, Cap. 2, pag. 30-50.

Del Prette, A., Del Prette Z.A.P. & Barreto, M.C.M (1999) Habilidades sociales em laformatición professional del psicólogo: análisis de un programa de intervenção. Psicologia Conductual, 7(1), 27-47.

Falcone, E. (1999). Avaliação de um programa de treinamento da empatia com universitários. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 1, 23-32. http://www.usp.br/rbtcc/index.php/RBTCC/article/view/267

Gresham, M. F (2009).Análise do comportamento aplicada às habilidades sociais. In: Psicologia das Habilidades Sociais. Diversidade teórica e suas implicações. Del Prette A. P. Z, Del Prette, A. Organizadores. Vozes, Cap. 1, pp. 17-24.

Neno, S. (2003). Análise funcional: definição e aplicação na terapia analítico-comportamental. Rev. bras. ter. comport. cogn., São Paulo , v. 5, n. 2, p. 151-165, dez. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452003000200006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 07 dez. 2017.

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Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especializada em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

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Especialização em Clínica Analítico Comportamental