O autoconhecimento como ferramenta para satisfação conjugal

Casais apaixonados nos filmes, seriados ou mesmo no dia a dia podem despertar em quem os observa diversas emoções, dentre as quais admiração, e trazer um questionamento: “Afinal, como eles fazem para serem assim tão felizes? Qual é a fórmula de sucesso? O que faz o relacionamento dar tão certo? ”

A primeira etapa da interação amorosa se refere a escolha do parceiro, bem como as expectativas de cada um a respeito do outro e do próprio relacionamento. Segundo Lazarus (1992 apud Weber & Silva, 2006), muitos casais se unem com sonhos e expectativas irreais. Tais expectativas se referem a mitos conjugais, tais como: “marido e esposa devem fazer tudo junto; os bons maridos consertam tudo em casa e as boas esposas fazem limpeza; ter um filho melhora um mau casamento; os que amam de verdade adivinham os pensamentos e sentimentos do outro” e assim por diante. Nesse sentido, esperam muito do parceiro, da relação, ou mesmo vislumbram uma certa estabilidade contínua e eterna, o que a médio e longo prazo pode trazer surpresa, decepção e frustração. Sendo assim, poderíamos dizer que os indivíduos que compõe a relação amorosa podem apresentar baixa frequência em autoconhecimento, tanto a respeito de quais os determinantes para sua escolha (a partir de sua história de vida), bem como de quais seriam os reforçadores envolvidos nessa relação.

Para o crescimento conjugal, cada parceiro se torna um auxiliar do outro no caminho de autoconhecimento, ajudando na identificação de forças, déficits e excessos, de forma amorosa e empática. Mais do que uma fórmula única e infalível, a construção da relação a dois poderia ser encarada como um jogo de lego, em que a cada momento uma “pecinha” nova se apresenta, com tamanhos e cores variadas, o que exige do casal flexibilidade para se deparar com elas e rearranjá-las segundo as possibilidades. Nesse sentido, é imprescindível o comprometimento mútuo, bem como a clareza dos valores que os unem.

O desafio inicial quando não percebido pode desenrolar em demais dificuldades, e isto se dá quando o casal se esquece de “jogar”. Ou seja, quando não se propõe a parar, investir e explorar cada uma das “pecinhas” das quais dispõem. Isso porque para a felicidade e satisfação conjugal são necessários hábitos saudáveis que precisam ser constantemente aprendidos, praticados e aperfeiçoados.

A base e o maior desafio deste “jogo” é que ele não tem fim e não se “zeram” todas as fases (como dizemos comumente no mundo dos jogos). O que acontece, e o que torna efetivamente um jogo diferente é que ele demanda dos participantes o desafio de se reinventar diariamente. Em outras palavras, como nos lembra Dalai Lama: “A felicidade não é algo que vem pronto, é um resultado de suas ações”.

Mais do que um acumulado de dias, meses e anos juntos, para a satisfação conjugal é necessário autoconhecimento individual/conjugal e emissão de comportamentos reforçadores de forma contínua, exigindo dos envolvidos um investimento que os faça sair do automatismo.

 

Referências

  • Bush, D. A., Bush, A. D. (2015). 75 hábitos dos casais felizes. Rio de Janeiro: Sextante.
  • Weber, L. D. & Silva, M. C. A. (2006). Regras e auto-regras: um estudo sobre o comportamento de mulheres no relacionamento amoroso. Em Guilhard, H. J., Aguirre, N. C. de (orgs). Sobre comportamento e cognição. Vol. 18. Expondo a variabilidade. Santo André: Esetec.
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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

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