O sentir e a tristeza, um olhar analítico-comportamental

Para a Análise do Comportamento, as pessoas não nascem com sentimentos. Aprende-se a sentir através da comunidade verbal – que nomeia as condições em que estamos – e o sentir/comportar torna-se indissociável. (Guilhardi, 2002)

Referência: http://www.contioutra.com/content/uploads/2016/06/empatia.jpg

Este entendimento pode ser facilitado recorrendo principalmente a nossa língua. Sentir é um verbo – para que esta ação seja executada precisa-se de um sujeito.

Guilhardi (2002), afirma que para que haja possibilidade de sentir, existe a necessidade de um potencial. Este potencial refere-se a condições fisiológicas.

Um sujeito que sente é formado através do convívio social e verbal. Esta comunidade é formada primeiramente pelos pais/avós/professores, estes observam as contingências em que o sujeito está e nomeia seus comportamentos (Guilhardi, 2002). Por exemplo, após o filho cair e ralar as mãos e joelho, a criança chora e a mãe/pai diz “Filho(a) está doendo, vamos passar um remédio para sarar!”

Através deste aprendizado prévio que o sujeito descreverá futuramente seus sentimentos. Guilhardi (2002) ressalta que uma comunidade verbal com vastidão de palavras para descrever seus sentimentos terá filhos com maior grau de consciência sobre si mesmo. Pode-se imaginar que uma criança com pouco acesso nesta descrição não consiga diferenciar angustia de culpa, por exemplo.

Considerando que comportamento-sentimento seja uma unidade, Guilhardi (2002) propõe um modelo metafórico da bola colorida: a bola é o comportamento e a cor, o sentimento. É difícil imaginar a bola sem cor e a cor na ausência do objeto concreto em que ela se expressa.

Se os sentimentos são produtos das contingências, então contingências reforçadoras produzirão sentimentos e comportamentos como: amor, diálogo, alegria, risadas, carinho (Guilhardi, 2002). O mesmo vale para contingências aversivas, que produzirão sentimentos e comportamentos correspondentes.

Neste sentido, não há sentimentos que possam ser considerados “bons” ou “ruins”. Existem sentimentos agradáveis e desagradáveis, essa condição é determinada pelo contexto que os evoca, e sentir é inevitável.

Há uma busca por sentimentos agradáveis e uma fuga dos desagradáveis. Pode-se observar isto na quantidade de pessoas a postar fotos felizes em suas redes sociais, uma busca diária por um estado duradouro de “sentimentos confortáveis”. Enquanto sentir-se triste pode ser um motivo de angústia, principalmente se as pessoas com quem convive não emitem comportamento empático.

Uma maneira de facilitar a experiência de sentimentos desagradáveis é justamente desenvolvendo/emitindo comportamento empático. Este comportamento visa compreender a situação do outro e comunicar este entendimento. (Falcone, 1999)

Não consiste em apenas entender o que o outro relata, mas experienciar o relato do outro, prestando atenção e mostrando-se envolvido, dando ao outro a possibilidade de um ouvir sensível sem julgamentos. A comunicação também precisa ser realizada de maneira sensível, fazendo com que o outro se sinta compreendido, encorajando-o a explorar suas preocupações. (Falcone, 1999)

Um exemplo prático desta situação poderia ser o utilizado anteriormente, quando a criança cai e machuca seu joelho. Uma resposta empática dos pais/cuidadores seria: “Filho(a) está doendo, pode chorar. Vamos resolver isso, ok?!” – isso dito enquanto o acolhe nos braços. Uma resposta não empática seria: “Filho(a) pare de chorar, isso não foi nada! – gritado de longe, enquanto o observa.”

