O autoconhecimento individual, um caminho para a sua aplicação na conjugalidade

O autoconhecimento individual, um caminho para a sua aplicação na conjugalidade

No último artigo, explorei a importância do autoconhecimento para o bem-estar do relacionamento conjugal, e os possíveis efeitos danosos do seu déficit. No artigo de hoje falarei de como podemos desenvolver o nosso autoconhecimento, uma vez que para ajudarmos o nosso parceiro no seu autoconhecimento, precisamos saber desenvolver primeiramente a nossa percepção e o nosso repertório.
O autoconhecimento se refere ao comportamento de saber descrever o próprio comportamento, a partir de auto-observação, bem como observação dos contextos envolvidos em sua ação. Para a instalação e refinamento deste processo, dependemos da comunidade verbal em que estamos inseridos desde o nosso nascimento (pais, parentes, amigos, vizinhos…), uma vez que a linguagem é um comportamento com larga origem social e através dela aqueles com os quais interagimos passam a nos fazer perguntas que começam a refinar a nossa auto-observação, tais como: Como você está? O que está sentindo? O que deixou você chateado? dentre outras. Para Skinner não há diferença entre relatar atos públicos observáveis, como o que estamos comendo, aonde estamos indo ou o que estamos dizendo, e atos privados (aqueles acessíveis inicialmente apenas ao próprio sujeito), como o que vemos, ouvimos, sentimos e pensamos.
Tal posicionamento fica ainda mais claro a partir da citação: “O ambiente, seja público ou privado, parece permanecer indistinto até que o organismo seja forçado a fazer uma distinção (…) o comportamento discriminativo espera pelas contingências que forçam as discriminações (…) e se uma discriminação não pode ser forçada pela comunidade, pode não aparecer nunca. (…) é a comunidade que ensina o indivíduo a “se conhecer”. (1953/1998, p. 284).
A manutenção e desenvolvimento desse novo repertório de autoconhecimento serão influenciados pelas características e reações da comunidade verbal em que o sujeito está inserido. Ou seja, a partir de reações que motivem e reforcem tais descrições o indivíduo passará a ampliar de forma contínua o seu repertório. Já em grupos onde isso seja tratado de forma indiferente ou até receba algum tipo de invalidação e punição constantes, o indivíduo passará a apresentar um repertório mais limitado. Dessa forma, “diferentes comunidades geram tipos e quantidades diferentes de autoconhecimento e diferentes maneiras de uma pessoa explicar-se a si mesma e aos outros” (Skinner, 1974/2006, p. 146).
Na medida em que transpomos essa realidade de autoconhecimento individual para a conjugal, a primeira dificuldade se refere o quão claro está para cada cônjuge o que funciona ou não dentro da relação. Ou seja, como cada um tem se apresentado como fonte de reforço ou punição para a outro e quais os efeitos de cada um desses aspectos para o relacionamento. Nesse sentido, passamos a entender que quanto maior seja o autoconhecimento individual de cada parceiro, em melhores condições ele estará de atentar, perceber e relacionar fatos e efeitos para a própria relação, bem como de dialogar com o parceiro a esse respeito.

Referências Bibliográficas
• Baum, W. M. (2006) Compreender o Behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.
• Gongora, M.A.N., Abib, J.A.D. (2001). Questões referentes à causalidade e eventos privados no Behaviorismo Radical. Revista brasileira de terapias comportamentais cognitivas.vol.3, no.1. São Paulo
• Skinner, B. F. (1974/2006). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.

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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

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