A importância da prática da supervisão como forma de aperfeiçoamento profissional

Ao longo da graduação de Psicologia o estudante tem acesso a introdução de diferentes teorias e possibilidades de prática profissional. Ao optar pelo atendimento clínico, se vê diante do desafio de transpor conhecimentos teóricos para a prática, correlacionar conceitos a queixas trazidas pelo paciente, pensar em técnicas de intervenção e avaliar temas que necessitam de maior aprofundamento. Infelizmente, por muitas vezes essa transição da teoria para a prática se dá de forma muito abrupta e o estudante tem pouco tempo para lidar com esses desafios, podendo trazer à tona sentimentos de medo, frustração e ansiedade. E ainda assim, tais demandas por vezes não se mostram de forma tão nítida pois sua prática costuma ser acompanhada por supervisão de um professor experiente, que vai orientando seus próximos passos e tornando esse desafio menos intenso.

Porém, após a formatura, aquele que era apenas estudante é agora profissional e se vê diante do desafio de dar conta das demandas trazidas por seus pacientes. Mas esse desafio não precisa ou mesmo nem deveria ser feito sozinho de forma tão abrupta. A busca por supervisão traz a possibilidade de ampliação do entendimento do caso, bem como das etapas de intervenção. Através da identificação de informações relevantes e estabelecimento de relações entre elas, o terapeuta não se restringe ao entendimento de um caso especifico e amplia a completude das suas análises clinicas. Um exemplo disso, está no fato da supervisão ampliar o foco para além das respostas verbais explicitas e buscar as funções das mesmas, que podem variar em significado. Essa ordem cronológica faz muita diferença, uma vez que as pesquisas ao mostrarem a utilização de técnicas de forma não precisa, sem o contexto e no momento equivocado não são suficientes para a produção de êxito do processo terapêutico.

Outro ponto muito importante que a supervisão pode abarcar com mais clareza se refere a relação terapêutica estabelecida e seus efeitos para o andamento dos atendimentos. Afinal, um profissional ainda não experiente tem maior desafio em olhar não somente para as queixas do seu paciente, mas também para a emersão dos próprios sentimentos diante dele. Tais sentimentos podem ser dicas valiosas para o entendimento das dificuldades do terapeuta diante daquele caso (inseguranças, medos e dúvidas). Afinal, o terapeuta também teve ao longo da sua vida um histórico de reforçamentos e punições, e, portanto, não está imune a emersão de suas dificuldades. Por outro lado, tais sentimentos também podem trazer um melhor entendimento quanto ao paciente, afinal, os sentimentos despertados no terapeuta por aquele paciente são análogos ao que ele desperta em outras pessoas? Seriam os próprios sentimentos pistas para as inabilidades do paciente? Há quase 30 anos, pesquisadores já sinalizavam a importância do clinico entender e cuidar da relação estabelecida entre ele e seu paciente antes da aplicação da tecnologia comportamental.

A possibilidade de um maior aperfeiçoamento prévio a prática, através de supervisão ou mesmo modelagem comportamental através da exibição de vídeos de terapeutas mais experientes poderia tornar essa transição profissional mais tranquila. Além disso, faz-se necessária a divulgação da importância da supervisão após o término da graduação. (…)muitas vezes é exigido do terapeuta que ele seja uma pessoa isenta de sentimentos e preconceitos em relação aos clientes, aberta a qualquer problema que lhe apresente. Afinal, ele deve “entender” tudo em todos os significados que a palavra “entender” tem na língua portuguesa. Mas ele também é uma pessoa que tem sua história de reforçamento e, se quisermos analisar funcionalmente seu desempenho profissional, devemos também levar em conta seus sentimentos e pensamentos (Banaco, 1993, p.79)”.

 

Referências Bibliográficas

  • Banaco, R.A. (1993). O impacto dos atendimentos sobre a pessoa do terapeuta. Temas em Psicologia, 2, 71-79
  • De-Farias, A.K.C.R. e cols. (2010). Análise comportamental clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Porto Alegre: Artmed
  • Meyer, S.B., Villas-Bôas, A., Franceschini, A.C. T., Oshiro, C.K.B., Kameyama, M., Rossi, P.R., Mangabeira, V. (2015). Terapia analítico-comportamental: relato de casos e de analises. São Paulo: Paradigma Centro de ciências e tecnologia do comportamento
  • Zamignani, D.R. (2000). O caso clinico e a pessoa do terapeuta: desafios a sere, enfrentados. Em R.R. Kerbauy (Org.), Sobre o Comportamento e Cognição: Vol. 5. Psicologia comportamental e cognitiva: da reflexão teórica à diversidade da aplicação (pp. 229-237). Santo André: ESETec.

 

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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

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