Lidando com a ansiedade… Um caminho de autoconhecimento e aceitação

No dia a dia dos consultórios de Psicologia, os profissionais se deparam com as mais variadas queixas e demandas de pacientes, muitas das vezes diagnosticados mas perdidos sobre o que fazer para lidar melhor com aquele transtorno. Para exemplificar, podemos pensar em um paciente com queixa de ansiedade: sua queixa pode receber o diagnóstico de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), Transtorno do Pânico, Fobia Social, TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), dentre outros. Tais nomes dizem apenas a respeito da forma como os comportamentos ocorrem, sem descrever claramente as contingências, ou seja, os fatores ambientais que podem ser gatilho para sua ocorrência. Diante do diagnóstico, temos informações globais sobre os comportamentos que ocorrem, mas muito pouco a respeito daqueles comportamentos para cada indivíduo, e principalmente de quais variáveis ele é função. Algumas perguntas podem nos tirar do caráter topográfico, apenas focado na forma como tais comportamentos ocorrem, para uma visão funcional: Qual a frequência e intensidade que se dá? Sob que contextos? Como costuma reagir? Qual o histórico de sua ocorrência? Com essas perguntas, o cliente é levado a transferir o controle emocional para o ambiental, sua história individual e as relações que desenvolveu.

O paciente chega ao consultório em busca da minimização ou eliminação do seu sofrimento, que descreve em forma de emoções e de sua desregulação em lidar com eles. Afirmações do tipo: “quero parar de sentir isso”, “esse medo me sufoca”, “a ansiedade é maior do que eu”, são comuns em queixas de ansiedade. Como sentem o desconforto físico como algo tão intenso, a saída que parece fazer mais sentido é o da eliminação dessa experiência das suas vidas.

Mas então… isso seria eliminar uma emoção? Não sentir mais ansiedade? Sob nenhum contexto? Muitos pacientes podem responder: “Pelo menos acabar com essa ansiedade ruim. Se não dá para acabar, o que eu faço com isso que estou sentindo?”. Ansiedade ruim é descrita muitas vezes como sendo aquela que traz medo e sensações físicas muito fortes. E dá para imaginar a tensão, medo ou mesmo desespero de sentir o seu coração disparar, seu corpo tremer, ou ainda uma tontura aparentemente do nada. Somando tudo isso às ideias de perigo, como nos casos de pacientes com diagnostico de Transtorno do Pânico. Ou ainda à preocupação e tensão presentes ao longo de quase todo o tempo do seu dia, cogitando as mais variadas hipóteses catastróficas nos vários setores da sua vida, como nos casos de pacientes com TAG.

Para além do diagnóstico recebido, os pacientes tendem a descrever seu sofrimento a partir de sensações físicas e emocionais e, em geral com pouca percepção da inserção do contexto ambiental atual e de sua história de vida nesse cenário. Tal inversão fará toda a diferença na hora de lidar com as situações, pois como disse Skinner (1974, pág. 69): “(…) para investigar como uma situação parece a determinada pessoa, ou como ela a interpreta, ou que significado tem para ela, precisamos examinar-lhe o comportamento em relação a situação, inclusive suas descrições dela, e só podemos fazer isso em termos de suas histórias genética e ambiental”.

Para colaborar na construção de um novo caminho em relação a ansiedade por parte de seu paciente, o terapeuta comportamental traz o enfoque para uma abordagem gradativa e individualizada, permitindo-lhe maior autoconhecimento de suas reações, pensamentos e emoções. Isso fica claro a partir do entendimento do caráter evolutivo da ansiedade, como dito pelos autores Rangé e Borba (2008, pág. 37) “(…) a ansiedade existe essencialmente para a sua proteção, para permitir que você se defenda e não para prejudicá-lo (a)”.

Ou seja, toda a forma de se comportar se torna mais clara ao paciente a medida em que se desenvolve o autoconhecimento, permitindo uma maior previsibilidade sob seus comportamentos futuros. Podemos pensar como um estabelecimento de conexões em rede, onde várias mudanças vão ocorrendo simultaneamente, com aumento da percepção de si, dos acontecimentos ao redor e dessas relações.

Referências

Rangé, B. P., & Borba, A. G. (2008). Vencendo o Pânico: terapia integrativa para quem sofre e para quem trata o transtorno do pânico e a agorafobia. Rio de Janeiro: Cognitiva

Skinner, B. F. (1974). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.

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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

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