Está nas livrarias um livro muito interessante, lançado em 2015, pela filósofa e educadora Tania Zagury. Autora de publicações anteriores sobre a relação entre pais e filhos e o estilo de educar, com esta sua mais recente obra, Tania Zagury propõe uma reflexão interessante: como está a qualidade relação entre filhos que foram criados com liberdade e poucos limites e seus pais? Um detalhe: ela analisa a relação entre filhos adultos e pais que estão chegando à terceira idade.
O tema me soou bem oportuno, quando a proposta de se examinar a relação entre pais e filhos vai além do período da infância dos filhos. Por que não pensar e descobrir o que aconteceu com um padrão de criação para um pouco mais além do que os primeiros anos de vida? Surge aí um primeiro conceito que nos remete à Análise do Comportamento: a importância de ficarmos sensíveis, ou seja, de nosso comportamento ser influenciado por consequências atrasadas.
As consequências imediatas, muitas vezes, são aquelas que mais nos saltam aos olhos e mais nos fazem pensar no que produzimos com as nossas ações: será que estamos proporcionando bem-estar aos nossos filhos? Acesso a lazer, educação de qualidade, um ambiente adequado para que viva uma infância feliz? Claro que tudo isso é importante, porém se os pais não se atentam para os padrões de comportamento e para os valores que estão sendo ensinados aos filhos, estes podem chegar à vida adulta – quando se espera que tantos comportamentos tenham sido desenvolvidos – sem tal preparo.
E não nos causa surpresa, pelo menos no que se refere à incidência de casos, que tantos jovens adultos não tenham “amadurecido”, ou seja, não estejam preparados para assumir a autonomia necessária para suas vidas: enfrentem dificuldades e consigam tolerá-las; eduquem seus próprios filhos estando atentos aos cidadãos que estão formando; conquistem sua independência financeira; entre outros aspectos. Surpresa talvez não seja o termo apropriado, mas pesar, este termo pode nomear bem o que estas constatações nos produzem.
O livro traz à tona outro aspecto interessante: a qualidade de vida dos pais, uma vez que já tenham cumprido sua função principal enquanto educadores de crianças e adolescentes. Nestas fases iniciais da vida, talvez seja mais fácil (ou tradicional) caracterizar papel dos pais: prover os filhos, dar-lhes acesso a educação e estimulação, entre outros. No entanto, em um contexto em que a expectativa de vida tem aumentado, como é que pais de filhos crescidos poderão conviver com a família que criaram?
E é neste ponto que o livro nos traz uma grande contribuição: refletir sobre o padrão de interação entre pais e filhos, mas desta vez considerando os dois lados envolvidos. Estamos mais acostumados a refletir sobre o impacto que o padrão de educação gera sobre os filhos. Mas desta vez a reflexão vai além: como os pais estão colhendo os frutos da educação que deram aos seus filhos? São pais que vivem longe ou perto de seus filhos? São pais que hoje já estão dispensados da função de prover financeiramente seus filhos ou são pais que contribuem significativamente para o sustento de seus filhos e netos? Eles sentem-se orgulhosos e gratificados com o árduo e longo trabalho desenvolvido?
Considerar o efeito mais distante de nossas práticas faz-se muito importante. É um alerta para que os jovens pais possam refletir e aprender com a experiência de gerações que têm variado suas formas de educar. Algumas destas práticas geram frutos saborosos, outras nem tanto.
Zagury, T. (2015). Filhos adultos mimados, pais negligenciados. Rio de Janeiro: Record.