As várias faces do amor: para quem posso mostrá-las?

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Desafio-nos a encontrar quem nunca tenha tentado definir ou compreender melhor o tema “amor” e diversos de seus desdobramentos: encontros e desencontros, afetos e desafetos, uniões e separações, expectativas e realidades… É um tema que não se esgota.

Vamos começar hoje relembrando uma definição de amor elaborada por Skinner (1978) : “O que é o amor senão outro nome para reforçamento positivo?”. Responder à consequências chamadas de reforços positivos significa que nossos comportamentos serão fortalecidos e mantidos se as consequências forem favoráveis, produzirem bem estar, satisfação para o indivíduo que se comporta. Então o amor é isso? Encontrarmos quem nos faz sentir bem?

Sim, porém isso não é tudo. As duas pessoas envolvidas em uma relação de amor desejam e esperam obter os seus reforços, e, assim, alcançar bem estar no relacionamento. Sendo assim, o desafio está lançado: como conseguir atender aos meus desejos e necessidades e, ao mesmo tempo, quem eu amo tenha atendidos também os seus próprios desejos e necessidades?

Voltemos mais uma vez a Skinner para responder à questão: nossos comportamentos são incorporados em nosso repertório comportamental por meio de três níveis de seleção: o nível filogenético (temos comportamentos comuns à nossa espécie),  o nível ontogenético (aprendemos com nossa história pessoal), e o nível cultural (aprendemos por meio das práticas culturais) (Catania, 1999).

Para a nossa vida em grupo, tornou-se importante que nossos comportamentos não sejam recompensados unicamente pelo que nos interessa em esfera pessoal: o bem estar, saúde, e qualidade de vida do outro passam a ser importantes para nós. É quando sentimos empatia, compaixão, desejo de que o outro seja feliz também, e não apenas nós mesmos.

É isso é fácil de se aprender? Façam suas apostas.

Segundo Guilhardi (2008): “é ingênuo supor que saber amar é intrínseco ao ser humano, e pensar assim reduz as relações de amor ao seu nível mais primitivo. A capacidade para amar e para desenvolver relações de amor, essa sim é intrínseca ao humano. Mas ter potencial não é o mesmo que desenvolver e atualizar tal potencial. Reconhecer que o repertório de amar – que inclui atos e sentimentos unidos de forma inseparável – é aprendido não empalidece seu valor e profundidade. Tal reconhecimento o eleva ao status de uma extraordinária aquisição humana. Persegui-la até alcançá-la plenamente torna o amor mais humano e alça aqueles que sabem amar ao patamar mais alto de desenvolvimento pessoal.”

Sabendo que aprendemos a amar, ficamos mais confiantes e esperançosos de construirmos relações reciprocamente reforçadoras. Porém, os questionamentos não se esgotam: qual é o nível de renúncia ou concessões a se fazer para que o outro obtenha satisfação e bem estar? Quais são os comportamentos que eu me sinto à vontade para apresentar, ainda que isso não seja compatível com os interesses e preferências de quem amo?

Começamos a perceber, então, que existem alguns outros comportamentos que, se bem desenvolvidos, podem nos ajudar na nossa jornada de amar e ser amado.

Conhecermos as nossas preferências, qualidades, bem como as nossas dificuldades e defeitos, nos ajuda a saber dos nossos limites e das nossas potencialidades. Quanto melhor me conheço, sei bem o que tenho para oferecer ao outro e o que posso aprender com o que ele sabe e me oferece.

Quanto melhor conheço das minhas dificuldades, aprendo que outras pessoas não podem nos forçar a estar em situações que nos oprimam, que nos descaracterizem, que nos submetam a um desequilíbrio.

Todas as relações que desenvolvemos irão nos expor a satisfações, mas também a frustrações, desafios, exigências e aprendizados. Isso é crescer e construir nossa jornada. Aprendermos a lidar também com as insatisfações é ingrediente indispensável.

Outro ingrediente que não pode faltar é a tolerância, a espera: nem tudo que obtemos nos vem prontamente, precisamos saber aguardar e guiar nossas escolhas pelo que iremos produzir num futuro (próximo ou mais distante).

Sendo assim, podemos pensar que temos várias faces do nosso amor para mostrar: o belo, as qualidades, os talentos. Esses merecem toda a admiração e valor cabíveis. Mas o amor envolve também os erros, as imperfeições. Envolve a espera, envolve reformular nossas expectativas e aprender a valorizar características que antes desdenhávamos ou ignorávamos.

São várias as faces do amor, e uma relação livre e sólida pode comportar todas elas.

Segundo Guilhardi (2008):  “Se puder escolher, se deixe amar por quem aprendeu a amar. Ao mesmo tempo, cuide do desenvolvimento de sua capacidade de amar… para sua realização e a de quem você ama.”

 

 

Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Tradução Deisy das Graças de Souza. Porto Alegre: Artmed.

Guilhardi, H. J. (2008). Amar se aprende? Como isso acontece? Jornal Sinal Verde, volume 23, 25/11/2008. Disponível em http://www.itcrcampinas.com.br/jornal/dialogo_edicao23.html

Skinner, B. F. (1978). Walden II: uma sociedade do futuro. Tradução Rachel Moreno e Nelson Raul Saraiva. São Paulo: Herder.

 

 

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Escrito por Marília Zampieri

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, Especialista em Psicologia Clínica Comportamental pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR-Campinas, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Atua como psicóloga clínica e supervisora de atendimentos a adultos em Campinas - SP e online, e como supervisora dos cursos de especialização do ITCR - Campinas.
Possui acreditação como Analista do Comportamento pela ABPMC.

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