COMO A TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO PODE CONTRIBUIR PARA A CAMPANHA JANEIRO BRANCO

Neste mês de janeiro está sendo promovida pelo quarto ano consecutivo a Campanha Janeiro Branco, idealizada por psicólogos de Uberlândia (MG). A Campanha consiste na conscientização sobre a importância dos cuidados à saúde mental, na informação à população sobre os sintomas e diagnósticos desta área e no incentivo à promoção da saúde mental.

Disponível em 2. http://janeirobranco.com.br/conheca-a-campanha-janeiro-branco-seus-objetivos-e-a-sua-importancia/

 

De acordo com o site oficial da Campanha [1]:

“Os 5 principais objetivos da Campanha Janeiro Branco são:

1) Fazer do mês de Janeiro o marco temporal estratégico para que todas as pessoas do mundo reflitam, debatam e planejem ações em prol da Saúde Mental e da Felicidade em suas vidas ao longo de todo o ano;

2) Chamar a atenção de todo mundo para o tema da Saúde Mental nas vidas das pessoas;

3) Aproveitar o início de todo ano para incentivar as pessoas a pensarem a respeito das suas vidas, dos seus relacionamentos e do que andam fazendo para serem verdadeiramente felizes;

4) Chamar a atenção das pessoas para pensarem a respeito do que precisam mudar em suas vidas para serem, realmente, felizes;

5) Mostrar às pessoas que sempre é possível o fechamento e a abertura de novos ciclos em busca da Felicidade em suas vidas – afinal, ano novo, vida nova, mente nova!” [2]

Vamos começar a reflexão com dois conceitos fundamentais da Análise do Comportamento para elucidarmos como a Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR) pode nos dar elementos para alcançar os objetivos da Campanha Janeiro Branco. O princípio do Reforço estabelece que nossos comportamentos tenderão a se repetir caso: 1. produzam consequências que nos promovam bem estar, satisfação e contentamento, com o acesso a algo que, sem a apresentação do comportamento, não estava disponível no nosso ambiente (este é o conceito de reforço positivo); 2. ou caso os nossos comportamentos produzam consequência que nos faça sentir alívio, com a retirada de algo incômodo e desconfortável do nosso ambiente (reforço negativo). [3]

Pois bem, partindo do conceito de Reforço (positivo e negativo), começamos a compreender que nossa ação sobre o ambiente em que estamos inseridos, ambiente tanto físico quanto social, é uma peça fundamental para a nossa qualidade de vida. Quanto melhor cada indivíduo tiver conhecimento sobre o efeito de suas ações, ou seja, sobre as consequências práticas e emocionais que seus comportamentos produzem, melhor ele estará instrumentado para agir de maneira consciente e deliberada para buscar o que for de melhor para sua vida. O mesmo se entende para compreendermos o efeito de nossos comportamentos sobre as pessoas que estão à nossa volta, uma vez que fazemos parte de uma rede de interações: o comportamento de cada pessoa produz consequências para ela própria e para os que estão à sua volta.  Nisto consiste uma completa e bem fundamentada Análise Funcional, ou seja, análise de todos os elementos presentes em uma Contingência de Reforçamento.

Cabe lembrar que, justamente por fazermos parte de Contingências de Reforçamento em que as variáveis nem sempre estão sob influência exclusiva de nossas ações, é possível (e, eu diria, frequente) que nos deparemos com situações que não conseguimos alterar. Outro componente entra em cena para fortalecer o time dos fatores que promovem a qualidade de vida: é o termo que tem sido veiculado como resiliência, para o qual temos um sinônimo bastante elucidativo: tolerância a frustração. A nossa habilidade para lidar com situações incontornáveis é tão importante quando a nossa habilidade para agir sobre o nosso entorno. Suportarmos situações em que não cabe unicamente a nós alterarmos é um componente importante da saúde mental e da nossa qualidade de vida.

Diante disso, aprendermos a distinguir entre uma e outra condição (quando a situação é ou não passível de mudança por meio de nossos comportamentos) faz-se de grande importância. Se conseguirmos discriminar quando as consequências reforçadoras estiverem disponíveis para então agirmos, e nos pouparmos quando elas estiverem inacessíveis, nosso desgaste e frustração serão menores. Poderemos dizer, então, que otimizamos nosso comportamento.

O momento é oportuno para ressaltarmos e voltarmos a pensar em nossa qualidade de vida e saúde mental. A Terapia por Contingências de Reforçamento nos ajuda a desenvolver um conceito realista de felicidade: buscarmos o que estiver ao nosso alcance, dedicarmo-nos ao constante desenvolvimento de nossas habilidades para tanto, sem nos esquecermos de também aprender a identificar quando isso não for possível, e tolerarmos alguns dos obstáculos presentes – que  também nos trarão algum aprendizado.

  1. Para saber mais sobre a Campanha Janeiro Branco, acesse janeirobranco.com.br
  2. http://janeirobranco.com.br/conheca-a-campanha-janeiro-branco-seus-objetivos-e-a-sua-importancia/
  3. A.C (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Tradução Deisy das Graças de Souza. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
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Escrito por Marília Zampieri

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, Especialista em Psicologia Clínica Comportamental pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR-Campinas, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Atua como psicóloga clínica e supervisora de atendimentos a adultos em Campinas - SP e online, e como supervisora dos cursos de especialização do ITCR - Campinas.
Possui acreditação como Analista do Comportamento pela ABPMC.

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