O comportamento descrito acima, não empático, pode enquadrar-se no comportamento de esquiva (evitar). Herdado da evolução, o comportamento de esquiva é muito útil na manutenção da vida em nossa espécie. É de extrema importância saber a hora de fugir, por exemplo. (Saban, 2015)

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) dá nome a este “evitar situações”, o chamam de esquiva experiencial. Esquivar-se significa justamente fugir de situações, sentimentos ou pensamentos. Isto pode tornar-se prejudicial quando não visa a manutenção da sobrevivência e só intensifica, a longo prazo, sentimentos-comportamentos de ansiedade, tristeza, angustia, entre outros. (Saban, 2015)

Utiliza-se muito do artifício da esquiva quando: ao pensarmos algo desagradável colocamos música alta para não pensar, ao fim de um relacionamento optar por sair para evitar ficar em casa chorando; ao perder um parente querido se sobrecarregar nos estudos/trabalho para não lembrar.

Saban (2015), ressalta que o problema é que estes comportamentos não evitam a situação aversiva original, evitam apenas seus efeitos. Por sua vez, os efeitos são importantes para própria solução da situação aversiva.

Colocar uma música alta pode te distrair momentaneamente, mas não te livrará de pensar novamente, na mesma coisa.

As principais consequências da esquiva estão justamente ligadas a intensificação do que lhe é desagradável. Quando pensa-se em evitar um pensamento, já teve que pensar no que lhe é desagradável. Ou seja, não põe fim ao pensar, mas gera o trabalho de tentar se desviar sempre do que gera desconforto. Este comportamento tende a intensificar e aumentar de frequência o pensar (no indesejado). (Saban,2015)

A proposta é justamente viver a situação aversiva, ou seja, parar de evitar. Deixar que as sensações surjam e possam desaparecer de maneira natural. É importante que se sinta triste as vezes, mesmo que seja desagradável. Como foi descrito anteriormente, sentir é produto das contingências, e como tantos outros sentimentos, é finito e não precisa ser fonte de um sofrimento eterno, ou de uma fuga eterna.

Inicialmente a ideia de se esquivar pode parecer atrativa, já que a busca é exatamente fugir, cabe nesta situação a reflexão a longo prazo. Além disso, uma alternativa interessante nas intervenções seria o uso de exercícios de Mindfulness (atenção plena) para intervenção clínica.

 

Referências:

 

FALCONE, Eliane. A avaliação de um programa de treinamento da empatia com universitários. Rev. bras. ter. comport. cogn.,  São Paulo ,  v. 1, n. 1, p. 23-32, jun.  1999 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55451999000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 nov. 2016.

 

GUILHARDI, Hélio J. Autoestima, autoconfiança e responsabilidade. Comportamento Humano –Tudo (ou quase tudo) que voce precisa saber para viver. 2002. Santo Andre (SP): ESETec Editores Associados. Disponível em <https://tommyreforcopositivo.files.wordpress.com/2015/08/brandc3a3o-m-z-s-conte-f-c-s-mezzaroba-s-m-b-2002-comportamento-humano-tudo-ou-quase-tudo-o-que-vocc3aa-precisa-saber-para-viver-melhor.pdf>Acesso em: 07 out. 2016.

 

SABAN, Michaele T. O que é terapia de aceitação e compromisso?. Terapias Comportamentais de terceira geração: guia para profissionais. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015. p. 179-216

 

 

 

 

 

 

 

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Escrito por Giovana Pagliari

Mãe de 4 cachorrinhas lindas, adora falar - ainda mais quando o assunto é: obesidade, memória, maternidade. Prioriza um olhar humano que seja integral, não dispensa uma boa conversa entre a fisiologia e a AC. Seus textos são rechados de ACT e por vezes, gosta de explorar temas que podem parecer simples, mas são fundamentais para compreensão dos processos clínicos.

Graduada em Psicologia. Pós-graduada em Fisiologia Translacional. Co-autora no capítulo "Comportamentos Suicidas". Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso (Operantis). Realiza atendimento psicológico e avaliação psicológica para procedimentos cirúrgicos em Cambé-PR, também realiza psicoterapia on-line.
E-mail: giovanapagliari.gp@gmail.com
Instagram: @giovanapagliari

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